Irene, circa 1965 |
FILMES POLÍTICOS
Posterzinho mequetrefe feito pela "Renown" para o filme que, pelo jeito, não tem poster |
THE MISSING SCIENTISTS (1955)
Este é um
dos filmes menos significativos da carreira de Irene, e ao mesmo tempo um dos
mais curiosos. Em primeiro lugar porque tem apenas quarenta e cinco minutos, ou
seja, mal qualifica para ser um longa e está mais para um episódio de série
televisiva. Em segundo lugar os primeiros seis minutos do filme são um documentário sobre as instalações nucleares de Harwell, em Oxfordshire, então nos perguntamos se é um filme ou um documentário com cenas
dramatizadas. E terceiro porque diz o IMDB que seu lançamento ocorreu na Inglaterra
em 1955 sem especificar o mês, o que nos dá a sensação de que ele nunca foi
exibido comercialmente. Foi provavelmente encomendado pelo governo da Alemanha
Ocidental como propaganda anti-bélica e anti-comunista e nunca entrou em cartaz. A propósito, ele não tem cartaz. A foto
utilizada aqui (bem tosca, aliás) foi elaborada por uma empresa chamada “Renown Pictures LTD.”,
que restaurou a cópia original (mal e porcamente) em 2009 e deve ter os direitos sobre o filme, já que vem comercializando-o via streaming pela Amazon.
O site da “Renown”
nos oferece pistas interessantes. Eles afirmam ser uma distribuidora
independente de filmes B britânicos e esclarecem parte da questão quando
explicam que esses filmes eram feitos “como apoio da atração principal,
produzido geralmente com um orçamento modesto, embora fossem terreno fértil
para futuros atores, escritores e diretores”. Ou seja, um curta anabolizado exibido
antes do filme que as pessoas de fato foram assistir. The Missing Scientists nada tem de britânico, mas como a “Renown”
também se descreve como dona de “uma das maiores coleções privadas de direitos
cinematográficos do mundo”, não seria absurdo imaginar que dentro de um lote adquirido,
consistindo de curtas esquecidos das décadas de 30 a 50, entrassem as produções
da obscura “Interwest Film”, responsável pelo filme. Além disso, considerando a
duração, a superficialidade e, sobretudo, a presença da jovem e estupenda Irene
Papas, The Missing Scientists se
enquadra facilmente na categoria de um filme barato feito para promover uma
estrela em ascensão.
Székely em meados da década de 30, ainda na Hungria |
Dito isto,
analisemos a equipe envolvida na produção do filme. O diretor é o húngaro Steve
Sekely (1899/1979), que começou a trabalhar com cinema na Hungria, usando seu verdadeiro
nome, Székely István. De 1930 a 1938 ele dirigiu quase trinta filmes de
grande apelo comercial e popular, com as maiores estrelas do cinema húngaro. Era conhecido e respeitado. Por
essa época a ameaça do nazi-fascismo deixou de ser só uma ameaça e Székely, que
era judeu, preferiu não ficar para ver a Hungria cair sob o domínio de Hitler,
o que ocorreu pouco depois. Foi para os Estados Unidos com a esposa, a atriz Irén Ágai, a quem dirigiu em vários de seus filmes. Não
encontrando,
possivelmente, lugar nos grandes estúdios, se contentou com produções menores,
filmes B de baixo orçamento, com estúdios de segunda como o Republic, o
Monogram, PRC, e qualquer pessoa que puxasse um talão de cheque e pagasse os
custos da produção. O mais marcante, entretanto, é que em meio a caça-níqueis divertidos
como Revenge of the Zombies (1943) ou
Blonde Savage (1947), Székely sempre
dava um jeito de produzir filmes com um pano de fundo pacifista ou anti-nazista.
Women in Bondage, que em português recebeu o nome de "Escravas de Hitler" |
Em 1944 vieram, um atrás do outro, Waterfront, sobre um espião nazista que perde uma caderneta com endereços secretos e começa a ser chantageado; e Lake Placid Serenade, sobre um patinadora no gelo que entra em desespero quando descobre que seu país, a Tchecoslováquia, foi invadida pelos nazistas. Não importava que fossem filmes de 70 minutos ou superficiais. Székely era um diretor de filmes B e essa foi a maneira que encontrou de ajudar os aliados e seus amigos húngaros que sofriam a dominação nazista. Em 1950 sua esposa morreu, com apenas 38 anos e ele seguiu trabalhando, agora também em TV. E é a essa altura que chegamos a The Missing Scientists.
Friedrich Joloff, Kurt Kreuger, Reinhard Kolldehoff e Paul Campbell |
É sobre dois cientistas, Max Anders (Kurt Kreuger) e Gio Manfredi (Friedrich Joloff), que trabalham no laboratório de pesquisa nuclear de Harwell, na Inglaterra. Eles recebem uma proposta para trabalhar na Alemanha Oriental, com a promessa de que ganharão seus próprios laboratórios e fundos ilimitados para pesquisa. O motivo para terem aceito, segundo Anders, é que não havia incentivo à pesquisa no lado ocidental. Junto a eles virão também os cientistas norte-americanos Dr. Ambrose, Dr. Renard e sua filha Ruth Renard, que deixarão seus postos na usina de Oak Ridge, no Tennessee. Anders e Manfredi não comparecem a Harwell e começam a ser procurados.
