segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Entrevista com ALVIN L - Final


Sobre a música "Sugar": "É uma boa coisa, porque eu sou
"featuring Alvin L", na faixa. Um dueto. Foi a primeira
 vez que eu fui listado como artista nas dez mais tocadas".
PIERROT

B – Tem ainda o “Pierrot”. “Pierrot” tem “Arquivo II” e “Na minha mão”.
A – Essas duas foram feitas juntas pro “Pierrot”. Na casa dela...
B – Ela saindo da depressão...
A – Ela já tava melhor, cara, mas tem aquela história da voz, que não é físico, é completamente emocional, que ela até hoje ainda tem uma coisinha, mas eu vou te confessar uma coisa: eu gosto mais da Marina, enquanto cantora, hoje. Eu acho a voz dela mais grave, mais bonita, mais profunda emocionalmente, tem mais alma, e a Marina, tão falando “ai, porque a voz da Marina”, a Marina nunca foi CANTORA! A Marina sempre teve uma voz super pessoal, um timbre que é só dela e não dá pra confundir... ela sempre cantou baixinho, ela é meio Nara Leão, assim... hoje ela até tem muito mais vozeirão, ela manda uns “aaaa” pra cima que ela não fazia antigamente. Sobrou uma coisinha nos efes ou nos erres, eu não sei o que é, mas pra mim não incomoda. Eu sinceramente, sinceramente, eu gosto muito mais da Marina cantora hoje do que antigamente. Na boa, tô sendo muito sincero. Eu já falei isso pra ela, ela não acreditou muito, mas enfim...
B – O “Na minha mão” tem alguma história?
A – Essas duas partiram muito dela. Assim, a idéia da música. Eu meio que colaborei, ajudei a fazer, mas nenhuma das músicas é idéia original minha. Até de repente a maior parte da letra é minha, uma parte da melodia também, pra falar a verdade eu não lembro muito das duas. (canta) “Coração, coragem...”. Essa parte é toda minha, letra e melodia.
B – “Não deixe as roupas...”.
A – “Que eu rasguei te encobrirem de razão”...
B – Essa frase.
A – É boa, né? Eu achei que as pessoas iam reparar na época... ninguém nem...
B – Você não vai acabar com a gente de novo, né? (risos) Você vai dizer que essa frase você...
R – Encontrou num pára-choque de caminhão! (risos)

A – Talvez eu tivesse ido até na onda dela. O break up dela ainda tava rolando, não sei se ela se recuperou da coisa inteiramente, então... talvez eu tivesse ido na onda dela, interpretando ela, como eu fiz em... ai... “Tudo que vai”, do Capital. O Toni Platão veio chorar pitanga no meu ouvido porque tava se separando, aí eu tinha que fazer uma música pra ele, eu psicografei a história dele, ali... aí a briga toda foi porque ele se achou dono da história... porque eu fui dizer, senão ele não ia nem reparar. Tem músicas que fiz, por exemplo “Tudo o que você queria saber...” sobre uma pessoa, só que a pessoa nunca vai saber que é dela. Eu tenho até medo disso, hoje em dia, vai achar que é dela, vai querer processar, sei lá. Porque às vezes você se inspira em coisa, e às vezes você acha que não tá se inspirando em coisas, mas você tá. “Eu não sei dançar” pode ter vindo de alguma coisa que eu não sei de onde veio, mas tudo que tá dentro de você, entrou.
B – Resíduo emocional.
A – Tudo o que tá dentro de você, entrou em você. Se saiu de você, entrou. Então vem de algum lugar, nem que seja literatura.
B – Bom, e a Marina já tava melhor.
A – Ela tava melhor, progressivamente melhor em todos os discos. Ela fala até hoje da depressão, eu não sei se ela saiu completamente, a gente não fala mais sobre isso... ela tá sempre alegre quando eu a encontro agora, tá sempre de bom humor... as pessoas pensam que a Marina é capaz de altos e baixos, mas não, é de extremos. Ela pode ser a pessoa mais bem-humorada, mais perua, da festa, e pode ser a pessoa mais deprimida, mais densa do ambiente. Vai de um lado pro outro... todo mundo fala que a Marina é séria, uma cantora séria, uma artista séria, mas às vezes a gente fala tanta abobrinha, o que já teve letra que a gente botou bobagem... pra depois tirar. Todo autor faz dummy lyrics, que a gente chama, “letra provisória”, que você deixa lá até achar uma coisa melhor. Tinha, acho que... não sei se foi em “Na minha mão” ou foi em “Arquivo II” que tinha a história das “quentinhas do além” (risos). Que eu me lembro disso até hoje... tinha uma parte da letra que não tinha, a gente botou que comia “quentinhas do além”. A gente botou lá como uma coisa provisória e morria de rir disso! (risos) O termo em inglês é dummy lyrics. “Dummy” é boneco, de manequim, né, você põe uma coisa lá pra representar, que vai sair pra outra entrar, e você faz muito isso. O que eu recebo de música pra botar letra, que vem em inglês cósmico... as pessoas cantam num inglês que não tem pé nem cabeça... é tudo dummy, em português seria o inglês cósmico (risos).

