quinta-feira, 25 de maio de 2017

Minestrone Cultural IX


FRED E RITA



Houve, sim, muitas mulheres como Gilda. Em cada esquina de Hollywood havia Gildas para dar e vender (pon intended). O que nunca houve, mesmo, foi uma mulher tão maravilhosa e cheia de talento quanto Margarita Cansino, cujo nome artístico que a eternizou pelo mundo era Rita Hayworth.

Nesta cena ela está em início de carreira, dançando com ninguém menos do que Fred Astaire.
Rita podia.

Que mulher! (21/12/2016)

ELEANOR E FRED



Fred Astaire teve várias parceiras de dança, sendo Ginger Rogers a mais famosa. Rita Hayworth foi - anos-luz distante das outras - a mais linda.

A que melhor sapateava, entretanto, é a menos lembrada, hoje: Eleanor Powell, a estrela de três "Broadway Melody" (1936/1938/1940). O que se diz dela é que a colocavam sempre em números solo porque simplesmente não havia quem a acompanhasse, em termos de talento e destreza, no sapateado. E ela era, realmente, genial, além de linda.

O diretor Norman Taurog acabou com isso em 1940, quando escalou Fred Astaire (que terminara recentemente vitoriosa seqüência de filmes com Ginger) para fazer par com Powell no "Broadway Melody of 1940". A trilha sonora é de Cole Porter e nesse número eles dançam ao som de "Beguin the Beguine".

Os dois eram fenômenos.

VEJAM ATÉ O FIM. Logo depois do número há um encontro lendário entre os dois, 41 anos depois, que me deixou em lágrimas. (28/12/2016)

ELEANOR POWELL



Eleanor Powell (1912/1982) recebeu em vida, com toda a justiça e merecimento, o título de "The Queen of Tap". Dançarina primorosa, lindíssima, ela foi a maior estrela dos musicais na década de 30.

Aqui vai Eleanor no número final de "The Broadway Melody of 1936", filmado em 1935. Seu sorrisão na entrada, a alegria do jovem Robert Taylor (que no filme é um diretor da Broadway que não lhe dá oportunidade em seu musical; ela então se infiltra no elenco, disfarçada de uma artista francesa e esse é o momento em que ele descobre que "Madame Arlette" é, na verdade, Eleanor), a maneira como ela desafia os dançarinos no centro daquela arena, para se jogar rodando como um pião sobre eles, tudo é pura elegância e talento. Uma verdadeira jóia.

O público ficou tão maravilhado com Eleanor que ela filmou logo a seguir "Born to Dance", com números ainda mais arrojados e músicas exclusivas de Cole Porter.

Isso foi há 82 anos. Se hoje só o que os americanos conseguem é botar dois pernas de pau para fazer uma MERDA como La la Land, é certo dizer que INVOLUÍMOS. (21/05/2017)

PARA ENCERRAR 2016



Para encerrar 2016, meu amado Guilherme Arantes, que este ano completou quatro décadas de uma carreira magnífica, exemplar, cantando "A Cidade e a Neblina", de 1976.

Meu irmão mais velho comprou o LP (aquele em cuja capa tem um piano no meio da rua), e com apenas quatro anos, me tornei eternamente fã. (31/12/2016)

DAS KABINETT

Conrad Veidt, em "Das Kabinett"

Assisti, finalmente, preenchendo lacuna imperdoável em minha lista de filmes imperdíveis de todos os tempos. O problema é o que escrever sobre aquilo que é tema de dezenas de livros e teses, e tem sido decantado, analisado, debatido e estudado pelos últimos 90 anos?

Não sucumbirei a tal temeridade. Só digo uma coisa, e sei que está longe de ser original, mas é a pura verdade: não falemos de expressionismo alemão ou do absoluto pioneirismo em filmes de terror; se o próprio modernismo que varreu o mundo inteiro na década de 20 precisasse de uma única representação, seria O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, com Werner Krauss e o maravilhoso Conrad Veidt.