Kurt Kreuger e Irene |
Visual inqualificável... uma mistura de Julie Andrews com Christy Turlington |
Todos se reúnem em uma casa de Munique, controlada pelo agente alemão Valentin Kolchak (Reinhard Kolldehoff), que só aguarda a chegada de todos para que possam se encaminhar a um aeroporto clandestino e cruzar a fronteira. Gina reencontra Anders e os outros se passando por Ruth e num momento em que Kolchak sai da sala ela conta tudo. Anders não acredita e confronta o alemão, revelando a farsa de Gina e Dick e botando o plano da polícia a perder. O alemão nega as afirmações de Gina, mas o estrago já foi feito: todos desistem de ir, menos Anders. Kolchak promete que os outros poderão ir embora sem quaisquer problemas e os dois vão para o aeroporto. Chegando lá, bêbado, com uma garrafa na mão, o alemão confirma que serão todos assassinados, assim como Renard. Anders então finge que vai beber, toma a garrafa e a arrebenta na cabeça do alemão. Volta correndo para a casa, onde encontra toda a operação policial, mas nem sinal de seus amigos.
Jackie Collins, aos 18 anos |
The Missing Scientists é o que é. Quarenta e cinco minutos do que poderia ser uma série semanal com casos de polícia. Uma bobagem leve e inofensiva que só se salvou do limbo pela presença de Irene. Concluo fazendo uma ressalva da maior justiça: a música que acompanha o filme é bonita, bem executada e de grande qualidade. Uma trilha sonora digna de um filme de Hollywood. Mas como se trata de uma produção menor, compositor, orquestrador e músicos não são citados nos créditos. Uma pena.
GORKE TRAVE (1966)
Filme do iugoslavo (nascido na atual Sérvia) Zivorad Mitrovic, da primeira leva de cineastas iugoslavos do pós-guerra. Roteiro de Frida Filipovic e Michael Mansfeld.
Garota iugoslava — Lea Weiss (Papas) — é enviada ao campo de concentração de Auschwitz. Há um conventilho reservado para bandidos de alto coturno no campo, e ela se prostitui ali por pequenas regalias. Bonita e jovem, é retirada do conventilho por um médico da Gestapo — Dr. Berger (Hans Zesch-Ballot) — que faz experiências com esterilização nas prisioneiras. Ela se torna vítima da experiência e logo depois amante do general. Com isso consegue se livrar das experiências seguintes, que envolvem o congelamento de pessoas e outras monstruosidades. Quando se cansa da moça, o médico a envia de volta ao conventilho, onde ela permanece até o fim da guerra. Anos mais tarde, ela conta parte de sua história a um namorado — Bora Petrovic (Daniel Gélin) — que lança as memórias em livro.
Lea: prostituição e experiências monstruosas |
Passados vinte anos, um promotor — Hoffmann (Heinz Drache) — começa a juntar provas para poder prender Berger, que está solto e feliz. Procura Lea, que se recusa a ajudar e ainda nega tudo que foi publicado no livro de Bora. Hoffmann vai a Belgrado e pede que Bora vá com ele até a Alemanha para tentar convencer Lea a testemunhar. Ele aceita e os dois descobrem que Lea está sendo chantageada e ameaçada para não testemunhar. Aos poucos ela vai se abrindo e contando detalhes ainda mais terríveis de seu inferno no campo de concentração. E com isso as ameaças vão aumentando e acabando com a frágil estabilidade emocional e mental de Lea. Os pesadelos com o passado, que a infernizam desde a guerra, vão se tornando piores e se misturando com a realidade.
Papas: Beleza inigualável |
Papas e Daniel Gélin |
Jean Claudio, Papas e Heinz Drache |
Lançamento de Gorke Trave, 1966 |
Gorke Trave — "ervas amargas" — é uma referência ao maror e ao chazeret, pratos servidos na páscoa judaica e que podem ser feitos com alface, escarola ou endívia. No filme, há uma cena em que Lea está lendo o livro para o qual deu seu fatídico depoimento e em certa passagem ela fala de como era o Pessach na casa de seu avô. As ervas amargas simbolizam o sofrimento dos judeus no Egito; neste caso, Lea faz um paralelo do sofrimento dos judeus no exílio.
O filme foi lançado em 1966 na Iugoslávia e no ano seguinte na Alemanha Ocidental, com os títulos Bittere Kräuter (literal) ou Die Zeugin aus der Hölle ("A Testemunha do Inferno"), mais popular. E desapareceu com toda a razão, logo em seguida. A única coisa que salva este filme do penumbroso abismo de merecido esquecimento, é a presença catártica de Irene Papas. É de se pensar o porquê deste filme tão bobo ser o segundo que ela fez depois do sucesso avassalador de Zorba; talvez pelo fato de que, por conta do typecast, choveram papéis de gregas exóticas que não lhe apresentavam maior desafio; ou porque ela sempre apreciou a idéia de trabalhar em países com culturas diferentes. Papas aparenta estar falando inglês mas é dublada em servo-croata, e graças à direção capenga ela está deliciosamente careteira. Mas se há um razão para perdoar Mitrovic por Gorke Trave é ele não ter economizado cenas em que podemos ver Papas em toda o esplendor de sua beleza. Tudo nela é maravilhoso. Lamenta-se que o material seja tão ruim, porque nas mãos de um verdadeiro cineasta, a atriz teria dado uma performance poderosa, assustadora e comovente. Não é o que acontece, mas pelo menos eterniza-se a divina beleza refulgente de seus 39 anos.