SISSI NA SUA

B – Você gostou do Sissi? Você gostou das músicas dela com a Fernanda Young? Da parceria delas?
A – Sim, eu gosto muito da Fernanda, cara. Ela é polêmica. Eu já disse “eu adoro ela” e teve cara querendo me dar porrada.
B – Eu sou um (risos).
A – Mas eu adoro ela. Eu acho ela divertida, eu acho que ela é maluca, ela fala o que pensa, sabe, é louca mesmo e não tá nem aí, sabe, uma vez eu saí na rua Augusta, andando com ela, parava gente pra olhar. Ela falando alto, a gente discutindo... sensacional. E eu conheci ela, a Marina me falou: “Vem aqui em casa que tem uma pessoa que eu quero que você conheça”. Aí cheguei lá tava a Fernanda, ela trancou a gente no escritório de trabalho dela, e sei lá o que foi fazer, deixou a gente uns 40 minutos trancados, pra gente se entender. Ela achou que a gente tinha que se conhecer e se gostar. E não precisou, em dez minutos a gente tava amigaços. Foi literalmente isso, ela trancou a gente num quarto pra gente ficar amigo. Não precisava (ri).

SETEMBRO

B – Bom, aí temos o “Setembro”, vocês compuseram bastante coisa, porque tem o “Paris Dakar”, tem “Fala, não cala”...
A – Que tudo ela tinha a base e a melodia, ela me pediu pra botar letra, eu trouxe pra casa, fiz aqui, ela só ajustou uma coisa ou outra que ela não gostava.
B – “Fala, não cala” eu acho um barato.
A – Foi, ela me chamou de novo pra cantar com ela.
B – Você cantou.
A – Cantei. Dei uns gritos, lá...
B – Você diz algumas frases, digamos assim...
M – Tem alguém que fica repetindo (ri)...
B – Eu tô com isso na cabeça...
A – Eu fiz o que me pediram, eu cheguei lá, “o que é que eu faço”? “Faz isso, isso, e isso”.
B – Eu tô com isso na cabeça, “eu também tentei coisas, agora é sua vez, fala!” (risos)
M – Eu não agüento mais... (risos)
R – Você diz “bom dia” pra ele, ele diz isso (risos)...
A – Esse “agora é sua vez” é de uma música, é uma letra antigaça que eu fiz e nunca usei, mas eu gostava desse, tipo, “ninguém é perfeito, mas se alguém tem que ser, agora é sua vez”. E eu queria usar esse, tipo, você fala alguma coisa, agora é sua vez, sabe, eu já fiz tudo que eu podia, agora...
B – E você diz “eu também me perdi, eu também tentei coisas, eu também me revelei”...
A – É! E a gente deve ter conversado, assim, a letra talvez seja fisicamente toda minha, eu tenha escrito, mas ela talvez tenha me falado “vamos falar sobre isso”, que ela fala muito isso: “Vamos falar sobre isso?” “Paris Dakar” era assim... aí eu falei pra ela de uma música da Joni Mitchell que tava na cabeça, que chama “This flight tonight”, que é a Joni Mitchell com o caso dela, que vai acabar a qualquer momento, os dois vão atirar um no outro, que a coisa tá braba, e os dois estão num avião. Imagina você estar confinado num avião com uma pessoa que você está mal! Não, a Joni Mitchell tem uns insights, assim, de composição que são muito bons. Aí eu falei pra ela “eu tô chocado com essa imagem de você estar confinado num avião vivendo uma situação, que você não pode, não tem como sair dali. Você tá preso numa casa, você tá preso num carro, você tá preso num trem, mas num avião não tem jeito! Você tem que ficar lá até aquela porra posar!