Mais um obrigado a você, Dih. (08/01/2017)

OBAMA



Que sujeito fantástico. Bem humorado, descontraído, divertido, vivo. Além de um presidente moderno, arejado, inteligente, tolerante, sempre pronto para o diálogo. Pegou os Estados Unidos em escombros e o entrega agora prosperando, com uma das menores taxas de desemprego de todos os tempos. Matou Bin Laden. Diminuiu de 779 para 55 o número de presos naquele abjeto campo de concentração chamado Guantânamo. Criou um sistema de saúde que não é perfeito, mas é um ótimo começo. Ressuscitou a indústria automobilística. Parou de chutar aquele cachorro morto que é Cuba. Limpou, enfim, toda a merda que seu antecessor deixou dentro e fora do país. Teve erros. Mas seus acertos são mil vezes superiores. Mil vezes mais importantes.

Ao contrário desse energúmeno que está entrando, Obama não teve inimigos. Porque tem caráter e conquista as pessoas. É lendária a mistura de savoir-faire e fair play que marcou sua relação com o líder adversário - e depois AMIGO - John Boehner. Governou sem escândalos, sem fofocas, sem turbulências. Um exemplo para essa caterva em que consiste nossa classe política.

E como se não bastasse, forma uma autêntico casal casado com sua mulher, coisa raríssima na política de qualquer país.

Obama foi um presidente extraordinário, de quem os americanos podem se orgulhar. (11/01/2017)

TBT 1994


Encontro com o guitarrista do Kiss, o querido Bruce Kulick, no camarim do Programa Livre, em agosto de 94. Bruce adorou o Brasil. Em determinado momento de nossa rápida prosa ele apontou para a TV do camarim e perguntou quem era aquela loirinha bonita apresentando um programa. Era Angélica. (12/01/2017)

TBT 2009


Depois do lançamento de "Honoráveis Bandidos", de Palmério Dória e Mylton Severiano. O local eu esqueci... era na Vilaboim... na foto estão o Myltainho (que se foi em 2014) e o grande Paulo Caruso. (26/01/2017)

TBT 1993

Helena Ranaldi, eu e Walter Portella, 1993

Os anos em que estudei no Mackenzie coincidiram, por sorte, com um período de especial inspiração para Antunes Filho. Em 1993 ele remontou "Vereda da Salvação", de Jorge Andrade, que já encenara na década de 60 com Raul Cortez e Lélia Abramo. Desta vez os protagonistas foram os mestres Luis Melo e Laura Cardoso. Um espetáculo extraordinário.

Fui cumprimentar os atores depois da peça (que assisti umas quatro vezes) e na foto vemos Walter Portella, que trabalhou durante anos com Antunes (ainda paramentado com os andrajos que eram seu figurino em "Vereda"), e Helena Ranaldi, aos 27 anos, à época ainda despontando como a excelente atriz que se tornou pouco depois e que é até hoje.

O querido Portella, consagrado e respeitado por inúmeros trabalhos no teatro e no cinema, se foi em dezembro de 2015, aos 79 anos. (06/04/2017)

ANN DVORAK



Isso foi há 85 anos!... e se uma mulher me jogasse esse xaveco hoje eu teria que ser retirado do local com uma concha de sopa.

Magnífica, irresistível Ann Dvorak. (14/03/2017)

SPEAKING CONFIDENTIALLY (1935)



Comenta-se que Alice Faye (1915/1998) teria adotado o look "platinum blonde" na Paramount para rivalizar com a estrela da MGM, Jean Harlow. Não há comparação, em minha modesta opinião. Harlow era bonita, tinha uma sexualidade brejeira, adolescente e era boa atriz (para a época), mas Alice Faye era infinitamente mais atraente. E versátil. Foi talvez a primeira estrela do cinema musical norte-americano, pré-Fred Astaire e Ginger Rogers.

Alice, no início dos anos 30
Seu início de carreira foi nos famosos "Escândalos" de George White (musicais da Broadway adaptados toscamente para o cinema). Sua voz de contralto não tinha estofo para grandes vôos mas ela era tão charmosa, tão simples, tão espontânea e tão adorável que transformava qualquer canção em sucesso. 