Z (1969)
A Grécia
levou décadas para que sua situação política se estabilizasse, após a 2ª
Guerra. Houve guerra civil, gabinetes se sucederam, a monarquia se equilibrava
por um fio e pouco ajudou que nas eleições parlamentares de 1961 fosse eleita maioria
da União Nacional Radical, partido conservador criado pelo Primeiro-ministro Konstantínos
Karamanlís, em seu terceiro mandato. O velho Geórgios Papandréou, ex-Primeiro-ministro,
fundador e líder do partido adversário, a União Central, acusou fraude e
violência no pleito, além da ação de um “paraestado” (ou “estado paralelo”) na
concretização desse logro eleitoral, que envolveria a Agência Nacional de
Segurança Grega (EYP) e grupos paramilitares. Em meio a essa grita, que em nada
alterou o resultado das eleições, quem assomou ao parlamento helênico pela
Esquerda Democrática Unida — o outro partido oposicionista, que concorreu
coligado com a União Central — foi o médico e ex-atleta Grigoris Lambrakis, que
desde a 2ª Guerra pautava sua agenda política pelo pacifismo.
A célebre imagem de Lambrakis |
Entretanto,
os movimentos pacifistas daquela época, ao redor do mundo, eram associados
diretamente ao comunismo; o Conselho Internacional da Paz surgira em 1950 sob
inspiração do Kominform, pregando o desarmamento, o anti-imperialismo e a
soberania dos povos. Quando Lambrakis resolveu criar uma comissão internacional
de paz na Grécia, alinhada extra-oficialmente a esse Conselho, a polícia passou
a reprimir todas as manifestações organizadas por ele. Isso ocorreu um punhado
de vezes, não só na Grécia, e ficou particularmente célebre a marcha pacifista que
ia da cidade de Maratona a Atenas, em abril de 1963, quando a polícia prendeu dezenas
de manifestantes e Lambrakis seguiu sozinho erguendo uma faixa com a palavra “Grécia”,
ladeada do símbolo universal da paz. A situação era bem mais grave do que se
podia supor, e a repressão policial vinha acompanhada de constantes ameaças de
morte ao médico. E em 22 de maio de 1963, um mês depois da marcha de Maratona,
Lambrakis levou uma paulada na cabeça, saindo de uma palestra que acabara de
proferir em um auditório, na cidade de Tessalônica, e morreu cinco dias depois,
de traumatismo craniano.
Lambrakis |
O
assassinato provocou grande comoção popular. Cerca de duzentas mil pessoas
acompanharam o enterro gritando as palavras de ordem “Você vive, você vive,
você nos conduz”, que em grego é «Ζεις, ζεις, εσύ μας οδηγείς». Karamanlís não
teve opção senão permitir que uma investigação profunda ocorresse para que o
culpado, ou os culpados, fossem levados a julgamento e condenados. Entram em cena
o investigador Christos Sartzetakis, o promotor Nikos Athanasopoulos e o
procurador Pavlos Delaportas. Liderados pelo primeiro, os três levaram a cabo
uma operação que revelou uma gigantesca rede de corrupção policial e
acobertamento de crimes políticos com inúmeras ramificações nas esferas do
governo, da polícia, do Exército e até mesmo em círculos da família real. Os
dois criminosos responsáveis pela morte de Lambrakis (Emannouel Emannouilides e
Spyros Gotzamanis) foram presos e, depois de três vitórias consecutivas, a
União Nacional Radical finalmente perdeu a eleição parlamentar de novembro
daquele ano para a União Central, de Papandréou. Desgostoso, e estremecidas
suas relações com o rei, Karamanlís renunciou ao cargo de Primeiro-ministro e
se auto-exilou, permanecendo longe da Grécia por onze anos.
O impressionante funeral de Lambrakis |
Christos Sartzetakis em 1965 |
A renúncia
não acalmou os ânimos. Em março de 64 morreu o rei Pávlos e assumiu o seu filho
de apenas 24 anos, o inexperiente Konstantinos II. Os primeiros ministros se
sucederam, Papandréou assumiu o cargo em duas ocasiões, por curto período de
tempo, mas a incapacidade de articulação política do novo rei deteriorou ainda
mais a cisão direita x esquerda que se arrastava há 20 anos. Nesse meio tempo, em
1966, na véspera do julgamento de Emannouilides e Gotzamanis, o escritor Vasílis
Vasilikós concluiu a extensa pesquisa que empreendera nos últimos dois anos sobre
o assassinato de Lambrakis e a investigação que veio a seguir. Sabendo que o
assunto era explosivo, mudou os nomes dos envolvidos, o que parece ter sido uma
ironia, já que a história real está toda lá. Além disso, o nome escolhido para
o título foi a letra “Z” do alfabeto latino, que possui perfeita identidade
fonética com a expressão grega “Ζει” — “ele vive” — remetendo diretamente ao
funeral de Lambrakis.
