sexta-feira, 8 de maio de 2020

Vergonha Alheia


Com Regina em 1992, em seu camarim
do inesquecível  "A Vida é Sonho"
Triste. Admiro Regina desde que sou criança. Considero-a uma atriz magnífica. A defendi no famigerado episódio em que ela dizia ter "medo" do PT e os lulopetistas a pegaram para Cristo. Sempre achei Regina uma opinante simplória e bem-intencionada, em questões políticas. Uma pessoa boa, mas sem qualquer conhecimento de nossa situação ou de nossa história, e que aparecia de tempos em tempos para dizer uma abobrinha qualquer que era absorvida pelo carinho que nutrimos por sua carreira pregressa.

Encontrei-a pessoalmente pela última vez no Black-Tie de Dan Rosseto no MUBE em 2011 e a enchi de abraços. Não necessariamente concordei com algumas de suas posições políticas ou ideológicas ao longo desta última década, mas não via nenhum inconveniente nela escolher quem bem quisesse, pelo voto. Jamais a hostilizaria, como sempre faz o PT com aqueles que não rezam pela cartilha do presidiário.

Quando ela aceitou o convite de Bolso, fiquei apreensivo. Governo desmoralizado, desastroso, um verdadeiro rio de piranha. Mas Moro estava lá, o que, a meu ver, ainda emprestava a esse governo de merda uma última centelha de respeitabilidade. E desejei sorte à Regina, não sabendo o que esperar.

E o resultado foi o pior possível. Lembro-me de Fernandona recusando o convite de Sarney para o ministério da Cultura, explicando em carta polidíssima que aquela não era sua praia. Como seria bom que Regina tivesse feito o mesmo. Que tivesse explicado que é atriz há quase 60 anos e que não tem a mais ínfima vocação para a política. Que fez teatro e TV e não espraiou seus conhecimentos pelas centenas de outras manifestações culturais do nosso povo. Que não sabe gerir uma secretaria, não tem noção de como lidar com subordinados e colegas que vão depender de suas atitudes. Que - acostumada com as palmas merecidas de seu público - não sabe lidar com a crítica, com a insatisfação e com os protestos daqueles que são atingidos por sua incompetência. Que não tem estofo intelectual ou emocional para ocupar uma secretaria com peso de ministério.

Durante a pior crise de saúde que já atravessamos, em que a área coberta por sua secretaria é uma das mais castigadas, além de perdermos luminares de nossa cultura diariamente, Regina sumiu. Não deu um pio. Ninguém podia encontrá-la. Esperávamos que estivesse em meio a um bom freio de arrumação que a fizesse compreender o erro palmar que cometeu aceitando o convite de Bolso, e que reapareceria para pedir desculpas e se demitir. Ao invés disso ela reapareceu como se nada tivesse acontecido, não se desculpou, não se demitiu, não fez um único comentário produtivo e ainda protagonizou um dos mais bizarros espetáculos de vergonha alheia que já tivemos o azar de ver pela internet.

Vê-la esbravejando como uma madame ultrajada, uma legítima aprendiz de Damares, depois do video de Maitê Proença (que, cá entre nós, não representa nada para nossa cultura, foi a canastrona de sempre lendo sua notinha e entrou nessa como Pilatos no Credo), gesticulando como uma doida, cantando o hino da copa de 70, tão medularmente ligado ao governo Médici, minimizando torturas e assassinatos durante a ditadura, não tendo nenhuma empatia pelo ser humano e ignorando a liturgia do cargo que ocupa, falando sem qualquer compostura ou educação por cima dos apresentadores, foi o fim de sua carreira. Regina ultrapassou os limites do ridículo e alcançou o nível subterrâneo desse presidente de fancaria que temos hoje. Igualou-se a ele.

Não tenho mais nada a dizer. As atitudes de Regina, e suas imagens falam por si só.


Vi com otimismo a entrada de Moro no governo. E vi um homem honrado se demitindo, depois de um ano de trabalho honesto.

Vi com otimismo a entrada de Regina no governo. E vejo com engulhos sua permanência inútil, ociosa e deletéria.
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