Alvin: "Mas eu estourei brabo! É sério! Eu passei, assim, duas semanas que todo dia tinha foto minha no jornal! E a música não era música de trabalho, as críticas todas rasgando seda..." |
A – E nisso tudo eu esqueci que eu já tinha começado a formar o Sex Beatles... nessa história toda. A gente já tinha dado o primeiro show.
B – Ah, já?
A – Já.
B – Você tava em pleno...
A – Já no coiso, é, com o dinheiro que eu ganhei com o Capital eu comprei uma guitarra, que eu não tinha e comecei a formar uma banda. Que levou um tempo pra sair do chão... mas na época em que a Marina estourou com “Eu não sei dançar”, a banda já tinha dado o primeiro show. E aí, com essa coisa toda da Marina, a banda também virou darling da imprensa. Apareceu do nada, era uma época grunge, não sei quê, eu tava deixando o cabelo crescer... me ligavam pra saber o que eu achava da menstruação das baratas no verão (risos)... “estamos aqui fazendo um enquete no O Globo sobre marca de queijo; qual é sua marca de queijo favorita?”, e aí sai eu e o pacotinho (risos)... cara, eu virei uma celebridade! Até hoje é assim, só que hoje menos, assim... eu não sou mais novidade. Pro público sim, porque o público não me conhece, mas para os jornalistas eu já sou um veterano. Mas eu estourei brabo! É sério! Eu passei, assim, duas semanas que todo dia tinha foto minha no jornal! E a música não era música de trabalho, as críticas todas rasgando seda...
B – O “Marina Lima” teve o quê, de música de trabalho? Foi “Acontecimentos”...
A – Foi “Acontecimentos”, depois teve uma outra...
R – “Criança”.
A – (canta) “Criança, eu sei...”, aí foi tudo na seqüência: aí liga o cara da EMI e falou assim “cara, eu tenho uma boa notícia pra te dar: a novela Perigosas Peruas querem porque querem essa música na novela. A música não vai ser música de trabalho, mas se entrar na novela a gente vai trabalhar”. Não estavam nem perguntando o que eu achava, estavam só me comunicando (risos)... e entrou na trilha da novela e por conseqüência foi música de trabalho, mas foi tudo forçado; ela não estava planejada para ser música de trabalho e de repente começou a tocar alucinadamente no rádio... e tocou muito, chegou a terceiro lugar, o mais alto que ela chegou nas mais tocadas foi terceiro lugar, o que pra mim era... com o Capital eu já pensava, “banda de rock nunca passa do 20”... a não ser quando é um top hit como o Jota Quest. No máximo fica ali pelas 20... e foi um sucesso, e celebridade, e a banda, começaram a prestar atenção na banda, a gente se preparando pra gravar um disco...
A – Não. Não foi nesse show, não. Foi no show do “Chamado”.
R – Não foi no Marina Lima?
A – Não. Foi no show do “Chamado”.
B – Foi noventa e... dois?
M – 94.
R - Ah, é... eu fui nesse show, Alvin. O engraçado é que a gente tava sentado do teu lado, acho. Porque ela falava assim: “Vou chamar uma pessoa”, daí ele levanta...
B – (a Alvin) Você tava no público?
A – Não me lembro, pode ser...
R – ...e eu “gente! Devia ter pedido um autógrafo! Ele tava aqui do lado!” (risos)
B – Mas enfim, então o sucesso todo acontece, e você...
A – Foi, eu comecei a ganhar dinheiro. Cara, meus dentes estavam um caco! Eu ganhei tanto dinheiro, assim, o tanto de dinheiro que eu ganhei na época, nos primeiros seis meses, um ano de “Eu não sei dançar”, (aponta para os dentes) tá aqui (risos). Eu tava ganhando dinheiro com o Capital, mas dentista é uma coisa muito cara! E eu tava em petição de... minha boca era a Bósnia, eu passei seis meses da minha vida indo três vezes por semana ao dentista. Com o dinheiro de “Eu não sei dançar”. Na verdade, quem ganhou o dinheiro de “Eu não sei dançar” foi meu dentista! (gargalhadas)
M – O dentista mudou de apartamento! (risos)
A – Não, não chegou a tanto, porque naquela época tinha muita inflação, e você sabe que música é paga... é... 60+45, 90+45... a cada 125 você é pago. Então, se você ganhou um dinheiro hoje, quando você vai receber, numa época de inflação a 40% por mês...
R – Não é nada.
A – Você não ganha... na época não ganhava dinheiro. Na época eu achava que era aquilo mesmo, né? Hoje em dia eu vejo que não é; eu já tive hits menores, bem menores, com a Ana Carolina, por exemplo, que deu muita mais dinheiro do que “Eu não sei dançar”, na época.
R – Tão pagando direitinho os direitos autorais?
A – Hoje pagam bem melhor, não tem inflação, meus contratos são bem melhores, tem toda uma...
B – Teu empresário não é mais aquele (risos)...
A – Não tenho mais empresário, também... bom, mas aí estourou, muita gente começou a me pedir música, eu fui mandando, eu nem lembro quem mais gravou, mas um bando de gente gravou música minha na época, todo mundo me pedia música, virei um darling do... eu estourei como compositor.
B – Ou seja, você já era respeitado e aí você ganhou a fama.
A – Exatamente.
B – Você ficou famoso.
A – Fiquei famoso. Eu sou um personagem da cidade por causa daquilo.