1ª edição francesa |
Em outubro
os dois criminosos foram condenados, mas não por assassinato, e sim por
agressão, em manobra protecionista evidente do tribunal grego, e ao invés de
pena de morte ou prisão perpétua foram sentenciados a onze (Gotzamanis) e oito
anos e meio (Emannouilides ) de prisão. Os outros 29 envolvidos — inclusive
generais que ajudaram a acobertar o crime — também tiveram penas leves. O
veredito provocou revolta na Grécia. Em novembro Vasilikós publicou “Z”,
inicialmente em seis partes, na revista “Tachydrómos”, e ao mesmo tempo em
livro.
Quem passava
pela Grécia por essa época, visitando a família, era o jovem cineasta Costa
Gavras. Ganhou do irmão uma cópia de “Z”, e em abril de 1967, quando voltava
para a França — onde morava desde a época da faculdade e realizava a maior
parte de seus filmes — eclodiu na Grécia o golpe militar que levou ao governo
uma junta de coronéis. Geórgios Papandréou ficou em prisão domiciliar (com
quase 80 anos e a saúde debilitada), centenas de pessoas foram presas, “Z” foi
censurado e tanto Vasilikós quanto Christos Sartzetakis foram exilados (o
último foi preso duas vezes e torturado antes do exílio). O próprio rei, que tentou
contemporizar com os militares também acabou exilado, em dezembro daquele ano. Emannouilides,
Gotzamanis e os outros envolvidos foram postos em liberdade, mas o livro já tinha
sido lançado, traduzido para o francês e Costa Gavras estava em adiantadas
negociações com o autor sobre transformar “Z” em filme. Por mais que os
militares agora governando a Grécia quisessem impedir, a história de Lambrakis
se tornaria conhecida mundialmente.
Da esq.: Costa Gavras, Jorge Semprun e Yves Montand |
Costa escreveu
o roteiro com Jorge Semprun, escritor e político espanhol que vivera na França
durante muitos anos e que rompera recentemente com o partido comunista de seu
país. Ele trazia caudaloso know-how
sobre o funcionamento de ações subversivas e suas conseqüências, o que enriqueceu
sobremaneira o trabalho do diretor, ainda um noviço no incipiente gênero do
cinema político. Costa chamou dois atores com quem já trabalhara anteriormente,
para os papéis principais: Yves Montand seria Lambrakis, referido apenas como “o
doutor”; e Jean-Louis Trintignant para o papel de Sartzetakis, referido apenas
como “o juiz”. Os experientes, mas desconhecidos fora de seus países de origem,
Marcel Bozzuffi (Emannouilides) e Renato Salvatori (Gotzamanis), interpretaram
os assassinos de Lambrakis, com os nomes respectivamente de “Vago” e “Yago”. O
garoto Jacques Perrin interpreta o repórter que cobre todo o acontecimento
desde o início. Vendo que Gavras não poderia filmar nem na Grécia e nem na
França, tal o grau de explosividade do assunto, Perrin foi também responsável
por conseguir as locações na Algéria, onde o filme todo acabou sendo feito.
O câmera Raoul Coutard e Costa, durante as filmagens de Z |
Irene e Montand em cena de Z |
Com o elenco
praticamente todo escalado, Costa esbarrou em um problema sério: por razões
óbvias ele desejava utilizar atores gregos em Z, e havia dezenas deles querendo participar. Mas era impossível.
Com os coronéis no poder, os atores sabiam que trabalhar em uma adaptação
cinematográfica do livro de Vasilikós, filmado em outro país, era, no mínimo, a
certeza de não poder mais voltar para a Grécia. Não há gregos, portanto, no
elenco de Z. Com uma única exceção: a
maior atriz grega de todos os tempos, Irene Papas. Inteligente, culta e antenada
politicamente, ela desprezava o golpe, era amiga de Andreas, filho de Geórgios
Papandréou, e comparecera ao enterro de Lambrakis. E provavelmente por ser uma
figura tão respeitada, conhecida e admirada no mundo inteiro, Irene não era
incomodada pelos generais. E mesmo que fosse, ela dava de ombros. Segundo Costa
Gavras, em depoimento de 2009:
Irene (...) estava representando "a
velha Grécia" [anterior ao golpe].
Os coronéis tomaram o poder em um momento em que a Grécia estava se
transformando de fato em um país democrático. Todos estavam dizendo "que
ótimo, as coisas estão mudando profundamente na Grécia", e eles pararam
com tudo, de um dia para outro. Então foi uma grande frustração, um grande ódio
por eles. E Irene Papas, de certa forma, estava disposta a mostrar tudo isso: o
ódio por eles, e também a dor que ela sentia. (...) Os coronéis não podiam
tocar Irene Papas, não importa o que ela tivesse feito. Então ela pôde participar
do filme sem problemas.
Irene e Bernard Fresson, em foto promocional de Z |
Irene, em Z |
Não
exatamente “sem problemas”. Papas já não filmava na Grécia fazia alguns anos e só voltaria a filmar em seu país quase dez anos depois. E o papel da viúva é curto, mas tem uma imensa carga
sentimental e simbólica. Na pele de Irene, conforme o comentário de Costa, ela
representa o país. É a mulher grega, a esposa grega. E é, em última análise,
viúva de todos os assassinados pela repressão e posteriormente pelo golpe
militar. Sua tristeza é a tristeza de todas as mulheres que tiveram seus
maridos presos, exilados, torturados ou mortos. Existe, porém, uma história
maior dessa viúva, que não é contada em Z.