Era glamourosa sem fazer o mais ínfimo esforço. Era a quintessência da beleza "cool" e "aloof". Na década de 40 deu-se ao luxo de abandonar o look "platinum", deixou as sobrancelhas crescerem naturalmente e alcançou imenso sucesso em um ciclo inteiramente diferente de atuação, misturando musicais com grandes papéis dramáticos.

No fim da década, julgando que já fizera tudo que queria, largou o cinema com a maior tranqüilidade e foi viver sua vida longe da futilidade de Hollywood. Uma mulher fantástica.

No clipe ela canta "Speaking Confidentially" (Jimmy McHugh/Dorothy Fields) acompanhada de Frances Langford e Patsy Kelly no filme "Every Night at Eight", de 1935, dirigido por Raoul Walsh. Faye tinha 20 anos. (29/03/2017)

YOU'VE NEVER BEEN BLUE (1935)



O filme "Every Night at Eight", dirigido por Raoul Walsh em 1935 é um musical com canções originais de Jimmy McHugh e Dorothy Fields, estrelado por George Raft e Alice Faye. Como não cantava, George interpretou o leader de uma big band em busca de reconhecimento e fama, e as músicas ficam por conta do trio de cantoras que ele conhece em um programa radiofônico de calouros: Faye, Patsy Kelly e, estreando no cinema, Frances Langford.

Patsy Kelly, Alice Faye, Frances e George Raft

Embora a estrela fosse Faye, que canta lindamente "Speaking Confidentially" e "I feel a song coming on", Frances (1913/2005) era uma cantora superior e nesse modesto e simpático musical ela acabou lançando dois grandes sucessos do cancioneiro norte-americano: "Then you've never been blue", de Ted Fio Rito e Joe Young (com alguns versos adicionados pela própria Frances) e "I'm in the mood for love" de McHugh e Fields.

No video, Langford canta "Then you've never been blue", assistida por Raft, Faye e Kelly. (02/04/2017)

80 ANOS DE RENATO BORGHI

O Facebook é pequeno para falar de meu carinho, minha admiração e minha amizade com Renato Borghi. Poderia falar de seus inúmeros papéis extraordinários no Oficina, sua própria companhia com Ester Góes, seus trabalhos com Guarnieri e Othon Bastos, as peças nas quais eu mesmo tive o privilégio de vê-lo no palco, nestes últimos 25 anos e dezenas de outras coisas.

Hoje, dia em que ele completa 80 anos, direi apenas que ele é um titã de nosso teatro e de nossa arte. Renato tem um talento versátil e multifacetado. Mistura performances antológicas a direções precisas e uma dramaturgia que só peca por não ser mais numerosa. E faz tudo com a paixão e a excelência que vem com seus 60 anos de teatro.

Um de tantos encontros com Renato, em 1998, depois de assistir "Tio Vânia" no TBC, tendo à nossa direita o querido e saudoso Abrahão Farc, que na peça interpretava o velho Telegin

Outra coisa que não me furto de ressaltar é a disponibilidade de Renato. Sendo figura das mais respeitadas e consagradas, não foge de entrevistas, não foge do carinho dos fãs, não se acastela em sua grandeza e em sua fama. Trabalha, sai, conversa, compartilha, troca, se diverte, ensina. É generoso. É culto e inteligente. Discorre, narra e debate de maneira bem-humorada e edificante sobre os mais variados assuntos. Sua algibeira de recordações é das mais ricas e bem fornidas. Quanto não aprendi com ele nas coxias da vida, em jantares, festas, ou mesmo bebendo antes dele entrar para fazer uma das bruxas no Macbeth de Élcio Seixas?

Um grande beijo, Renato! (30/03/2017)

GIMBA

Meu presente de PESACH para a única pessoa que vai poder explicar estas fotos com os detalhes que elas merecem: Cecilia Thompson.

Cada foto traz um comentário de Cecilia, na época esposa de Guarnieri: (15/04/2017)


O interior do barraco de Guiô (Maria, mulher de Gimba). Exterior simbólico, interior realista, cada objeto.... pena que não guardei a frigideira.... tinha também uma flâmula do Botafogo, que ainda tenho...e me lembro de cada frase e cada pausa dessa peça linda, um misto de peça social e musical brasileiro...