B – E nesses três anos seguintes que vão entre o Marina Lima e a turnê do “Chamado”?
Cris Braun
A – Bom, compus pra uma pá de gente, fiz o “Eletricidade”, junto com o Capital, e shows com o Sex Beatles, sempre que tinha oportunidade. A vocalista do Sex Beatles, inclusive, era a Cris Braun, que a Marina depois foi assinar no selo dela. Fizemos todo o circuito underground do Rio de Janeiro. Fizemos São Paulo, pouco, uma ou outra cidade de Minas Gerais, mas fizemos muito Rio. Tudo que era lugar bem underground nós fazíamos. Assim tipo, tem o restaurante tailandês de um amigo, nós íamos lá, fechávamos e fazíamos um show (risos). Porque qualquer coisa que a gente fizesse, tinha matéria no jornal, dia seguinte. Como a minha estrela de compositor estava em ascensão, a mídia me dava uma cobertura legal. Tenho até hoje dezenas de recortes de jornal com matérias sobre shows do Sex Beatles. O nosso maior show foi numa casa noturna chamada “Jazz Rio Show”, que ficava no subsolo do Hotel Meridien, em Copacabana. Entende? Só se ouvia jazz nesse lugar, o local era pra shows de jazz, nós tentamos, “acho que dá”, e tal, e fizemos. Foi o maior show do Sex Beatles. Tinha quase 100 pessoas pra fora. Uma loucura.
B – E sem um cd lançado.
A – Nada. Foi só em 93 que apareceu o Dado Villa-Lobos, que era dono do selo Rock It, estava procurando artistas pra gravar, e me perguntou se eu não queria gravar com ele. Eu topei e comecei a escolher o repertório para o nosso primeiro cd. Foi quando a Marina me chamou pra fazer “O Chamado” com ela.
A – Quando ela foi fazer “O Chamado” ela me ligou, e me disse “cara, você tem outras músicas? Queria ouvir suas músicas”. A gente já tava meio amiguinho, e tinha sido aquele sucesso todo, e ela queria compor junto comigo. Ver o que é que saía dali. Eu lembro que eu levei... eu tava fazendo “Deve ser assim”, eu comecei a fazer a música, e tinha “Stromboli” que era do repertório do Brasil Palace, aquela banda em que eu fui vaiado. Ela ouviu “Stromboli” e “Casa e Jardim”. E ela amou as duas, mas ela quis gravar “Stromboli”, porque as duas músicas são meio dark, são meio... mas acho que ela não quis gravar as duas ao mesmo tempo, então falou “depois eu gravo a outra”. E ela gravou isso, devo ter levado outra coisa que ela não gostou...
B – Fala um pouquinho de “Deve ser assim”.
A – “Deve ser assim” é uma canção pop que eu tava fazendo, outra balada... depois do sucesso de “Eu não sei dançar” eu comecei a fazer balada até... todo mundo queria “Eu não sei dançar 2”. Todo mundo. E eu falei: “Vou fazer umas baladas, sabe”... e as pessoas gravavam algumas que chegaram a tocar... eu não me lembro agora. Teve uns sucessos nessa época, menores, né, mas teve alguns. É uma balada bonitinha, ela gostou, terminamos a letra, depois ela botou um texto do Cícero na frente, que acabou que virou uma parceria de faixa, porque como é uma faixa só, o trecho dele e a música, é dividido por 3, a autoria. Mas é uma música separada, que é minha e dela, só.
R – E o Cícero, não tem um ciúme...
A – Eu não sei, eu me dou muito bem com ele. Eu adoro as coisas dele, acho que ele é bom pra caralho.
Marina e o irmão Antônio Cícero
B – E uma música dos três, que tal seria?
A – Ia dar briga (risos). Se bem que eu dou o maior mole pra Marina, cara, se ela disser “quero botar cocô nessa letra”, eu deixo (risos). Eu dou o maior mole pra ela. Ela me faz de gato e sapato e eu deixo ela fazer na maior alegria (risos). Ela e o Dinho. Também me faz de gato e sapato.
B – Bom, então é “Stromboli” e “Deve ser assim”...
A – Tem mais alguma minha nesse disco? Acho que não. Aí ela teve a idéia... quando a gente tava fazendo a música ela me ouvia cantando, ela sempre dizia “ah, sua voz é linda, sua voz é linda, sua voz é linda”, ela falou pro João Augusto, que era o produtor: “Ah, vamos chamar o Alvin pra fazer um dueto?” Ele me chamou, eu gravei a música inteira, depois botaram o quê?, dois trechinhos, uma vozinha de fundo (risos), o que pra mim tava ótimo...
B – Bom, o show do “Chamado”...
A – Ela me chamou pra gravar, eu gravei, fiz até um clip, que eu gravei o dia inteiro, aí apareço de relance fazendo assim (faz a pose)... mas enfim, whatever, eu tava achando tudo lindo, conheci Monique [Gardenberg], a gente começou até a... um rolo lá, enfim.... cara, o dinheiro que eu ganhei para gravar, o ato físico de eu cantar no disco, porque como eu não era um artista conhecido eles não quiseram gravar um contrato de royaltie, e não fizeram um contrato de royalties porque a Marina insistiu, eu ganhei um X pra gravar fisicamente, e um contrato de, sei lá, 10% sobre a faixa, eternamente. Enquanto a faixa estivesse vendendo, eu ganharia 10% dela, da faixa, não do disco. E eu tinha assinado um contrato com a Rock It, e eu não tinha visto uma cláusula do contrato com a Rock It que toda a minha participação era 100% deles, caso eu ganhasse, coisa... então todo o dinheiro que eu ganhei pela minha participação física no “Chamado” foi pra pagar a masterização do disco do Sex Beatles, o primeiro, do “Automobilia”, e o Dado ganha até hoje, todo ano que vende, é do Dado. Você vê como a gente pode ser ingênuo.