O público fora da Grécia estava alheio aos fatos relativos à vida pessoal de
Lambrakis, e como Costa foi sutilíssimo ao mostrar em um rápido flashback que o
doutor fora infiel à sua esposa, a recordação que temos é da longa e comovente
cena em que Irene junta os pertences do marido, como a loção pós-barba, o
pijama e coisas assim, até ser interrompida pelo sempre inconveniente (mas
necessário) repórter de Jacques Perrin.
Na verdade,
a vida conjugal de Lambrakis estava longe de ser um mar de rosas; ele era
casado com Dímitra Batariá, com quem tinha um filho, mas pelo menos dois outros
filhos foram reconhecidos posteriormente como sendo do médico, um deles
enquanto ele ainda era vivo, inclusive. Dímitra, por sua vez, casou-se
novamente em 1965, com um oficial do exército e não teve qualquer participação
na elaboração do roteiro ou do filme. O personagem de Irene recebeu o nome
(nada original) de “Hélène”.
Yves Montand, Irene Papas, Marcel Bozzuffi e Jean-Louis Trintignant |
Mikis Theodorákis, em 1968 |
Theodorákis em um evento da Juventude Democrática de Lambrakis, em 63 |
Tudo isso
terminou com o golpe. Dias antes, pressentindo a gravidade da situação, o
compositor criou a “Frente Patriótica”, movimento que fortaleceria a oposição
nas eleições seguintes, mas era tarde demais. Com a ascensão dos coronéis ele ficou
preso durante seis meses e logo depois enviado, com a família, para um
confinamento em um vilarejo chamado Zatouna. Para não despertar quaisquer
suspeitas Costa mandou sua esposa ao vilarejo, com seu nome de solteira. Ela conseguiu
se avistar com o compositor, a quem explicou a situação e pediu, em nome de
Costa, que ele participasse de Z.
Mikis, evidentemente impossibilitado de compor, escreveu apenas um bilhete ao
diretor, dando-lhe autorização para varejar suas partituras inéditas e utilizar o que
ele quisesse, na trilha sonora do filme. O trabalho árduo de orquestração desse
material ficou todo a cargo do maestro Bernard Gérard.
Vale ressaltar
que exatamente durante esse período, no início de 1968, Irene Papas estava nos estúdios
da RCA, em Nova York, gravando um LP com onze músicas de Theodorákis.
Incentivada por Michális Kakogiánnis — que assinou o texto da contra-capa — a
atriz, dona de uma voz linda, séria, sensual e cheia de personalidade, deu sua valiosa
contribuição, usando sua fama para popularizar mundialmente a música de seu conterrâneo, vocalizando seu
protesto veemente à perseguição e prisão de um artista tão importante para a Grécia e batendo
de frente com a ditadura de seu próprio país.
Capa e contra-capa. Clique para ver o texto em alta resolução |
Costa, Papas e Montand |
Z teve sua première em fevereiro de
1969, na França, nove meses depois dos protestos estudantis de maio de 1968. O
momento não poderia ser de maior efervescência política. Ditaduras espocavam
pelo mundo, a Europa ainda vivia os ecos da Primavera de Praga, a Guerra do
Vietnan continuava firme e forte, e o governo grego proibiu sumariamente a
exibição do filme, assim como todos os países que possuíam, naquele momento, uma
ditadura de direita (circunstância que permitiu, curiosamente, que Z fosse
exibido no Festival de Cinema de Moscou em junho daquele ano, na então União Soviética).
Na Grécia, por sinal, nunca houve um “lançamento”, propriamente dito. No
Brasil, por exemplo, o filme só chegou em 1980, em plena abertura do governo
Figueiredo. Onde pôde ser exibido, entretanto, o filme foi um sucesso
avassalador. Costa recebia notícias de que ao fim da exibição, em determinados
países, o filme era aplaudido em pé pelos espectadores.
Poster italiano |
A carreira
internacional de Z parecia das mais promissoras, mas quando foi indicado a cinco Oscars — Melhor Edição,
Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro
Adaptado — a viúva de Lambrakis resolveu processar os produtores do filme. No
fim Z ganhou apenas Edição e Filme
Estrangeiro, o que é uma grande injustiça, já que teria sido o primeiro filme
não falado em inglês a ganhar o prêmio de Melhor Filme. O processo
aparentemente não deu em nada mas o então presidente da Academia, o ator
Gregory Peck, afirmou a Costa Gavras que o processo provocara mal-estar entre
membros da Academia e custara muitos votos ao filme. Segundo o historiador de
cinema Peter Cowie, o processo certamente não partiu de Dímitra, e sim da
pressão dos coronéis.
A situação
não foi muito melhor nos outros festivais. Em Cannes o filme venceu Melhor Ator
(Jean-Louis Trintignant) e Costa recebeu o prêmio do Júri por unanimidade. Mas
perdeu a Palma de Ouro para o hoje esquecido If..., dirigido por Lindsay Anderson. Mikis Theodorákis ganhou o
BAFTA de Melhor Trilha Sonora e Z
levou o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. E mais um punhado de
primeiros prêmios em festivais regionais norte-americanos. É pouco para uma
obra-prima como Z. Mas foi um filme bastante aclamado e instrumental na vitoriosa
carreira futura de Costa Gavras. Pessoalmente lamento que Marcel Bozzuffi —
espetacular como o facinoroso Vago — não tenha sido premiado por seu trabalho,
embora sua carreira hollywoodiana tenha florescido graças à sua performance em Z.