O cenário era um assombro.... um grande pedaço de favela, em perspectiva... quando a cortina abria, amanhecia e as luzinhas dos barracos iam se acendendo. Como famoso crítico comentou, "uma peça que começa a ser aplaudida já quando o pano se abre...". Foi um fenômeno: um cenário esplêndido feito só de tábuas, madeira usada e talento, do querido amigo Tulio Costa Giovangigli. Figurinos de sua mulher, Malgari Costa. Na vagem para a Europa, a tripulação do navio Louis Lumière, em que viajamos, ficou pasma com aquele monte de madeira velha que Sandro fez questão de embarcar, para manter o cenário original, "que dera tanta sorte". Uma despesa absurda e romântica.... outros tempos... Foi para Lisboa, Roma e Paris....


Elenco secundário negro de verdade - que pessoal talentoso, o da "escola de samba". Glorinha Moreira está bem no meio). O de branco era o Assis? Todos super amigos!


O "mãozinha" não era exatamente um tipo de beleza... lembro até do cheiro da camisa (horror quando demoravam para lavar na segunda-feira!), listadinha de uma mistura de vermelho e rosa... Incrivel pensar que o moço tinha apena 24 anos. As visitas aos camarins eram engraçadas, um elenco de 50 pessoas, sempre tinha novidades... e muita amizade!


Celeste Lima - pequenina - fazia o Chiquinho, um garoto de 8 anos, cujo ídolo era Gimba - e que lhe segue os passos. Uma história isolada, em 1959 - hoje, o dia-a-dia das comunidades - então favelas, romantizadas apesar de tudo. E o merchand do guaraná... Na europa, quem fez o Chiquinho, já mais velho, foi o próprio Guarnieri. (Pergunto quem teria feito o mãozinha lá, então. Ela responde:)

Achei no programa de PARIS - não tenho o de Lisboa, quem sabe Sandro usou os do Brasil? Não lembro... Mãozinha era uma pessoa chamada 'Rubens Teixeira' - por onde andará Rubens Teixeira? And surprise - o médico, aqui feito por Paulo Pinheiro, foi feito por... Flávio Rangel! Pena que não tenho uma foto dessa participação única do nosso amado diretor-irmão-amigo de fé-camarada, inesquecivel... No programa, ANGELO (Benjamin Cattan) e SANTANA (até o JOSÉ PUPE, maquinista, entrou de ator...) foram traduzidos como "L'Ange" et "La Sainte". E a gente só chamava o Pupe - maquinista - de 'santinha'... As lembranças vão voltando... Encore une fois, Bernard, un grand merci!


Maria Guiô - linda no seu 'camarim de estrela' - era tudo tão simples - hoje daria muito o que falar, pintar os atores principais, brancos, de negro, para repreentar os negros... Negros mesmo, só os queridos amigos da "escola de samba" - e minha amiga-irmã (que já se foi) Glorinha Moreira, namorada do Flávio Rangel. Maria, loiríssima, na última visita que lhe fiz em Paraty. Uma grande amiga, foi a primeira visita que o Flavinho recebeu quando nasceu, às 6 da manhã... e ela tinha ensaiado aé às 5 da madrugada, para a estréia, em Lisboa, no dia seguinte. Uma delicadeza só. 



Guiô sai de casa, quando fica sabendo que seu GIMBA voltou... (a escola de samba funcionava como um coro grego).


No final do espetáculo, Sandro lhe arrancava a peruca, mostrando que a 'negra sestrosa' era uma loira... e as palmas redobravam. Acho que hoje daria manifestos, protestos, passeatas... Ainda não era tempo de Taís e Lázaro, geniais...


KAZE TACHINU (2013)


"Vidas ao Vento" em português. Estava "economizando" o filme mais recente de Miyasaki - e também o último, segundo o próprio - porque me dói saber que não terei mais material inédito dele para assistir. Agora só me faltam as duas partes da série de TV "Rupan Sansei" (1971/1978) e a continuação de "Mirai Shônen Konan" (1984), que ainda não encontrei para baixar.