Dado Villalobos
B – Meu Deus...
A – Mas eu reclamei com ele e ele me deu um amplificador (risos). Falei “Dado, isso não é justo! Eu não tenho nem um amplificador!”, ele: “Toma o amplificador!” Mas ele ganha até hoje.
B – E o show?
A – Bom, aí ela me convidou pra fazer e eu fui. Estava subindo no palco com uma guitarra... mas a gente fez um show, antes, no Jazzmania, um projeto lá, que ela me convidou pra tocar violão e cantar com ela. Foi a primeira vez...
B – Você fez?
A – Fiz.
B – A turnê do “Chamado”?
A – Não, era um show especial, e ela me convidou pra eu e ela tocarmos violão... a gente cantou “Deve ser assim”, talvez a primeira récita da música em público. E ela sempre ficava falando pra mim, “o que é que você está fazendo em uma banda de rock, você devia estar cantando!”. E na turnê do “Chamado” eu cantava “Eu não sei dançar”, com ela. Isso eu me lembro muito bem porque eu entrava no palco completamente bêbado (risos)... eu me lembro do última dia, no show do Imperator, porque teve duas vezes no Rio, no Canecão e no Imperator... no último dia do show do Imperator a gente saiu pra jantar e eu bebi tanto, porque era a última vez que eu fazia aquilo, que eu cheguei em casa e passei a noite inteira vomitando a comida do Antiquarius, que é o restaurante mais caro do Rio! (risos) Eu paguei 200 reais pra ficar vomitando a comida (risos), de tão nervoso que eu fiquei, de estar com a Marina, no palco, cantando. Aí eu me lembro que as duas primeiras noites foram um desastre, a voz não saía, um inferno... e o público adorando! Tipo “pô, o cara tá tímido”, e na terceira noite eu arrasei! Cantei pra caralho, e isso que a terceira noite foi gravada, tem em algum lugar na EMI, tá lá o “ao vivo”. E eu me lembro que eu acabei de cantar a música, ela cantava a primeira parte, eu cantava a segunda e nós cantávamos os refrões juntos, e foi aquela gritaria! Ela olhou pra mim, falou assim, “nossaaaa” (risos). Eu me lembro disso até hoje, estou vendo a cara dela com aquele vestidinho que ela usava...
R – Ah, ela trocava de roupa, era uma sensação...
A – É, atrás de um biombo, que...
R – Nossa, eu fui com um namorado, ele me falou assim: “Se eu soubesse que ia ter isso eu tinha topado antes” (risos)...
A – Mas eu fui pra São Paulo, fiz lá, também... foi super legal.
B – No Palace?
A – Não me lembro, cara, eu bebia muito nessa época (risos). E eu bebia pra esquecer que eu ia fazer aquilo. Esse agora, o "Acústico", ah...
B – Você tira de letra.
A – Fiquei nervoso, e tal, afinal é a Marina, mas hoje é mais tranqüilo.
A – Aí ela foi fazer o “Abrigo”, ela queria gravar só músicas conhecidas, porque era um disco de covers, né? E “Casa e Jardim”, se eu não me engano, é a única música inédita. Ou talvez tenha mais uma. E ela gravou, eu achei lindo... eu achei ótimo ela gravar “Casa e Jardim” porque ela saca toda essa perversão, ela adora esse meu lado pervertido. “Stromboli” é uma música densa... Marina é uma pessoa muito densa, às vezes. Às vezes até demais, você tem que... “calma... volta, volta!”... ela entra numa linha de pensamento, ela vai naquilo e fica tudo muito denso, muito pesado, muito gótico, quase.
B – Aliás, a Renata descobriu uma peculiaridade do “Casa e Jardim”.
R – É uma coisa minha de virginiana...
A – Cara, tem várias... o Liminha, quando eu fui gravar “Eu não sei dançar”, ele falou “você sabia que essa frase parece uma música do Elton John?”
B – A primeira frase é de uma música do...
A – Chama-se “This Masquerade”. Aquilo lá era de propósito.
R – Carpenters!
A – Não, na verdade é uma música do Leon Russel. A versão hit, aqui no Brasil, é dos Carpenters. Essa música é um clássico de elevador, né? (canta a primeira frase musical de “Casa e Jardim) Aí, quando eu tava fazendo “Casa e Jardim” eu queria fazer uma música de elevador que falasse de coisas muito ruins... desespero existencial... quando as pessoas estão num tédio existencial tão grande que elas começam a apelar pra sadomasoquismo, pra... uma coisa meio Pasolini... mas ao mesmo tempo de elevador. Essa é a grande perversão da música... (canta) “Na piscina alguém encena a arte do Marquês de Sade”... e a primeira idéia era usar uma coisa meio “Garota de Ipanema”, mas aí ia ser meio grave.... (risos). Com “This Masquerade” eu tinha certeza que ia dar pra get away with it [me safar disso], como citação. Porque em música existe uma coisa chamada “citação” e outra chamada “plágio”. “Citação” você não precisa nem pagar nada...