Cannes, 1969. Da esq.: Georges Géret, Jacques Perrin, Clotilde Joano, Irene Papas, Marcel Bozzuffi, Costa Gavras e Yves Montand |
Mikis
Theodorákis foi transferido de Zatouna para o campo de concentração de Oropos. Quando
se soube que estava tuberculoso e com a saúde cada vez pior, iniciou-se um
grande movimento internacional, liderado por inúmeros elementos da classe artística,
para que fosse permitida sua saída da Grécia. Em 1970 os coronéis o exilaram e
ele passou os quatro anos seguintes na França, até o fim do período da ditadura
dos coronéis, em 1974. Ele está vivo e bem, aos 93 anos.
Reencontro, em 2009, no lançamento do DVD restaurado: acima, Vasilikós, Papas e Costa; e abaixo, Costa, Sartzetakis e Theodorákis |
Restaurada a democracia e abolida a monarquia,
Konstantínos Karamanlís assumiu como Primeiro Ministro pela quarta vez, em 1974, foi reeleito em 1977 e exerceu o cargo até 1980, quando se tornou o terceiro presidente da 3º República Helênica. Em 1985 foi sucedido por ninguém menos do que Christos Sartzetakis, que desde o julgamento de Lambrakis e as ignomínias que sofreu durante a ditadura, era considerado um herói da Grécia. Ele deixou a presidência em 1990 e foi sucedido por Karamanlís, que ficou no cargo até 1995 e morreu três anos depois, aos 91 anos. Sartzetakis está com 89 anos.
Costa Gavras
está com 85 anos e acaba de concluir
as filmagens de “Adults in the room”, adaptação do livro de Yanis Varoufakis. Vasílis
Vasilikós está com 83 anos. Seu livro mais conhecido é “Z”.
Em 2009 foi lançado o DVD de Z, com uma versão restaurada sob a supervisão de Costa Gavras e Raoul Coutard. O filme foi mostrado em um festival de cinema francês, e com exceção de Marcel Bozzuffi, morto em 1988, Yves Montand, morto em 1991, e Jean-Louis Trintignant (talvez por algum impedimento pessoal), estavam todos lá: Costa, Papas, Vasilikós, Theodorákis e Sartzetakis.
OMAR MUKHTAR, "LION OF THE DESERT" (1980)
Belíssimo e injustamente esquecido épico do diretor Mustafa Akkad sobre o holocausto promovido pelos italianos na Líbia, a partir de 1911, e no caso específico do filme, em 1930, oitavo ano da "era fascista". Mussolini (Rod Steiger), já em pleno surto de megalomania genocida, estava irritado com o fato de que cinco generais enviados para subjugar a Líbia, então colônia italiana, acabaram derrotados pela resistência liderada por Omar Mukhtar (Anthony Quinn). O professor e dito "general" era expoente do movimento senussida, que visava a integridade política e religiosa do islamismo e se opunha às invasões européias na África. Lutara contra o protetorado britânico no Egito, a expansão francesa no Chade e há vinte anos se estabelecera na região da Cyrenaica (leste do país) dando dores de cabeça aos italianos que insistiam em manter a Líbia como parte do império italiano. Farto com a derrota, Mussolini resolve destacar um dos mais sanguinários de seus generais, Rodolfo Graziani (Oliver Reed) para derrubar de vez Mukhtar e seus mujahidin.
Na chegada ao país um dos attachés de Graziani já é avisado que a batalha sendo travada ali não pode ser conhecida no resto do mundo pois as regras da Convenção de Genebra estão sendo olimpicamente ignoradas. Isso nos dá a medida do tipo de expedientes utilizados pelos italianos: assassinatos em massa, tortura, estupros e enforcamentos (que devem ter sido cuidadosamente estudados pelo então jovem Hitler, que em 1930 ainda não passava de um quadro promissor do partido nazista alemão). Além disso, como até aquele momento ninguém do exército invasor fora capaz sequer de identificar Mukhtar, cuja identidade era protegida por todos, os italianos retaliavam incendiando metade da produção alimentícia de todo e qualquer povoado, para que eles não pudessem sustentar os mujahidin.
Omar Mukhtar (1858/1931) e Anthony Quinn |
Rodolfo Graziani: Oliver Reed |
Raf Vallone, John Gielgud, Rod Steiger e Anthony Quinn |
Papas: maravilhosa, como sempre |
Papas, Eleonora Stathopoulou e Ihab Werfali |
Mustafa Akkad dirigindo Irene Papas |
Mustafa Akkad |
Mustafa Akkad gostava mais de produzir do que dirigir. Dirigiu apenas três filmes e produziu dezenas. Lamentavelmente, esse excelente cineasta e pacifista de escol, e sua filha, morreram em um ataque terrorista na Jordânia, em 2005.
Recomendo. O holocausto judeu não foi o único, no século XX. Houve outros. Precisamos conhecê-los. E abominá-los igualmente.