Há duas observações fundamentais em Kaze Tachinu: primeiro, ele se entrega de corpo e alma à aviação, que parece ser o grande amor de sua vida. Ele tratou do assunto em "O Castelo no Céu" (1986) e "O Castelo Animado" (2004) e dedicou a ele todo o pano de fundo de "Porco Rosso" (1992). Em Kaze Tachinu ele explora o tema a fundo, sem rodeios e sem desculpas, acompanhando a aviação de guerra japonesa da primeira à segunda guerra através dos olhos do jovem engenheiro Jiro Horikoshi.

Segundo, é o filme mais adulto de Miyasaki. Não me abalanço a dizer "obra da maturidade" e outros clichês porque sinceramente não vejo dessa forma. Seria como dizer que ele perdeu "the edge", ou se tornou lento e contemplativo, e tal não ocorreu. É apenas trabalho que não contém as variadas facetas de fantasia e sobrenatural que o grande criador investigou e decantou por toda sua obra. Há o fascínio pela aviação, mas ele é concreto e realista, há seqüências oníricas mas sem o elemento lúdico e fantástico, e há o romance, esse sim, maduro e sofrido, longe do amor passional e idílico com o qual nos acostumamos em seus filmes.

É um belo filme. Não alcança - talvez propositalmente - os píncaros de genialidade de "A Viagem de Chihiro" ou "Nausicaä do Vale do Vento", mas é um trabalho superior, como tudo aquilo que vem de Miyasaki. (29/01/2017)

PERFECT UNDERSTANDING (1933)

Swanson e Olivier

Que compensação magnífica. Em 1933 Greta Garbo exigiu a contratação de Laurence Olivier para o protagonista masculino de "Queen Christina", estrelado por ela. Os ensaios não correram como ela esperava; embora talentoso, Olivier era jovem e inexperiente no cinema, mídia da qual Garbo era a estrela maior. Ele foi dispensado de seu contrato e em seu lugar entrou o eterno amante de Garbo, o ator John Gilbert. Anos depois, quando Olivier tornou-se um dos melhores e mais prestigiados atores do mundo, Garbo enviou-lhe um pedido de desculpas pelo ocorrido. Olivier respondeu que não havia o que desculpar porque ela estava certa; ele era de fato inexperiente demais e ainda não estava preparado para dividir o ecrã com uma estrela da estatura de Garbo.

Entretanto, quem não pensou duas vezes antes de contratá-lo, no mesmo ano em que foi dispensado de Queen Christina, foi a antípoda de Garbo e grande rainha do cinema mudo, Gloria Swanson. E juntos eles protagonizaram a despretensiosa e divertida comédia romântica "Perfect Understanding", onde podemos apreciar a grande Swanson espalhando talento e charme, aos 34 anos, para o garoto Olivier, de 26 (ele com as sobrancelhas cuidadosamente delineadas, como mandava o costume bizarro da época). De quebra há o prêmio de ouvir Swanson cantando na cena inicial, com linda voz, "I Love You So Much That I Hate You". Um verdadeiro deleite. (04/05/2017)

CARLITOS


Em março de 1919, no Cine Palais, do Rio, houve uma provável reprise de "Dough and Dynamite", comédia de 1914 com Chaplin e Chester Conklin, das mais de 30 que Chaplin protagonizou na Keystone, sob a batuta de Mack Sennet, somente naquele ano.

O anúncio do jornal A NOITE faz crer que se trata de obra-prima e que é o próprio Chaplin que convida o público carioca ao Palais. E o filme ganhou um título que hoje faria franzir cenhos: "Carlitos na Rosca".

