Rodolfo Mayer |
Rodolfo era paulistano, nascido em 1910, rádio-ator (fez centenas de rádio-novelas), ator de cinema (incluindo uma versão pré-histórica da "Escrava Isaura" de Bernardo Guimarães, em 1929), ator e diretor de teatro (começou na companhia de Procópio) e gozou sempre de grande reconhecimento por seu sólido talento.
Só tive a oportunidade de ver Rodolfo no fim de sua vida (morreu em 1985) em suas últimas novelas e em algumas participações no cinema, mas não me impressionei. Faço uma justa exceção ao estupendo Viagem aos seios de Duília, em que contracenou com Nathália Timberg e a saudosa Lícia Magna, mas em geral suas performances sempre me pareceram meio quadradas, próprias do ator que está acostumado com o palco e não consegue liberar seu talento em qualquer outro veículo, o que aliás acontecia também com Sérgio Cardoso. Considerava notável apenas sua dicção perfeita, tema de vários cursos que ministrou com Pedro Bloch. As pessoas que o assistiram ao vivo, seja em As Mãos de Eurídice ou em qualquer outro espetáculo, entretanto, eram rápidas em enaltecer seu extraordinário talento, o que chegava a me espantar.
Pra variar, eu estava muito enganado. Recentemente, tive acesso à gravação digitalizada de As Mãos de Eurídice, com Rodolfo Mayer, lançada em compacto duplo pela Festa em 1956. Que maravilha!
E como é lamentável que as pessoas da minha geração só conheçam Rodolfo pelas novelas insípidas que fez nas décadas de 70 e 80! Rodolfo é um verdadeiro gênio! A gravação não é nenhuma Brastemp e é frustrante apenas ouví-lo sem poder ver todo o leque de expressões e emoções que acompanhou as centenas de modulações de voz com que ele vai destrinchando o texto de Bloch. Mas sua interpretação é envolvente, empolgante, intensa, comovente e nos põe em contato direto com o leão que esse homem elegante e meigo se tornava no palco.
Paulo Autran |
Mayer, Procópio, Lourdes Mayer (esposa de Rodolfo e irmã de Zilka Salaberry) e Pedro Bloch |
Pedro Bloch com As Mãos de Eurídice e Guilherme Figueiredo com A Raposa e as uvas, aliás, são os autores brasileiros mais traduzidos e apresentados no exterior em todos os tempos.
Pedro Bloch |
Em Mãos de Eurídice não gostaria de mexer. Porque, apesar dos defeitos dela, da pseudo-cultura, do tipo que vomita uma cultura artificial e primária, porque ele é assim, é um homem comum, dono de uma cultura média e banalizado pela vida, apesar disso tudo não mexeria. (...) Eu gostava do sucesso. Hoje não agüento mais, compreende? Eu gostava, achava a peça realmente muito boa, as reações eram tremendas. Ficou provado na crítica internacional que ela foi precursora de uma série de coisas. Novidade em teatro não existe, como não existe novidade em nada. Mas foi precursora da agressão ao público, da participação do público, do indivíduo colocando-se na platéia.
Dito isto, trago com a maior alegria para vocês o mestre Rodolfo Mayer, mais de meio século depois de gravado este compacto duplo, em gravação histórica (e inédita em cd) de As Mãos de Eurídice, de Pedro Bloch. Deleitem-se, clicando AQUI (link renovado).
adorei!! já estou ouvindo!!!
ResponderExcluirConsegui um LP (vinil) e já o digitalizei.Assisti, quando criança, aqui no CEARÁ o meu primeiro espetáculo "As mãos de Eurídice", com... não sei que ator, mas desconfio que seria o próprio Rodolfo Mayer. Entrei no teatro/auditório pensando em ver um espetáculo de mágica (pela evidência das mãos)... Felizmente não era. A mágica até hoje é a que me transformei em ator de teatro a partir daquele instante. Hoje, já estou ensaiando o monólogo, meu primeiro! Quero estrear ainda este ano e pretendo apresentá-lo até quando der!
ResponderExcluirNão consegui ouvir... Mas gostaria muito... Tenho outra opção?
ResponderExcluirAbraço
manoellima
Manoel, tente de novo. O link de download foi renovado. Abraço
ExcluirParabéns pelo Blog Bernardo Schmidt. Estou ensaiando As Mãos de Eurídice e fazendo pesquisa cheguei até o seu Blog e adorei. Belíssimo e profissional trabalho. Muito bom mesmo!
ResponderExcluirManoel Lima