O romance “Sweet Country”, de Caroline Richards, teve sua primeira edição em 1979, apenas seis anos após o golpe militar que derrubou Salvador Allende. O filme foi todo filmado na Grécia, em 1985 e lançado nos Estados Unidos em janeiro de 1987. Ben (John Cullum) é um norte-americano que trabalha no Chile e vive em uma casa de campo com a esposa, Anna (Jane Alexander). Os dois são pegos de surpresa pelo golpe e se vêem envolvidos com a situação quando uma amiga deles, Eva Araya (Carole Laure), é presa e torturada por ter sido secretária da esposa de Allende. Eva, sua irmã Monica (Joanna Pettet) e os pais delas (Irene Papas e Jean-Pierre Aumont) são os únicos amigos de Anna no Chile e ela se sente compelida a ajudar. Através de Paul (Franco Nero), um jornalista canadense, Anna ingressa em um grupo clandestino de apoio à resistência. Infeliz com a vida e o casamento, ela começará a ter um caso com Paul. Mal sabe ela, entretanto, que esse grupo não se limita a tirar pessoas do país, mas também realiza ações como assassinar carrascos e torturadores.
Michális Kakogiánnis, dirigindo Sweet Country" |
Eva (Carole Laure): espancamentos e queimaduras de cigarros |
Jane Alexander, John Cullum, Franco Nero e Carole Laure |
Giannis Voglis e Irene Papas. Ela grita para o camburão que levou sua filha Eva |
Joanna Pettet, Randy Quaid, Pierre Vaneck e Irene Papas |
Por outro lado, ninguém ali convence como chileno — nem Papas, em papel pequeno e sem qualquer brilho, o que impressiona em se tratando de uma atriz conhecida pela universalidade de sua aparência, e além dos mais num trabalho com Kakogiánnis, seu grande parceiro cinematográfico e teatral — e seu personagem é raso.
Irene e Joanna Pettet |
Irene Papas e Carole Laure |
PAPAS E A MÁFIA
Seguem dois filmes nos quais a temática é a máfia italiana. O mais importante deles — A Ciascuno il Suo (1967) — já foi analisado no primeiro artigo.
The Brotherhood foi o primeiro roteiro original de Lewis John Carlino para o cinema. Mas ao contrário de Mario Puzo, Lewis não escrevia romances ou novelas. E a Máfia também não era exatamente um assunto de sua predileção. Tem-se essa impressão pelo fato de The Brotherhood guardar tantas semelhanças com The Godfather, lançado em livro no ano seguinte (1969). Há quem diga que o filme dirigido por Martin Ritt exerceu grande influência sobre a obra de Francis Ford Coppola. Talvez, em termos de roteiro. Há situações parecidíssimas não só no primeiro, mas no segundo Godfather. Em termos cinematográficos, entretanto, embora Ritt fosse um craque e seu filme seja pioneiro do gênero, ele produziu apenas um bom almoço executivo, ao passo que Coppola produziu um banquete inigualável e inesquecível para quatrocentos talheres.
O filme começa com Vince (Alex Cord) chegando à Itália para visitar seu irmão mais velho, Frank. No aeroporto, um motorista se prontifica a levá-lo e uma das pessoas a quem ele pergunta entra secretamente em contato com Frank (Kirk Douglas) e o avisa que tem alguém procurando por ele. Frank se arma e segue com seus capangas até o local deserto, no meio da Sicília, aonde o motorista do aeroporto foi instruído a levar qualquer um que perguntasse por ele. Chegando lá o motorista puxa uma arma e orienta Vince a subir até o topo de um morro, onde Frank o observa de longe. No meio do caminho Frank reconhece Vince e ele dá ordem para que os capangas baixem as armas. Os irmãos se cumprimentam e seguem até a casa de Frank.
Lá se juntam à esposa de Frank, Ida (Irene Papas), e tomam um café. Conversam sobre como estão as coisas, a esposa de Vince, Emma, a filha de Frank e Ida, Carmela, que ficou nos Estados Unidos, sobre o os filhos de Vince, eles fazem planos para o dia seguinte e Vince vai descansar. Frank está satisfeito e de bom humor, feliz por rever o irmão, até que Ida o traz de volta à realidade, pergunta a razão para Frank estar ali e avisa que "ele vão mandar alguém". Frank cai das nuvens e se inicia um flashback que explicará o que aconteceu nos meses anteriores.
O filme começa com Vince (Alex Cord) chegando à Itália para visitar seu irmão mais velho, Frank. No aeroporto, um motorista se prontifica a levá-lo e uma das pessoas a quem ele pergunta entra secretamente em contato com Frank (Kirk Douglas) e o avisa que tem alguém procurando por ele. Frank se arma e segue com seus capangas até o local deserto, no meio da Sicília, aonde o motorista do aeroporto foi instruído a levar qualquer um que perguntasse por ele. Chegando lá o motorista puxa uma arma e orienta Vince a subir até o topo de um morro, onde Frank o observa de longe. No meio do caminho Frank reconhece Vince e ele dá ordem para que os capangas baixem as armas. Os irmãos se cumprimentam e seguem até a casa de Frank.