Aqui vão o anúncio e um poster que me parece ser da época, embora eu não compreenda o porquê da "Mutual" ser citada, já que se tratava de companhia concorrente, onde Chaplin realizou belíssimos trabalhos, a partir de 1916. (05/05/2017)

THE HOLLYWOOD REVUE (1929)

Pegos de surpresa e apavorados com os filmes sonoros, os executivos da MGM apostaram nos musicais e lançaram "The Broadway Melody" em junho de 1929, contando com o talento de artistas de teatro como Charles King, e as músicas magníficas de Nacio Herb Brown e Arthur Freed. Foi a maior bilheteria de 1929, ganhou o Oscar de melhor filme e jogou nas nuvens as carreiras de King, Bessie Love, Anita Page e os dois compositores mencionados.

De quebra, no fim do ano a MGM resolveu espremer um pouco o sucesso do filme e lançou "The Hollywood Revue". Ao contrário de "Broadway Melody", que tinha enredo, roteiro e trilha sonora, este outro é única e exclusivamente um espetáculo de vaudeville em que as mais díspares atrações artísticas se sucedem. Filmado em um teatro e apresentado pelo comediante Jack Benny e pelo ator dramático Conrad Nagel, trata-se, como o título indica, de um desfile das maiores estrelas da MGM, sendo que há dois ou três sketches no primitivo technicolor.

Buster Keaton, em
"The Hollywood Revue"
Feito às pressas para não perder o hype de "Broadway Melody", o filme é tosco, os números musicais, de canto, dança, comédia e etc. são fraquíssimos, não há público no teatro então as piadas (algumas boas, outras terríveis) de Benny caem no mais sepulcral silêncio, mas o elenco é tão espetacular que não há como não agradar. Em que outro filme veríamos Joan Crawford com apenas 23 anos, cantando, para em seguida ver Laurel e Hardy contracenando com Jack Benny, Buster Keaton dançando, vestido de mulher, Conrad Nagel cantando para a lindíssima Anita Page e fazendo ciúmes a Charles King, Marie Dressler e Bessie Love em um sketch musical idiota, e Cliff Edwards tocando seu ukelele e protagonizando o número principal, em que é lançada oficialmente a música "Singing in the Rain", que tanto sucesso faria vinte e dois anos depois, nas mãos de Gene Kelly e Stanley Donen?

Meu momento favorito, entretanto, foi a sátira de Romeu e Julieta com Norma Shearer e John Gilbert, em technicolor (os dois já haviam trabalhado juntos, notadamente no "HE who gets slapped", com Lon Chaney, mas esta foi a única vez em que ambos apareceram a cores em suas carreiras), dirigidos por Lionel Barrymore. Apresentada a cena do balcão de forma melosa e grandiloqüente, eles recebem uma mensagem do estúdio dizendo que a mesma cena deverá ser modernizada para agradar o público mais jovem. Eles então repetem a cena utilizando as hoje risíveis gírias de 1929.

Norma e John na paródia de Romeu e Julieta

Os dois eram estrelas consumadas do cinema mudo. A carreira de Shearer seguiu em rota ascendente e ela acabou interpretando Julieta de novo (em grande performance) na versão de 1936, tendo Leslie Howard como Romeu. O mesmo não sucedeu ao grande Gilbert. Aquela foi a primeira vez em que sua voz foi ouvida e diz a lenda que a reação do público foi a pior possível; Gilbert era o galã de Garbo, um ídolo inconteste entre as mulheres, mas sua voz infelizmente era fina e anasalada, e sua carreira entrou em declínio a partir de então.

Para cinéfilos e "die-hard fans" de musicais. (10/05/2017)

PRINCESA LÉIA E REI OLIVIER

Olivier e Carrie em "Come Back, Little Sheba"

Amanhã (25 de maio) será o aniversário de 40 anos da estréia de "Guerra nas Estrelas" nos cinemas norte-americanos. O filme catapultou Carrie Fischer - a jovem filha do cantor Eddie Fischer e da atriz Debbie Reynolds - ao status de atriz do primeiro time hollywoodiano.

Olivier e Joan Woodward em ensaios
de "Come Back Little Sheba"
Curiosamente, seu primeiríssimo trabalho pós-"Guerra", ainda no mesmo ano, jogou-a do espaço para os Estados Unidos nos anos 40: Marie, a garota espevitada e moderna de "Come Back, Little Sheba", que a Granada TV produziu dentro da magnífica série "Laurence Olivier presents".