Leon Russell em foto atual
R – E nem citar?
A – Não, você pode citar uma frase inteira numa música, até doze compassos é citação; depois de doze compassos é plágio.
B – Citar na autoria.
R – Citar, que eu digo, é declarar.
A – Pode ser, mas eu achei que ninguém ia nem... várias pessoas já me falaram que repararam, mas foi de propósito, mesmo. E a minha idéia era fazer, tipo (canta a primeira frase musical de “Garota de Ipanema”), mas aí achei que ia pegar muito pesado (risos). O Massena, quando a gente tava fazendo a música, ele fez o instrumental e eu fiz a melodia e a letra em cima do instrumental dele, me falou que parecia o “This Masquerade”, eu falei “não é”. Era pra ser uma citação da música do Leon Russel, autor da música e cuja versão é ainda mais elevador ainda... a música é perversa, sobre perversão, isso era uma perversão que eu achei que alguém ia entender. Depois eu desisti, e as pessoas reparam que parece, mas as pessoas não captam porquê. Claro, só na minha cabeça que aquilo está claríssimo.
B – A Marina entende, pelo jeito (risos).
A – Essas músicas ela gosta muito por causa disso, né? “Paris Dakar”, por exemplo, é uma tentativa de fazer uma coisa naquele clima, de novo...
B – “Paris Dakar” entra numa coisa quase que sombria...
A – “O mundo cai de joelhos”, sabe, ela amou aquilo...
R – Gente, é uma coisa cinematográfica...
A – É uma coisa pra ser densa. Quase gótica, de desespero...
B – Eu adoraria ver um clip de “Paris Dakar”.
A – Mas “Paris Dakar” nunca seria música de trabalho, como “Stromboli” e “Casa e Jardim” também não. Se aquilo toca no rádio as pessoas saem correndo.
B – Mas eu acho que “Paris Dakar” é uma música que em danceteria funcionaria maravilhosamente bem.
A – Talvez por causa do beat, numa boate mais moderninha.
Vertigo e cd solo de Dinho Ouro Preto |
AUTOMOBILIA e MONDO PASSIONALE
B – E o Sex Beatles nisso?
A – Aconteceu tudo ao mesmo tempo, em 94. Gravei com a Marina, o Dinho saiu do Capital e eu lancei o “Automobilia” com o Sex Beatles. Aliás, vocês relevem a ordem das datas, porque eu não me lembro de nada (risos). O Dinho montou o Vertigo e veio para o selo onde eu estava com o Sex Beatles, a Rock It, e eu o ajudei muito com esse cd. Fiquei feliz com isso, porque senti que estava retribuindo a grande ajuda que ele me deu no momento que eu me profissionalizei. Também participei muito como compositor do cd solo que ele gravou em seguida, já sem o Vertigo. Do meu lado, como falei, eu peguei a grana que ganhei com a Marina e paguei a mixagem do “Automobilia”.
B – Como é que foi esse cd?A – Ah, foi um grande barato. Pra você ter uma idéia, o Renato Russo faz uma participação na música “Más Companhias”...
B – É mesmo?
Paula Toller e Renato Russo
A – É, o Dado acompanhou toda a gravação e sugeriu que o Renato participasse. Chamamos e ele topou numa boa. E a Paula Toller fez um backing em “Valentino”. Lançamos e não vendeu nada (risos). Tivemos excelente cobertura da mídia, o pessoal do meio mesmo adorou, mas o público simplesmente passou reto. O bom foi que ao mesmo tempo levou a gente pra Virgin. Foi um leasing, a Rock It cedeu o Sex Beatles pra Virgin em leasing. A gente fez o segundo disco, que se chamou “Mondo Passionale”, a gente até gravou “Stromboli”... que a banda, também, aí foi a nossa fase da gente não estar se agüentando mais. Mas não era pro mal, era pro bem, sabe, a gente se ama até hoje, a banda inteira, mas a gente não tava conseguindo conviver, era uma época em que todo mundo começou a se apaixonar pela pessoa errada... e se você for ouvir o disco, ele é cheio de... a faixa título, “Mondo Passionale”, é sobre se apaixonar pela pessoa errada. Tava todo mundo se apaixonando pela pessoa errada! O Ivan, o outro guitarrista, não conseguiu gravar os solos dele... tava tão doente de amor pela namorada de uma amigo dele! (risos) O cara tava sofrendo tanto que ele não conseguia tocar! Tom Capone teve que gravar os solos dele!
Tom Capone
R – Ah, é?
B – O produtor...
A – É, ele era dono do estúdio e guitarrista, tava ali mesmo, “entra aí”...
R – Maria Rita falou que escolheu a gravadora por causa dele.
A – Mas ele é um amor de pessoa, sabia? Eu gosto muito dele. [Tom Capone morreu sete meses depois dessa entrevista]
B – No “Registros à Meia Voz” não tem músicas tuas...
A – Não teve.... não sei dizer porquê, a gente tava super-amiguinhos, na época...
B – Ah, não, ela não queria fazer... a gravadora exigiu...
A – Ela queria mudar de gravadora, alguma coisa... é um disco meio...
R – Foi na hora de fazer o show de “Abrigo” que ela entrou em depressão.
A – Olha, essa depressão dela foi uma coisa que eu nunca entendi. Tudo bem que você sofre por amor mas eu acho que no caso dela foi mais pesado, acho que misturou várias outras coisas, ela mesma fala disso, né, cara, a idade, pai morreu...
