terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

"O Avarento", com Procópio Ferreira



Meus caros,
sempre soube que Procópio havia protagonizado mais de uma montagem da peça O Avarento de Moliere, ao longo dos anos, mas nunca sequer me passou pela cabeça a possibilidade de haver uma gravação oficial dessa peça.

Pois para nosso supremo privilégio e alegria, há.

Por iniciativa de Orlando Miranda, em parceria com a Phillips e direção técnica de Allan Lima e Pedro Veiga, um dos espetáculos da temporada de 1969 - última em que Procópio viveu Harpagon, desta vez com direção do francês Henri Doublier (1926/2004) - foi gravado ao vivo, no Teatro Princesa Isabel, no Rio.

Aramis Millarch

O projeto era praticamente inédito no Brasil. Como bem observou o jornalista paranaense Aramis Millarch (1943/1992), em artigo da década de 70, "uma faixa do mercado fonográfico brasileiro ainda praticamente inexplorado é a dos discos-documentários de espetáculos que não sejam propriamente musicais. Nos Estados Unidos e, principalmente na Europa, é comum encontrar-se álbuns duplos, triplos e até em caixas, com 5 ou 8 elepes, com registros completos dos maiores espetáculos teatrais. No Brasil, pode-se contar nos dedos as experiências feitas, e entre elas está a gravação de alguns diálogos da montagem O Avarento de Molière, feita em 1969 por Orlando Miranda/Pedro Veiga, com Procópio Ferreira na frente do elenco".

O competente e saudoso Aramis exagerou um pouco em dizer que trata-se da gravação de "alguns diálogos" da peça. Não. O LP de 69 evidentemente não traz a peça inteira, pois para isso seriam necessários dois LPs e o projeto se tornaria perigoso em termos comerciais. Mas temos 1 hora de espetáculo e embora sintamos profundamente não ter o espetáculo na íntegra, esses cortes são sutis, muito bem feitos e não afetam em nada a compreensão do texto. Onde Aramis acertou em cheio foi no ineditismo do projeto, já que musicais brasileiros, como Arena Conta Zumbi, ou trazidos de fora e vertidos para o português, como My Fair Lady, foram lançados e se tornaram best-sellers. Em se tratando de pura dramaturgia, porém, o terreno era deserto.


Elenco e equipe de produção de O Avarento. Em pé atrás, o produtor Orlando Miranda, Pedro Veiga, Alvim Barbosa e Nilson Rezende. Sentados, na terceira fila, Celso Cardoso e Jorge Chaia. Sentados, na segunda fila, Pernambuco de Oliveira, Thaís Portinho, Érico de Freitas, Luís Carlos Laborda
e Nelson Mariani. Sentados, na primeira fila, Olavo Saldanha, Maria Lúcia Dahl,
Procópio, Isolda Cresta, Cecile Demay e Henri Doublier

Abaixo vcs verão a ficha técnica e o texto contido no LP do espetáculo, então não é necessário que eu me alongue nas explicações. Só não me furto de externar meu prazer em haver encontrado esta jóia rara, na qual podemos ouvir Procópio no auge de sua maturidade artística pairando sobre a prosa de Molière, sua voz repassada em 50 anos de tabagismo e ainda assim, poderosíssima. Interessante também é reparar que a dicção de Procópio ainda contém ecos da pronúncia aportuguesada, tão em voga nos anos 20. E o prazer é redobrado quando aparece uma oportunidade como esta, de compartilhar esse material com tantos e tantos que não poderiam nunca ter acesso a este material, de outra forma.

Portanto deleitem-se com o grande Procópio Ferreira em um de seus mais memoráveis papéis, o Harpagon no O Avarento de Molière, ao vivo em 1969, clicando AQUI.
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Nesta foto e na seguinte, Procópio em montagens anteriores de O Avarento

Uma peça de teatro com 300 anos de existência e que continua atual, despertando o interesse do espectador da primeira à última cena, é sem dúvida uma obra-prima.Assim é O AVARENTO, assim são todas as produções do gênio que se chamava Molière.

Um ator que durante mais de 50 anos mantém viva a sua presença no palco, que busca sempre o aprimoramento, que mantém (chegado ao ponto mais alto de sua carreira) a mesma noção de disciplina, os mesmos princípios de respeito ao público e ao Teatro é, sem dúvida, uma notável personalidade artística. Assim é Procópio Ferreira.

O Teatro Princesa Isabel teve a felicidade de reunir Molière e Procópio nesta sua apresentação de O AVARENTO, conseguindo ainda, na busca pela maior autenticidade possível do espetáculo, o concurso do diretor francês Henri Doublier, profundo conhecedor da obra molieresca.

A montagem do espetáculo, nos moldes em que a produzimos, mostra - já que entusiasticamente aceita pelo público - a verdade da afirmativa que consignamos em nosso programa: "É necessário partir para produções que conservem os elementos tradicionais do teatro - qualidade de texto, interpretação cuidada, direção digna e ausência de compromissos ou engajamentos como elementos atrativos. É necessário não violentar, não agredir, não ofender".

A gravação ao vivo, feita na própria sala de espetáculos em uma sessão normal, manteve o calor da representação, permitindo àqueles que tenham a oportunidade de ouví-la, a sensação da própria presença no momento da representação.

A versão do Teatro Princesa Isabel teve sua estréia nacional em Brasília, sob os auspícios da Fundação Cultural do Distrito Federal, e a estréia do Rio de Janeiro, no mês seguinte, com os mesmos elementos que participam da atual gravação.


O Harpagon de Procópio, na montagem de 1969

O registro em disco de espetáculos como O AVARENTO representa um serviço inestimável ao Teatro e - vale dizer - à cultura do Brasil. Poder conservar para o futuro o grande sucesso do momento presente é um privilégio que traz para nós, produtores do Princesa Isabel, júbilo e reconhecimento ilimitados. A Phillips demonstra, com esta iniciativa, confiança no interesse do público por assuntos e eventos de elevada significação artística. A presente gravação é, no Brasil, um ato de pioneirismo. Nosso desejo é que se transforme, no mais curto prazo, em rotina.

Pedro Veiga

O AVARENTO, de Molière, com Procópio Ferreira

Harpagon - Procópio Ferreira
Frosine - Isolda Cresta
Mariana - Maria Lúcia Dahl
Valério - Alvim Barbosa
Elisa - Thaís Portinho
Cleanto - Érico de Freitas
Anselmo - Jorge Chaia
La Flèche - Celso Cardoso
Mestre Simão/Bridavoine - Luís Carlos Laborda
Mestre Jacques - Paulo Padilha
La Mertuche/Comissário - Nelson Mariani
Cláudio - Nilson Rezende

Cenário: Pernambuco de Oliveira
Figurinos: Olavo Saldanha
Asistente: Cecile Demay
Direção: Henri Doublier
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Ver também:

MY FAIR LADY, com Bibi Ferreira e Paulo Autran

ALÔ, DOLLY!, com Bibi Ferreira e Paulo Fortes

Um comentário:

  1. Após ler sua postagem encontrei, por acaso,esse LP à venda.Seu valor é de 990 reais.

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