Carrie, aos 21 anos, começara sua carreira roçando ombros com membros da realeza teatral britânica como Alec Guiness e Peter Cushing no filme de George Lucas, e agora contracenava com o próprio rei de todos eles, Laurence Olivier, que interpretou o sofrido alcoólatra Doc Delaney na peça de William Inge, premiadíssima no ano de seu lançamento, 1949.

"Come Back, Little Sheba", com Olivier, Carrie e Joan Woodward, foi ao ar em 31 de dezembro de 1977 nos EUA, e na TV inglesa no dia seguinte. Um belo trabalho dos três. (24/05/2017)


NECROLÓGIOS


GEORGE MICHAEL



Muito triste pela morte de George Michael. Seus sucessos com o Wham e solo embalaram a adolescência de toda aquela geração. Ele era talentosíssimo e tinha uma linda relação com o Brasil. Nunca esqueço a alegria com que fez seu show em 91, no segundo Rock in Rio. Amava Tom Jobim. Chegou a dedicar um de seus álbuns a ele.

Deixo "Freedom" para relembrá-lo. Ele andava testando os limites de sua fama e fez questão de não aparecer nem na capa do disco e nem no clipe. Não precisava, de tão excelente que é a música. Também não atrapalhava ver aquele time de supermodelos. Meu amor por Christy Turlington era profundo, na época.

Saudade. (26/12/2016)

JOHN HURT

O "Bobo" de Hurt e o Lear de Olivier

Acabo de saber, com a maior tristeza, que o maravilhoso John Hurt se foi, aos 77 anos. Em tudo o que fez, desde o "Homem Elefante" até "Alien", passando por "Harry Potter", "A Man for all seasons", "Contact", "Midnight Express", "1984", e nestas fotos, como um Bobo perfeito para o "Lear" de Olivier, ele depositou seu imenso talento e a dramaticidade inigualável que trazia nos olhos.

Assisti-lo foi um sempre um prazer.
Um ator genial. (27/01/2017)

RICKLES (1926/2017)

Os maiores roast masters de todos os tempos foram Carson e Dean Martin, mas a verdade é que nem o Friars e nem o programa de Dean teriam qualquer graça se não fosse pelo melhor roaster de todos, Don Rickles, que morreu no dia 6, aos 90 anos.

Ele começou como um simples comediante e certa noite - segundo seu próprio depoimento - de frente para um público que não ria de suas piadas, resolveu tirar um sarro das pessoas na platéia e reverteu o silêncio em sonoro gargalheiro. O expediente não era original ou desconhecido, mas a reação que obteve foi tal que decidiu continuar e aperfeiçoar o estilo.

Em seguida vieram Frank Sinatra e Dean Martin e se tornaram seus padrinhos artísticos. O resto é história. Pelos últimos 50 anos, Rickles "fritou" desde artistas até presidentes da República. Sabia fazê-lo como ninguém. Não se intimidava diante de comediantes mais velhos e experientes, e nem de políticos cheios de prestígio. Era uma época pré-politicamente correto e ele fazia piadas racistas diante de negros, que eram na verdade seus grandes amigos. Fazia o mesmo com os judeus, sendo ele figura das mais proeminentes do judaísmo, no meio artístico. E o mesmo com os latinos, os poloneses, sua mãe, sua esposa e quem mais estivesse por perto. Seu valor estava justamente na coragem de insultar e ofender (com humor, evidentemente) na maior seriedade, mas sem a mínima maldade. Como disse Chris Rock, há alguns anos, sobre ele, "é muito ofensivo, mas não se você está dentro da comédia".

Com Carson, nos anos 60
Rickles era um gênio absoluto do improviso. Qualquer frase, pessoa ou provocação que lhe jogassem voltava com um tabefe humorístico multiplicado por dez. Acompanhei sua carreira desde que o assisti no programa de Letterman pela primeira vez, no início da década de 90, e nunca o vi em maus lençóis diante de um improviso. Nunca vi alguém tão rápido. Às vezes mais agressivo, às vezes menos, mas sempre engraçadíssimo.