B – Não parava nunca...
Alvin com os dois cds do Sex Beatles, Mondo Passionale e Automobilia |
B – Era uma crise existencial plena.
A – É, e assim... eu também tenho as minhas depressões, como todo mundo, mas a dela foi uma coisa tão apavorante, cara, que eu sinceramente não quero passar perto daquilo! Você via a cara dela... eu olhava pra ela, você vê o rosto de uma pessoa profundamente triste! Mas de uma profundidade, aquilo, era uma coisa lá no fundo da alma... eu olhava aquilo, sabe quando dá uma... e foi a época em que o Renato morreu, também, sabe, e puta... e eu adoro os anos 90 (ri)... apesar de tudo.
A – Mas aí os Sex Beatles foram gravar o segundo disco, e a gente já não tava muito bem, mas não no sentido pessoal, não tava bem enquanto... tava todo mundo muito mal, e aquilo refletia no... e a Marina, ela sempre, sempre, desde o primeiro dia que eu conheci ela, ela falava “ai, você é cantor, grava solo”, não sei quê... e ela mesmo começou, uma época, ela ligou, ela, ligou pro Jorge Davidson porque ela tava querendo ir pra Sony...
B – Ele foi diretor artístico do teu cd.
A – Ele foi o diretor artístico, mas vou te contar a história agora; ele foi por acaso diretor artístico desse disco. Ela ligou pro Jorge Davidson e falou: “Você tem que cotratar o Alvin!” Aí o Jorge Davidson me liga, eu já tava meio que querendo sair da banda, já tava achando que... não dava dinheiro, nós gravamos o segundo cd, tinha mais um no contrato, mas aí eu falei “acho que não vale a pena, ou então vamos dar um tempo longo”, e a Marina começou esse processo. E ela ligou pro Jorge, o Jorge me ligou no dia seguinte, pra você ver o poder... de Madame Mariná (risos)... “temos que gravar um disco, você é um compositor conhecido, você é um compositor bem-sucedido, a Marina falou que você canta muito bem, vamos fazer um disco, tal, tal, vem conversar”. Fui lá conversar com ele, ele me falou: “Vamos fazer o seguinte: vamos fazer uma demo. Você tem músicas?”, falei “Tenho”. “Regrava algumas coisas, regrava essa, Eu não sei dançar, vamos fazer uma demo, vai com o Fábio Fonseca, que é da mesma tchurma, grava uma demo, eu levo pra reunião”, porque gravadora tem isso; pra contratar tem um processo. “Eu levo pra reunião, tudo dando certo, vamos fazer um disco”.
O pianista Fábio Fonseca |
Torquato Mariano
R – O Torquato era guitarrista... ou baixista?
A – Era guitarrista. Bom pra caralho! Sou fã dele. E ele era diretor artístico, alguma coisa, da BMG. Engraçado que onde ele vai, em seguida o Jorge Davidson vai. Aí você vai entender porque ele está nesse disco. Aí eu falei assim “ah, cara, tem umas músicas aqui, mas é que eu tô guardando, tô pensando num projeto solo que eu tava desenvolvendo na Sony, mas eu não sei o que está acontecendo ainda"... aí ele falou “ah, é? Posso ouvir?”, “pode, né?” Mandei a fita pra ele, no dia seguinte ele me liga: “Cara, amei! Quer fazer um disco aqui?” Eu falei “quero!”. “Vem conversar”. Fui lá conversar, mas sabe assim... nietshianamente fácil, um dia teve a reunião, no dia seguinte tavam discutindo contrato, que era contrato de iniciante, aquilo tudo é da gravadora, eu não tenho nada... no terceiro dia eu tava discutindo o produtor. Eu tava muito amigo do Liminha, então falei “ah... de repente, sei lá, Liminha!”, e eles estavam me amando tanto, dentro da gravadora, que falaram “vamos ligar pro Liminha agora!”, “Liminha?”, “Alvin, claro!”, “mas Liminha, você sabe que o budget de artista novo, não sei quê, é X”, o Liminha “não, imagina!” Passei seis meses, eu e Liminha: “quá quá quá quá”, dentro do estúdio! Gravando, nos divertindo, fizemos este disco, que é muito bem quisto.
Liminha |
B – No hard feelings.
A – Não, a gente se dava super bem, ele foi super sincero, eu agradeci a ele por isso... mesmo depois do que aconteceu na BMG eu voltei a agradecer a ele, agora vocês vão saber porquê. Ele foi ser diretor artístico da BMG, eu fiz o disco, ele não interferiu, a não ser no processo do contrato do Liminha, que ele falou assim “por favor, pára de fazer o disco porque o Liminha não assinou contrato, e se o Liminha não assinar contrato ele pode pedir quanto ele quiser por esse disco. E você sabe, você é artista novo”, tal, eu falei “bom, isso é papo de política, eu não vou me meter, então tá”. Mas eles resolveram rápido, e ele e o Torquato começaram a bater cabeça lá dentro. No finalzinho do disco, quando tava mixando, o Torquato pediu demissão porque não agüentava o Jorge (risos). E quem cuidava de mim dentro da gravadora era o Torquato, foi a pessoa que me levou pra lá, me achava o máximo, me vendeu pra gravadora inteira, todo mundo passou a me amar porque ele me amava... e aí, quando o disco vai sair o Jorge me vê como coisa do Torquato... e ele já não me via como artista, tal, bom, e aí o disco saiu, teve críticas maravilhosas... a melhor crítica que eu tive na minha vida, um cara do Estadão, que falou assim: “Ou esse cara vai ser o maior astro pop do mundo, ou esse disco vai ser um grande fracasso. Não tem meio termo”. E foi um fracasso... comercial. Mas eram, assim, laudas falando bem...