Joni Mitchell

B – Qual é o primeiro verso de “Paris Dakar”?
M – “Nuvens sobre o Rio de Janeiro, Ponte Aérea”.
A – É, aí a gente começou a pirar na história, assim, mas aí onde botar essas situações, eu falei “sei lá, Ponte Aérea é uma coisa que a gente vive muito”, tanto eu quanto ela.
B – E o segundo, que ela fala de São Paulo?
M – “Luzes sob o céu de São Paulo”.
B - “Luzes sob o céu de São Paulo”. A maravilhosa referência o Rio e a São Paulo.
A – É, isso é muito dela. Acho que ela queria muito essa referência, ela gosta muito de São Paulo. Ela ama São Paulo. Teve uma época até em que falou “eu vou mudar. Não estou pensando, eu VOU mudar! São Paulo é mais sério, lá eu vou me concentrar mais, aqui é tudo muito disperso”, eu falei “Marina, quando as pessoas perguntam qual é o artista que é a cara do Rio, é você. Se você mudar pra São Paulo, vai ter o efeito Rita Lee falando mal de São Paulo”. “Marina Lima mudou para São Paulo” ia ser uma coisa...
B – O Rio ficaria revoltado.
A – Ia ser uma coisa. Mas parece que ela mudou de idéia.
B – Mas “Paris Dakar”...
A – E “Paris Dakar” eu tinha... eu queria, é um título, eu tenho um livrinho onde eu escrevo títulos de músicas que eu gostaria de fazer. E eu gosto de títulos, e eu acho que título de “Paris Dakar” é bacana, né? A corrida Paris-Dakar é uma coisa sufocante, também, né? Aí ela achou chiquérrimo, “Paris Dakar”. A gente construiu muito juntos, essa música, as imagens, talvez eu tenha trazido pra casa, voltado com o esqueleto e a gente começou a pirar no lance. E ela ama.
R – Você não gostaria de voltar ao lance do clip hoje, tipo, escrever a música e depois roteirizar o clip?
A – Eu penso em clip... eu já dei várias sugestões de clip pro Capital Inicial, eles odiaram todas (risos).
B – “Paris Dakar” seria pra um cineasta, eu acho.
A – Talvez, mas isso não é música de trabalho, cara, na boa, ia ser um erro. Como eu acho um erro a gravadora ter começado o trabalho do Acústico com “Fullgas”.
M – Ah!
R – É...
B – Vamos chegar lá. Vamos chegar, então, agora...

Alvin, em show da turnê do Acústico
ACÚSTICO MTV

A – Um erro de marketing, assim, mas... crasso! Eu acho que o disco não vendeu tanto por causa disso.
R – Você tem uma idéia de quanto vendeu?
A – Um pouquinho mais de cem mil, assim, o que é baixo pra Acústico MTV. A Marina é sempre nesse nível, ela vai, vamos dizer, de 80 a 150... o top dela, o disco dela que mais vendeu foi o “Abrigo”, que vendeu 280 mil cópias. “O Chamado” também vendeu muito bem, vendeu 220, é escadinha, o “Marina Lima” vendeu 150, 180...
B – É o “Setembro” que foi mal vendido, né?
A – O “Setembro” vendeu 65, 68 mil cópias.
B – Ele foi mal divulgado?
A – Foi, a Abril tava meio fechando... mas também, assim, a outra coisa que eu fiquei assim... o fato da Marina falar tanto dessa depressão, as pessoas começam a ficar com aquela coisa, “ah, a voz, a voz, a voz”... aí as pessoas ficam encasquetadas com aquilo, ela falou pra mim, por exemplo, “tá estranho, porque muita gente quer comprar o show, mas fica em cima do muro, eu não tô entendendo porquê”. Eu digo “cara, é isso! Neguinho tá ouvindo falar a voz, a voz, a voz, vai achar que você vai chegar no palco e não vai cantar!”
R – Ela falou demais disso. Todas as entrevistas ela fala disso.

A – E de repente essa é uma coisa pra você não falar... e passou, “ah, sua voz tá com uma coisa estranha”, “ah, não, é porque eu tô engasgando, sei lá, tá ficando densa, com a idade”, sabe. É marketing isso. Tudo é marketing. Aí começa com “Fullgas”, uma música que a Polygram lança todo mês em alguma coletânea, né, quer dizer, o Brasil inteiro tem três vezes a música.
M – Todo mundo achava que tinha que ser “A não ser você”.
A – Talvez, porque era inédita, eu acho que era “Sugar”, mas “Sugar” teve a história da novela... mas vamos por ordem. A Marina falou pra mim que tinha esse convite pra fazer o Acústico, era um bom momento na vida dela, porque tinha passado o pior, então tava na hora dela dar uma reinventada, e ela tava vindo de discos que tavam indo muito bem de crítica, vendiam, ou seja, não davam prejuízos, mas não era a venda, tipo... da história toda. Então o Acústico sempre levanta, vide o Capital Inicial.
R – Nossa...