Essa rapidez de raciocínio, o desafio de responder imediatamente, de levar o público ao riso pela surpresa, pelo inesperado e por uma vontade manifesta de vê-lo em roasts junto a titãs como Carson, Milton Berle, Foster Brooks, Rich Little, Nipsey Russell e poucos outros, levaram-no ao olimpo da comédia, mas, paradoxalmente, acabaram por sabotar sua carreira no cinema e em seriados de TV. Ele fez alguns filmes, tentou três ou quatro seriados, era um ótimo ator e um bom cantor e mesmo sendo queridíssimo pelo público, não decolou em Hollywood. Porque esse público não o queria manietado por um roteiro; Don era melhor quando era Don, e não quando era um personagem. Os roasts eram seu elemento e deles não teve mais como sair. E depois de um tempo não quis mais sair.

Em 1976, num dos roasts de Dean Martin, com Dean e Bob Hope

O memorável roast de Shirley Maclaine,
em que levou a ela e Julia Roberts
às lágrimas de riso
Seus roasts nas cerimônias do American Film Institute são inesquecíveis. O último, com Shirley Maclaine - Rickles já estava com 86 anos - foi antológico. Ele comentou com Julia Roberts (ao lado de Shirley) que ela era sua vizinha e não o visitava nunca. Julia tentou responder mas na primeira palavra Rickles a interrompeu: "Julia, you have no lines". A platéia veio abaixo, inclusive Julia e Shirley, que ao fim do roast foram filmadas secando as lágrimas de tanto rir.

Tenho inúmeras lembranças de Rickles, a quem admiro tanto e há tanto tempo. Há pouco menos de um ano traduzi e legendei três de seus roasts, dois no AFI e um no Friars, no qual ele próprio era o "homenageado". Fico triste pela morte de Rickles porque fico triste quando partem gênios como ele. Mas ele viveu 90 anos muito bem vividos e foi plenamente reconhecido em vida.

Roast in Peace, Don! (08/04/2017)

NELSON XAVIER (TBT 1994)


Em janeiro de 1994 estive no Rio a fim de assistir tudo o que pudesse no início da temporada teatral daquele ano. Chegando à rodoviária - depois de cansativa viagem, sem nem mesmo deixar a mala na casa do meu amado e saudoso tio Wilson, que me hospedou - peguei um táxi para o Centro Cultural Banco do Brasil. Lá assisti a montagem que o grupo "Ponto de Partida", de Barbacena, encenava da obra-prima de Guimarães Rosa, "Grande Sertão: Veredas", com direção de Regina Bertola.

Fui com grande curiosidade, tentando imaginar o que o grupo faria para lapidar um diamante do quilate de "Veredas" no teatro. Tive a mais grata das surpresas. Foi uma belíssima montagem, a adaptação foi brilhante e alcançou a proeza de espremer em algumas horas a criatividade torrencial de Rosa. Lembro-me de pensar, em determinado momento da peça, que já entrava pela segunda hora (de suas três horas de duração), o quanto eu estava absolutamente absorto pelo enredo, atento aos diálogos e às situações dramáticas. Admirei-me com a competência daquele grupo que para mim era inteiramente desconhecido.

Nem todos, evidentemente. O Riobaldo envelhecido, contando sua história, era o grande Nelson Xavier, na época já com quase 40 anos de carreira, na qual espalhou seu talento pelo Arena, passando pelas peças de Plínio Marcos, por Lampião, Chico Xavier e assim por diante. Sobre sua performance naquela peça disse Sérgio Augusto, com a inteligência de sempre: "Grande sertão, grande teatro. E sobretudo grande ator. Em Nelson Xavier Riobaldo Tatarana encontrou o seu avatar de carne e osso".

Um ator imenso, perfeito em tudo o que fazia.
Foi um grande privilégio conhecê-lo e vê-lo atuar com a mesma maestria, fosse no rádio, no teatro, no cinema ou na televisão.
Descanse em paz. (11/05/2017)
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