B – Foi um sucesso de crítica.
A – Foi um mega sucesso de crítica! Eu ganhei metade de página na Ilustrada, página inteira no Globo, foi um mega sucesso, fiz programa de TV, mas o disco não vendeu. Chegou a tocar um pouquinho no rádio, e tal... a primeira música de trabalho rolou um pouquinho, uma coisa modesta...
M – A “24 dias por hora”. Tinha o clip na MTV... passou bastante na MTV.
A – Foi um sucessinho modesto, tudo preparado para a segunda música de trabalho, que ia ser “Setembro”, uma balada, Balada de Alvin L, sempre deu certo, é uma música muito bonita, tem várias gravações, inclusive, já, tem umas quatro ou cinco, e nunca foi música de trabalho.
M – Veja [banda de Mingau, que tocou em bandas que vão desde Ratos de Porão e os Inocentes, até o Vertigo, de Dinho] gravou, né?
A – Gravou, é.
M – Ficou legal.
A – É, ficou bonito E quando ia ter a segunda música de trabalho, me ligaram da gravadora: “a gente está pensando em fazer um remix dance da música, pra pegar pista, também... e toca um rádio, de repente puxa, depois, se for muito sucesso a gente põe de faixa bônus”, não sei quê, “legal! Que maravilha”, não sei quê... aí um belo dia, minha empresária me ligou, era a Cecília Seffi, nessa época, e me falou assim: “Cara, tá acontecendo alguma coisa”. Eu falei “por quê?”, “Porque eu liguei pra lá pra resolver uma assunto, neguinho atendeu o telefone, ficou desconversando...”. Falei: “O que que houve? O que será?” Ela falou “não sei. Vamos marcar uma reunião”. Ela disse que foi uma dificuldade marcar reunião, marcaram a reunião, e aí quando chegamos lá, assim, o artista, em qualquer gravadora, o porteiro conhece quem são os artistas da gravadora e abre a porta imediatamente; nesse dia me pediram pra eu sentar na sala de espera que iam ligar. Ela olhou pra mim e falou: “Tá rolando alguma”. Aí entrei lá, começou a reunião com o cara do marketing, que era até meu amigo, ele cheio de dedos, falei “Cara, o que é que tá acontecendo?” Ele falou “cara, assim, o Jorge mandou parar tudo...”. Falei “pô, como assim?” “Não, não vai mais trabalhar o disco...”.
Jorge Davidson
R – Putz...
B – Pulled the plug.
A – Pulled the plug. Aí eu saí de lá com a Cecília, falei “o que é que a gente pode fazer?” Ela falou “olha, se eu fosse você eu desistia da carreira, pelo menos nessa gravadora”. Aí tá, sabe, por causa de um loop hole lá... tinha uma coisa chamada... que depois do primeiro disco, tanto a gravadora quanto o artista podem rescindir contrato até uma data X, mas essa data tinha passado, quer dizer, teoricamente nenhum dos dois podia... mas aí eu liguei pra gravadora e falei “o Jorge não tá a fim de mim, aconteceu isso e isso”, ela “eu tô sabendo, tá todo mundo na gravadora chocado, porque todo mundo leva a maior fé em você, acha você maravilhoso, suas músicas lindas, todo mundo tava até a fim de fazer um Arnaldo Antunes com você”, sabe, tipo, ficar anos gravando sem vender disco (risos)... é o amor que tem, né, as pessoas gostam do que você faz, o Arnaldo Antunes nunca vendeu disco.
Arnaldo Antunes
B – Claro. Um sucesso modesto, mas um sucesso respeitado.
A – É, exatamente, um sucesso de crítica, vende algumas cópias, tudo bem, “não vai gravar com o Liminha de novo, nem ficar meses no Nas nuvens, mas”...
R – Mas vira uma grife.
A – Vira uma grife.
B – Um sucesso seleto.
A – Aí eu falei “bom, dá pra virar isso?”, “Dá... a gente tem uma outra cláusula aqui que se em um ano e meio nem a gravadora nem o artista se manifestarem para uma segunda obra, o contrato se tornará nulo”, uma coisa dessa, então todo mundo se fingiu de morto e o contrato expirou, né? Cara, nesse dia eu falei: “Eu não sou artista, mesmo...”. Eu fiquei com ódio do Jorge... eu fiquei com ódio. Sabe, eu não sou artista, eu sou compositor, eu não gosto dessas coisas, fazer rádio, fazer coisa, é chato! Eu gasto dinheiro, o dinheiro que eu tô ganhando compondo eu tô botando na carreira e, sabe, e não tá tendo retorno...
R – E show, você gosta?
A – Não, não suporto, é tudo uma tortura pra mim... no Sex Beatles eu gostava porque tava tocando guitarra distorcida, fazia um barulho, era divertido, eu não cantava, só gravei uma música no primeiro disco. Eu nunca gostei, assim...
B – Mas você fazia isso já há vários anos...