A – Não, assim, tudo o que você está vendo aqui dentro desta casa toda foi comprado com direitos autorais, sabe... 50% desse disco do Capital Inicial. Tudo, (à Vicky) a coca-cola que você está bebendo (risos). Bom, e ela me chamou e o Acústico tradicionalmente tem músicas inéditas. Então ela me chamou pra fazer músicas, ela falou “tenho uma com o Cícero, que eu já fiz”, ela me mostrou e eu achei linda. Linda, né? Melodia e tudo.
B – Ela chamou o Chico [Buarque] pra cantar.
A – Foi, a primeira idéia era. Eu tentei enfiar o Dinho na história, achei que ia ser lindo, ela chegou a pensar, mas acabou não rolando.
B – A Marina tava com tesão mesmo pra fazer o Acústico?
A – Cara, tava e não tava, porque ela tinha feito um disco ao vivo.
B – Ela tinha acabado de fazer o “Sissi”.

Chico Buarque

A – Pois é, aí ela começou... ela pensa muito em como vai ser vista a coisa, o que vão falar... a Marina gosta de desafios. Ela gosta de fazer uma música muito louca, é a onda dela. Mas ela sabe ao mesmo tempo que ela é uma artista, que ela depende de vender, de tocar no rádio, que a gravadora quer resultados, porque senão você não grava mais, ela sabe disso. Então não pode ser maluquice o tempo inteiro. Você põe duas maluquices num disco, e duas que vão tocar no rádio que são ótimas, também... mas ela gosta de maluquice. Quer ver ela feliz que nem pinto no lixo, é a gente fazendo “Paris Dakar”. Ela ri, ela levanta, ela grita, ela fica intensa... as outras é, “tá ficando bonito, legal”, mas... mostra um “Stromboli” pra ela, é berros de alegria. É a onda dela, ela gosta de uma coisa mais...
R – O Bernardo e a Mileine foram à gravação do Acústico nos dois dias, tinha uma tensão ali, não tinha?
A – Ela é muito tensa. Ela é muito tensa no palco. Muito tensa. Nunca vi um show dela que eu tivesse perto dela, que ela não estivesse muito tensa. Eu acho que ela é que nem eu, não gosta de estar no palco. Ela prefere fazer discos, só compor...
B – Um jornalista disse uma vez que ela era mal-humorada no palco.
R – Carrancuda, né, sisuda.

A – Maurício Branco, no show dele, imitou ela na frente dela, cantando no palco, ela morreu de rir, que é aquilo mesmo. Ela sabe que é assim.
R – Mas ao mesmo tempo, no “Todas ao Vivo”, no show da Manchete [extinta emissora que transmitiu o “Todas ao Vivo”], ela estava super bem...
A – É verdade. No “Chamado” ela também estava muito alegre. O “Chamado” foi um show muito alegre pra ela. Eu tava lá, era uma época boa, tudo certo, mas o natural dela é um pouco tenso. Mas no Acústico você está gravando um disco ao vivo, um especial de TV, tudo tem que dar certo.
B – Eu te cortei quando você ia falar do Dinho. Onde é que você tentou colocá-lo?
A – Não sei, algum dueto, cara. De preferência uma música inédita. Eu pelejei (ri)... ele até que ficou a fim, eu falei pra ele assim “bom, tô tentando dar um plá na Marina de você participar, chamar você”, ele “legal”. A Marina não se entusiasmou nem demais, nem de menos, foi receptiva.

B – O “Sugar” foi pra novela ou foi pro Acústico?
A – O “Sugar” foi feito pro Acústico, mas aí ela me ligou um dia, falou que a Globo pediu uma música pra botar na novela, ela mandou umas demos das músicas novas e eles amaram “Sugar”. Queriam “Sugar” porque queriam “Sugar” porque queriam “Sugar”, só que o Acústico é uma coisa MTV e novela é Globo, então não podia ser a mesma gravação. Foi uma das coisas que melou a primeira música de trabalho do Acústico, porque provavelmente ia ser “Sugar”. Aí ela entrou na novela, aí a MTV já não quer botar, porque pode vender o disco da novela, ou seja, foi um erro, talvez era melhor não ter entrado na novela porque o disco da novela não vendeu. E a gente foi pro estúdio, foi tudo gravado num dia, cara! Eles entraram 9 horas da manhã, 7 horas da noite eu tava gravando o rap, logo depois ela chegou, eu ajudei a produzir a voz dela, porque ela às vezes gosta que eu esteja no estúdio quando ela vai gravar voz, porque ela diz que eu animo ela. Ela fica mais relaxada porque eu tô lá...
B – Você gostou da versão de estúdio?
A – Eu gosto das duas. Eu gostei de ter feito o rap, porque não tem problema de desafinar, então (risos)... e as pessoas gostam, aplaudem... foi a primeira vez na minha vida, cara, que eu tive um hit no qual eu cantava. Cantava, assim, eu tinha um solo.

B – Você apareceu na novela.
A – Apareci lá, tocando pandeirinho. Ela me ligou, “ah, vamos lá?”, “vamos”... eu vi ela na hora da gravação. Esses caras de TV Globo são todos amigaços dela...
B – É, o [Roberto] Talma era o diretor da novela.
A – Eu cheguei com o Vidal, não sei se Fábio tava, Fábio tava e a Cecília Spyer. Eu cheguei com eles, a gente não viu a Marina. Ela chegou depois, deu dois beijinhos, chegou um cara, “vamos gravar!”... estrela, né? Fica em casa, quando neguinho fala “cinco minutos” ela se digna a fazer a entrada.
R – Diva...
A – Diva, completamente diva. E ela age como tal porque as pessoas esperam isso dela. Ela tem toda razão de fazer. Também, o que é que ela vai ficar lá no camarim, bundando com os músicos que ela fala o dia inteiro? (risos)
R – Agora olha, eu podia ter um objeto de colecionador porque teve uma promoção da EMI pra escrever uma frase e ganhar o single de “Sugar”, de estúdio, autografado. Eu escrevi a frase e ganhei.
A – Você ganhou?
R – Ganhei.
A – Olha...
R – E aí vem “um beijo, Marina”, assinado. Aí eu falei pro Bernardo “gente, eu vou levar pro Alvin e vou ter a assinatura dela e dele no single de estúdio!
A – Você trouxe?
R – Esqueci. (gargalheiro generalizado)
A – Próxima vez que a gente se encontrar... eu vou adorar, é uma boa coisa, porque eu sou featuring Alvin L, na faixa. Um dueto. Foi a primeira vez que eu fui listado como artista nas dez mais tocadas, porque a música ficou uma semana nas dez mais tocadas. E tava lá: “Quinto lugar Marina Lima e Alvin L”. Eu era o artista. Era um dueto. E eu ganho pela faixa, o que eu não ganhei com “Deve ser assim”, agora eu ganho com “Sugar”, meu contrato é bem melhor. Mas não me deram os três cds (risos).

B – Bom, e “A não ser você”.
M – “A não ser QUEM”?
A – Ela queria escrever músicas positivas, sabia? Ela queria falar de felicidade, de coisas positivas, e “A não ser vc” tem gente que acha meio chorinho, aquele (canta a introdução de violão)... e a melodia era um pouco triste, eu falei “bom, não dá pra fazer uma coisa muito positiva, pode fazer uma música reflexiva, positiva mas reflexiva”, e foi saindo...
B – Eu acho a melodia sofisticada.
A – Eu não fiz pra ninguém, não sei se a parte dela era pra alguém (risos)... com certeza, né? “Sugar” também. “Sugar” foi feito, assim, ela disse que queria fazer uma música. E ela falou assim “tô apaixonada, quero fazer uma música”. Aí eu falei “vamos fazer uma coisa tipo (canta) "sugar pie, honey bunch, you know that I love you” (risos), ela falou “não, aí tá um pouco demais”. Aí chegou uma hora em que ela falou assim “eu queria um rap na música. Escreve um rap pra você fazer a música”. Ela já queria que eu fizesse. “Você que vai fazer. Escreve um rap pra você fazer”, e cara, a coisa que eu mais gosto na minha vida é de estar apaixonado. Você sabe, existe sensação melhor, na vida? Não tem. Não tem nada melhor. E eu não me apaixono há muito tempo. Eu espero, estou sinceramente esperando que, não precisa nem ser recíproco, só eu sentir já tá bom. É aquele que já tá fazendo qualquer negócio (risos). Aí ela falou assim “escreve o rap”. E ela falando que ela tava apaixonada, eu queria passar a mão nela pra ver se passa pra mim, também (risos). Aí falei, “vou fazer o rap sobre isso”, sabe, o que eu quero também. “Deitar ao sol e me apaixonar”, sabe, eu quero sal, o doce, surpresas, não sei quê, deitar ao sol e me apaixonar. Assim, eu tô falando de mim, ali. É o que eu quero que aconteça comigo. Acho que é por isso que eu dei tudo de mim (risos).