A – Porque eu achava que era pop star, cara, mas aí de repente eu caí nessa real: “O Jorge tava certo!” Eu não sou artista, eu não tô com vontade disso, lá no fundo, lá no fundo, eu tô fazendo isso porque de repente aquilo vai me dar dinheiro, porque no Brasil, artista ganha dinheiro fazendo show, né? Compositor, até então, você não ganhava tanto. Eu comecei a ganhar, todos os compositores começaram a ganhar quando a moeda estabilizou. Ali, primeiro: a inflação parou de comer teu dinheiro, segundo: começou a moralizar tudo. É uma nova era, se você for ver o governo, a era Fernando Henrique, que todo mundo fala “ai, Fernando Henrique”, não sei quê, mas foi ótimo, começou a se moralizar tanta coisa, no Brasil... e também, o mercado brasileiro começou a ficar mega. Você começou a falar de milhão de discos, sabe... no começo dos anos 90, por exemplo, o “Marina Lima” vendeu 180 mil cópias e era um mega-grande sucesso! Hoje em dia você vende 180 mil cópias... hoje em dia não, mas até alguns anos, era... e eu caí nessa real nesse momento, vendo isso, sabe... e realmente eu não gosto de fazer isso, eu tava fazendo porque eu acho que de repente se eu fosse pop star, talvez um sonho de adolescente que ainda estava em mim, e ao mesmo porque na minha cabeça, assim, a única forma de você ganhar dinheiro com composição era sendo artista, também. Aí eu falei “bom, eu ganho algum dinheiro, eu acho que dá pra eu não me incomodar com isso”, eu fiquei meio cheio da coisa, foi um desgaste, tudo, fazer os shows, a turnê, a “turnê”, né, 3 ou 4 shows (risos), a história do Jorge... hoje eu agradeço a ele...
B – Você perdoou o Jorge aí.
A – Eu perdoei, cara, e eu agradeço a ele, hoje em dia, sabia? Ele falou uma coisa que talvez eu não tenha gostado na época, mas, sei lá... há malas que vão pra Belém.
B – Eu queria te perguntar sobre o repertório desse cd, especialmente da música “Iko Iko” (risos).
A – “Iko Iko”. É uma música folclórica de Nova Orleans, é uma coisa meio créole [mistura de povos que colonizou New Orleans], e essa música é uma música folclórica, que cada pessoa que grava ela vira autor, é aquela que vem “trad ar”, que é traditional arrangement by, e você vira autor. Até que um dia, nos anos 50, alguém fez um copyright dela e virou o autor. Mas é uma música folclórica e a letra dela varia, assim, de pessoa para pessoa. E eu tinha ouvido uma versão... se você ouvir, é que ninguém presta atenção nas coisas, a minha versão é completamente pornográfica! Em inglês. Em créole... eu sou metido (risos). Deixa eu ver... “my fat boy”... “set your bang on fire”... “my fat boy” é meu pau. “Your bang” é seu whatever buraco, on fire (risos). E essa era uma versão de um cantor de blues que eu tinha escutado na década de 40, e eu também dei uma mexida na história, mas ela é completamente pornográfica e ninguém nunca reparou isso. Mas eu nunca levei crédito como compositor porque ela tem copyright. A versão hit, por exemplo, que é de uma banda que pegou o copyright, é uma versão toda "amorzinho". Minha versão é baseada num cara que é meio pornô, mas é meio em creóle, ninguém entende... eu achei que alguém ia sacar, mas ninguém nunca sacou.
B – É uma das tuas preferidas, que...
A – E é minha preferida porque ela ficou linda, os vocais que eu fiz com o Christian [Oyens], (canta) “ôôôô”, sabe? O Liminha AMA, ele diz que é a melhor produção dele, ele põe nas festinhas dele. Mas eu adoro música folclórica americana de negros, principalmente. “Jamaica Fairwell”, (canta) “I’m sad to say I’m on my way”, adoro essas coisas, “Sixteens Tons”, “The Lion Sleeps Tonight”, acho que é memória ancestral, isso entrava em mim quando eu era criança, vinha de algum lugar, que nem Beatles e Stones. Só que isso é uma coisa que ninguém conhece, então de repente eu tenho uma missão de atualizar isso. E é uma canção americana, que é um pouco imperialista, mas ao mesmo tempo de povos oprimidos que foram levados pra lá...
B – Créoles.
A – Créoles, então teve todo um... o release do Hermano Vianna falava... intelectualizava a coisa, falava que minhas raízes estavam numa Tower Records [famosa rede de lojas de discos com mais de 90 filiais nos Estados Unidos, e que faliu em 2006] de Singapura. Que eu achei perfeito... ter minhas raízes numa Tower Records de Singapura, e isso faz sentido pra mim.
B – "Hemingway" é muito boa, também, e a Mileine nos disse que...
M – Era a música favorita do Renato Russo.
A – É, eu já ouvi falar disso e fiquei muito feliz... ele nunca chegou a me dizer isso assim, com todas as letras, mas... era um amigo muito querido. Um cara extraordinário.
B – Como é que é o lance do Hemingway?
A – A música "Hemingway" foi uma história meio... eu tava saindo da casa de um amigo, umas três horas da manhã e eu vi um acidente, cara, na minha frente... de carro. E só tinha eu na rua na hora que aconteceu o acidente... foi horrível, o acidente foi horrível, o carro virou, capotou, quase caiu em cima de mim, um inferno... e naquele segundo eu falei “o que é que eu faço?”... e uns três segundos depois começou a aparecer gente de tudo quanto é lado, e as pessoas foram salvas, eu acho, né, e tal, e a música é um pouco sobre isso, e sobre você estar diante de uma coisa e o que é que você faz, né? E a coisa que me vinha à cabeça era o Hemingway, porque ele tinha aquela coisa macho, de resolver tudo sozinho, de ser o super-homem, e a música é sobre isso, se houver outra vez, eu quero ser Hemingway, quero ser o super homem, quero ser o cara que vai e faz a coisa.