B – E dá tudo de você no palco, também, porque o pessoal baixava o microfone quando você começava, numa empolgação.
A – Eu tenho voz modulante, cara, minha voz vai do pé à casa do caralho, e eu nunca aprendi a controlar ela, então... puta, se você vê a gravação de estúdio ali, vocês não entendem essas tecnicidades, mas eu tô comprimido até a morte, ali. Compressão é uma coisa que você põe que segura tudo que passar do limite, e fica meio apertando você ali, eu tô apertado, eu tô, “eu quero sal, o doce”, que eu tô querendo sair dali e voar na cara de alguém.
B – Ela falou da influência do Los Hermanos em “A não ser você”.
A – Talvez o tal chorinho que as pessoas vêem, ela tentou fazer uma música com o Rodrigo Amarante, se não me engano, mas parece que não ficou boa. Ela adora Los Hermanos.

Los Hermanos

B – Eles vão fazer um show [o show do Vivo Open Air que Marina deu cano]...
A – Com ele? Fui substituído por Rodrigo Amarante! (risos) Salve!
B – Salve nada, imagina...
A – Ela sempre volta pra mim (risos).
B – Exatamente.
A – If you love somebody, set them free (risos). O cara é legal, eles são bons, o Los Hermanos. Eu gosto mas eu não sou fanático por eles... tem gente que é fanática, eu acho legal o básico, mas eu conheci eles e eles são tão gente fina, cara, o Camelo, o cara me olhou e falou “ai, Alvin, há tanto tempo que eu quero te conhecer, posso te abraçar?”...cara, você já vai gostar de uma pessoa dessas... e o cara todo é meio santo, assim... ele é bom, eles escrevem bem, eu não gosto porque é muito, sei lá, é uma coisa que tem me dado um certo... ultimamente, que é o "miserabilismo"; tudo é muito sofrimento, tudo é muito denso, me dê minha vida, não sei quê, sabe, come on! Que nem a Marina, vamos fazer coisas assim, sabe, “eu quero sal, doce”...
B – Bom, aí você participou do Acústico.

Marina e Alvin na gravação do Acústico
A – Participei do Acústico. Ela falou “vamos fazer”, eu falei “será”, tal... eu fiquei meio assim, cara, porque é ao vivo. Estúdio eu tiro de letra; “tudo bem, repete, não tá bom, faz outro”... mas ao vivo eu falei “cara, espero sinceramente não screw up nada, não estragar nada. Tipo assim, a minha música é aquela que vai ser repetida cinco vezes até sair certo.
B – Não, o screw up é o Martinho [da Vila, que teve que repetir várias vezes sua música na gravação do Acústico], não é você.

Marina e Martinho

A – Pois é. Graças a Deus não foi comigo, mas eu fiquei com medo por causa disso, porque era ao vivo.
B – Mas você curtiu bastante.
A – Curti porque ela me deixou muito à vontade, a gente ensaiou bastante, quando chegou lá eu vi que não era tanta responsabilidade em cima de mim. A única coisa que eu realmente faço é o rap, se você for ver. O resto eu dobro a voz dela. Isso é normal, dá pra fazer, é só fazer com calma e sai bonitinho, a voz tá atrás, ela não aparece, tá desafinado neguinho afina lá, não é tão grave, assim, é só look good e fazer o rap direito. Aí eu relaxei.
B – Você gostou do resultado?
A – Gostei. Achei legal. Eu faria um outro repertório, talvez.
B – Que que você colocaria?
A – “Acontecimentos”, “Criança”... várias... várias, que eu tiraria ali e botaria algumas, mas foi ela que escolheu. A gente passou dias, eu, ela e o Marcelo [Sussekind, produtor do Acústico] trancados dentro da casa dela escolhendo esse repertório. Teve dias que foi assim: eu, ele e ela fomos pra casa, depois de uma reunião que a gente falou de coisas... cada um faz sua lista, depois a gente vê o que é que bate, claro que algumas bateram, daí começa tudo de novo. Finalmente chegamos a uma lista de 32. Porque ela vetava, tinha umas que ela dizia no chance.
R – “Acontecimentos” foi uma que ela falou “não agüento mais cantar”.
A – Não, ela falou “Acontecimentos, nem pensar”. Era essa e “Eu te amo você”, que ela falou “nem pensar”.
B – Ah, isso eu achei ótimo que ela não tenha colocado.
A – Mas é um hit dela que está esquecido e que valia a pena ser revisitado, né? E foi um hit na época, e as pessoas gostam, tal... e Acústico é jogar pra galera, cara.
B – Mas é que eu não consigo imaginar “A não ser você” como música inédita, que é uma música sofisticada, e “Eu te amo você”, que é uma bobagem.
A – Mas Acústico é jogar pra galera. Aí a gente chegou à conclusão: são 17 músicas no DVD e no cd escolhem as melhores, né?

Marina e Liminha na gravação do Acústico
R – Por que é que “Me chama” não entrou no cd?
A – Ah, isso é assim, eles sempre tiram, eu encontrei com o André Matelon um dia, antes de sair o cd, e perguntei “e aí, como é que tá?”, ele falou “hoje é a reunião pra decidir o que é que vai entrar no cd”, eu perguntei “e você não está?”, ele falou “Deus que me livre! Vai sair facada, hoje!”
R – Cá entre nós, não tem nada a ver com a briga dela com o Lobão?
A – Não. Ela queria que o Lobão participasse. Ela chamou ele.
R – Ah, você tá brincando!
A – É, e ele não quis. Ela me falou, eu falei “que ótimo! Que maravilha! Adoro o Lobão, a música é ótima”, não sei quê, “Lobão vai voltar pra TV”, porque o Lobão hoje em dia tem uma carreira de “polêmico”. E o cara é genial, o cara é um puta compositor, um artista nota dez e vive de fazer polêmica, porque ninguém mais dá chance pra ele!
R – (a Bernardo, que lhe oferece mais uma cerveja) Não, obrigada, eu quero uma gilete. (risos)

Lobão

B – Alvin, a gente está acabando com as tuas cervejas...
A – Graças a Deus.
R – Não, e é legal que você não leva, então fica...
B – Tá parecendo mesa de bar...
R – ...uma carreata, meu.
M – Depois a gente vai fazer uma faxina.
B – Alvin, você não sabe o furo que você está dando pra gente...
A – Vocês não sabiam disso?
B – Nunca! A gente tinha ouvido falar do Chico Buarque.
A – Foi, pensou no Chico Buarque, teve várias pessoas, esse história do Dinho, não sei quê, são as pessoas que foram cogitadas e algumas não foram em frente, Lobão ela chegou a...
B – Renata, puta que pariu...
A – (à Renata, fã inveterada de Lobão, que se levanta para levar algumas dezenas de latas de cerveja que entupiam a mesa) Nessa portinha aqui tem um lixo, deixa do lado, e...
R – Eu vou me matar, já (risos)...
A – Limpa o sangue depois (risos).
B – É, não faz sujeira (risos). Alvin, ela convidou o Lobão pra cantar “Me chama”...
A – Ela convidou e o Lobão não quis.
R – Mas ele justificou, você sabe?
A – Olha, eu acho que deve ter sido porque ele tem uma briga com a MTV, ele fala mal dos Acústicos, fala que o Acústico é...
R – A MTV já quis fazer um Acústico com ele e ele recusou. [Três anos depois, em 2007, Lobão lançou seu Acústico MTV]
A – Pois é, o que é uma grande bobagem, porque esses Acústicos costumam dar certo, costumam botar de volta, e cá pra nós, artista é isso, você tem que jogar pra galera.
R – Você sabe por que é que a Cecília saiu da turnê?
A – Porque teve que fazer um downsizing da turnê. O ano passado foi muito ruim pra todo mundo.
B – Tirar gente? Cortar pessoal?
A – É. O ano passado foi brabo pra todo mundo. Todo mundo cortou custos.
B – A gente reparou que ela demorou pra caramba pra ir para Curitiba...
A – Não, foi mais por custos, mesmo, ela adora a Cecília. A Cecília é uma fofa, cara, é uma fofa... sabe aquela que você se queixa de dor de cabeça, ela vai fazer massagem shiatzu em você? E cinco minutos antes de entrar no palco, ao invés de estar aquecendo a voz, tá cuidando de você? O problema é que era preciso cortar, então tem vários backing vocals por ali, então... tanto que eu não continuei na turnê por causa disso.

PRA TERMINAR...