Ernest Hemingway
B – “Alguma Prova” você lançou nesse cd.
A – Foi a primeira gravação de “Alguma Prova”.
B – Era música inédita tua com a Marina.
A – A gente fez juntos, não vou me lembrar quando...
B – Deve ter sido, talvez, na época dessa convivência tua do “Chamado”...
A – Talvez na época do “Abrigo”. É depois do “Chamado”, com certeza. Volta e meia ela me liga... volta e meia, cara, assim, vamos dizer a cada seis meses ela me liga: “Vamos fazer umas músicas para outras pessoas?” E a gente em uma época fazia. Hoje em dia... a gente se encontra, fica falando abobrinha e não faz porra nenhuma (risos).
B – E fazendo música pra outras pessoas; a Leila Pinheiro, a Belô Veloso...
A – Deus e todo mundo. Lulu Santos, Ana Carolina, Pedro Mariano... Viper já gravou música minha... Regininha Poltergeist já gravou minha! (gargalhadas) Eu vou de Regininha Poltergeist a Milton Nascimento!
Regininha Poltergeist e Milton Nascimento
M – O que é que você achou da gravação do Milton [de “Eu não sei dançar”, incluída no cd “Crooner”, de 99]?
A – Eu gostei. Eu tenho uma coisa a dizer sobre aquela versão: ele canta muito bem, ele é um cantor, eu não sou fã dele porque ele é muito MPB, aquela coisa assim... mas o arranjo de cordas foi feito pelo Graham Preskett, que era o arranjador de cordas do Mott The Hoople que era uma banda que eu a-ma-va, quando eu era adolescente, e jamais imaginaria que o cara que fazia os arranjos pras músicas do Mott The Hoople faria o arranjo pra uma música minha!
B – É o professor fazendo um arranjo para o aluno.
A – Eu fiquei assim... agora, a versão que eu mais, quer dizer, não sei se eu mais gosto, mas a que eu acho mais engraçado, é a da Eugênia Melo e Castro, não sei se vocês já ouviram...
R – A portuguesa?
A – É, a portuguesa, a Maria Bethânia de Lisboa! (levanta-se e dirige-se a seu aparelho de som) Ela me deu o cd. A música foi lançada em single, lá, e foi um pop hit! [depois incluída no cd “Lisboa dentro de mim”, de 93] É muito engraçado. A primeira vez que eu ouvi isso eu caí na gargalhada! E todo mundo que ouve cai na gargalhada, porque pra brasileiro, eu falei pra ela, é muito engraçado (ouvem-se os acordes da introdução gravação de Eugênia).
O arranjo é do Wagner Tiso. Dura 8 minutos (risos)... (mais acordes) até agora tudo muito bem... (quando se ouve a voz de Eugênia cantando “Às vezes eu quero chorar... mas o dia nasce e eu esqueço”, Alvin cai na gargalhada) parece que está tirando uma com a tua cara!! (ri e vai rindo ao longo de toda a música) É lindo, ela tá cantando seríissimo... é que pra brasileiro...e ela é a maior louca, maior garotona...
B – É o Wagner no piano?
A – Não sei, sabia, só sei que o arranjo é dele. Depois ele me falou que a base foi toda gravada aqui e a voz foi gravada em Portugal. Aí vai horas de arranjo.
B – Quer dizer que essa música já viajou o mundo?
A – Viajou o mundo. Eu recebo dinheiro do mundo inteiro, cara! Tem até um demonstrativo, Grécia, Dinamarca, Tailândia... eu tenho uma música que foi gravada pelo Sex Beatles chamada “Tudo o que você queria saber sobre si mesmo”, que eu regravei aí [no cd solo]; essa música, vem dinheiro até da Rússia e eu jamais consegui descobrir que porra de gravação é essa que foi lançada no mundo inteiro. A editora já tentou tracejar e não consegue, diz que o dinheiro vem da música sem especificação de quem é o artista.
Eugênia Melo e Castro
R – Qual é tua gravação preferida de “Eu não sei dançar”?
A – Acho que é da Marina, porque foi a primeira, mas eu tenho umas experiências com essa música, assim, teve uma vez, logo depois que ela virou um hit, que eu tava num ônibus, nessa época eu ainda tava andando de ônibus, que eu tava sentado e tinha uma mulher na minha frente, olhando pela janela, assim com o olhar meio triste, e ela começou a cantar a música... baixinho, sabe, e eu tava atrás e eu vi aquilo... eu falei “caralho!!”... porque ela tava com o olhar triste assim, sabe... e volta e meia alguém fala “ah, eu chorava tanto”, “ai”, e não sei quê, e a música é tudo mentira (risos).
B – O anúncio de prédio...
A – Mas essa é a música que vai tocar no meu enterro. É o que os americanos chamam signature tune, é a música que te define enquanto... o Rolling Stones é [canta a primeira frase musical de “Satisfaction”] “Pá, pá, parará”... você identifica o artista imediatamente. É o meu “Satisfaction”, como autor. Por mais que “Natasha” tenha vendido o quíntuplo de discos...
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Parte 1
Parte 2
Parte 4 - Final
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