B – Você tem visto a Marina?
A – A gente se encontrou faz uns três meses [dez/2003] na porta do show do Maurício, que ela foi ver, a gente ficou se agarrando, gritando, e tchau. E ela tava acompanhada, assim, de três garotões LINDOS! Sabe, lindo, modelo? Lindos, e que não abriam a boca (risos). Parecia, assim, um harém particular. Eu fiquei olhando aquilo, e...
R – Divaaa!!!
A – E ela “ai, não sei quê”, e os garotões assim (faz cara de sério)...
B – Quê Maurício?
A – Maurício Branco, ator, um amigo nosso.
B – Show dele?
A – Ele faz um show que se chama “Não fuja do Branco”.
R – Gente, ele nunca mais fez novela. Maurício Branco, lembra?
B – Eu nunca mais vi esse rapaz.
A – Ele é muito amigo da Marina, e ele imita ela no show... ela é muito amiga dele também, brigam, voltam, a Marina tem uns amigos, cara, que assim, todo dia tem algum que vem e “ai, eu briguei com a Marina!”, eu falo “ai, please!”...

Quatro horas de gargalhadas e boa conversa; da esq. para dir.,
Renata, Bernardo, Mileine e Alvin
B – Grande ponto que você tocou: os amigos da Marina!
A – Os que são em comum, assim, brigam, fazem as pazes com uma velocidade que quando eu vou saber, já brigou e já voltou!
A – Nossa, Alvin, mas...
B – Não, mas tem pessoas que não dá pra entender!
R – Cá entre nós, tem um pessoal, assim...
A – Quem?
B – Quem? Vamos começar pelas colunistas sociais... a Joyce Pascovitch!
A – Ah, cara, não são comuns, então... eu vou te contar uma historinha ótima: depois do Acústico teve uma festa no Tostex, vocês devem conhecer. Fechada pra todo mundo, e tal... e eu fui pra festa, claro, fazia parte do elenco, né... cara, você só via a Constanza Pascolato de longe, assim, me seguindo com os olhos. Aí tudo bem, daqui a pouco eu encontrei uma amiga minha, “oi, tamos aí”, já tinha namorado ela há milênios, não sei quê, tal, e de repente, entra uma pessoa, entre nós dois, assim e “oi!” Constanza Pascolato entrou! E ela “você é uma gracinha” (risos). Aí eu “pô, obrigado”, ela, “você estava elegantíssimo”, eu falo “pô, obrigado, vindo de você é um puta elogio”, ela falou assim “aquela roupa não era sua não, né?” (gargalhadas) Eu falei “não”, e ela “é porque não combina com você, assim, você tava lindo, mas dá pra sentir que não era tua, que alguém te vestiu”. Eu falei “bom, mas obrigado anyway”, ela continuou “mas você é uma gracinha mesmo, que presença, que... parabéns!” Ela ficou me elogiando... no dia seguinte, no café da manhã, o comentário era: “Comeu?” (gargalhadas) Constanza Pascolata!
B – E a Alicinha Cavalcanti?
A – A Alicinha, cara, a Alicinha vocês não conhecem, ela é polêmica mas ela é uma pessoa muito legal.
B – Polêmica pra dizer o mínimo.
A – Mas ela é muito legal, sabia? Eu adoro a Alicinha! Se a Alicinha me liga e pede alguma coisa, cara, eu vou a pé levar.
R – E aquele Alex Lerner?
B – É, aquele pentelhinho que trabalha com a Xuxa.
A – Eu conheço muito pouco, troquei três palavras com ele, não sei... mas a Marina é meio socialite.
B – Ela tem um lado bem vão, né, quer dizer, de Glória Kalil, e de não sei quê...
A – Ela é uma socialite.
B – E eu falo “porra, ela não era assim”...
A – Olha, muitas dessas pessoas ela conhece de tempos antes e a maioria das pessoas é legal, fazem número mas são legais.

Renata, Alvin, Bernardo e Mileine
B – Por que ela não fez televisão massivamente para divulgar o Acústico?
A – Porque o Acústico é quem contrata, e tem um bufferzão que você não pode fazer nenhum outro canal.
R – Mas todos fazem!
M – Mas o Kid Abelha foi...
A – Depois do... tanto que eu acho que depois que acabou o coiso, ela fez uns programas. Eu lembro da minha mãe me ligando, “liga a TV correndo que a Marina tá na Ana Maria Braga!” E eu falo pra minha mãe “mas eu não tenho TV Globo aqui”...
R – E ela, magra daquele jeito, falando “ai, adoro cheesecake”, eu digo “ah, não mente! (risos) Cheesecake engorda um monte, meu! (risos) Não mente, Diva!”
A – Mas a Marina não tem problema de gordura não, sabia? Eu já saí pra jantar com ela, ela comeu uma macarronada daquela, que é dez quilos!
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Parte 1
Parte 2
Parte 3

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