Lá se juntam à esposa de Frank, Ida (Irene Papas), e tomam um café. Conversam sobre como estão as coisas, a esposa de Vince, Emma, a filha de Frank e Ida, Carmela, que ficou nos Estados Unidos, sobre o os filhos de Vince, eles fazem planos para o dia seguinte e Vince vai descansar. Frank está satisfeito e de bom humor, feliz por rever o irmão, até que Ida o traz de volta à realidade, pergunta a razão para Frank estar ali e avisa que "ele vão mandar alguém". Frank cai das nuvens e se inicia um flashback que explicará o que aconteceu nos meses anteriores.
O flashback começa na festa de casamento de Vince, uma típica celebração familiar da máfia italiana. Vince se casou com Emma (Susan Strasberg), filha de Dominick Bertolo (Luther Adler), um dos sócios de Frank. Durante a festa fica evidente que há uma cisão na "família"; de um lado está um ramo mais antigo, já ultrapassado, que era muito ligado a Antonio Ginetta, pai de Frank e Vince, e não se mistura com o ramo mais novo por não reconhecer nele um compromisso com a honra da família; e um ramo mais contemporâneo (que inclui Dominick), que por sua vez não vê o ramo antigo com bons olhos, por considerá-lo retrógrado e simplório, em termos de negócios.
Frank se equilibra entre os dois; o primeiro por estima e respeito, e o segundo por estarem lá seus quatro sócios nos variados empreendimentos da família. Na mesma festa Vince confessa a Frank que embora tenha cursado a faculdade e esteja recebendo convites de grandes empresas, seu desejo é trabalhar junto com o irmão nos negócios da família. Frank aceita e coloca o irmão como responsável da parte financeira de seus negócios.
O casamento. Em pé: Luther Adler, Connie Scott e Kirk Douglas. Sentados, Susan Strasberg, Alex Cord e Irene Papas (foto promocional) |
Mas o problema de Frank com seus sócios não é apenas um conflito de gerações. Em uma das reuniões do grupo, meses depois, é aventada uma possibilidade de expansão em empresas de eletrônicos que ajudariam a lavar o dinheiro da Máfia através de negócios legítimos. Frank discorda da expansão e é o único voto contrário, sem saber que Dominick já cooptara Vince para ser o responsável por essa ramificação. Terminada a reunião, Dominick vai até o genro e avisa que se Frank continuar com esse comportamento, batendo sempre de frente com as decisões dos quatro sócios, ele poderá ser expulso da família. Afirma que nesse caso Vince terá que tomar uma decisão: sair junto com o irmão ou ficar com eles. Vince vai até o escritório de Frank e expõe a situação. Frank tenta fazer o irmão compreender que essa era a maneira que o pai deles trabalhava, mas o argumento não convence Vince, que se coloca ao lado dos sócios e vai embora depois de uma discussão desagradável que quase provoca o rompimento de ambos.
Luther Adler |
E é o que acontece. Frank e Dom se encontram, vão almoçar mas no caminho Frank conta toda uma história para que Dom perceba que sua traição foi finalmente descoberta. Ele o mata utilizando um método de enforcamento em que Dom é amarrado pelo pescoço como um porco, e enquanto ele estrebuchava, Frank lia o nome dos mortos por culpa de sua traição. Consumado o ato, Frank foge para a Sicília com sua mulher. Mas a notícia corre rapidamente e a represália não se faz esperar: Jim (Murray Hamilton), um dos sócios de Frank — o mais canalha e corrupto — joga a bomba em cima de Vince: ele terá que ir à Itália e matar o irmão. Se não o fizer, é sua família que vai pagar com a morte. A essa altura Vince e a mulher já tem dois filhos, além da sobrinha Carmela (Connie Scott). Sem alternativas, ele vai. E assim termina o flashback.
Na Sicilia, verifica-se que Ida tinha razão: eles iam mandar alguém. Só não se esperava que fosse Vince. Mas Frank acaba entendendo o que vai acontecer e no dia seguinte à chegada de Vince ele leva o irmão para um grande almoço cheio de celebrações, música, dança e convidados. E só depois de horas de festa, Frank despede-se de Ida e desaparece com Vince. Em local ermo, Frank entrega-lhe a arma que era do pai deles e exorta o irmão a matá-lo, por saber que ele não tem como escapar dessa intimação. E Vince mata seu irmão.
A recepção de The Brotherhood foi morna; o único prêmio ao qual o filme concorreu foi o de Melhor Roteiro no WGA Award, o prêmio do Writers Guild of America, o Sindicato de Roteiristas. Perdeu para Mel Brooks, com The Producers.
A recepção de The Brotherhood foi morna; o único prêmio ao qual o filme concorreu foi o de Melhor Roteiro no WGA Award, o prêmio do Writers Guild of America, o Sindicato de Roteiristas. Perdeu para Mel Brooks, com The Producers.
Filme B baseado numa estória do ator de faroeste Tony Anthony, com roteiro dele e de Norman Thaddeus Vane, com direção de Luigi Vanzi. "Piazza Pulita" é uma expressão italiana que significa "limpeza total", muito coerente com o filme. Em inglês o nome é Pete, Pearl and the Pole, em referência a Pete (Tony), Pearl (Lucretia Love) e The Pole, apelido de Polese, o mafioso interpretado por Adolfo Celi. Em português o título é simples e bobo: 1931, New York Violenta.
Tony é Pete, um criminoso menor que faz pequenos serviços para diferentes famílias da máfia italiana em Nova York. Morto um chefão, ele é contratado para acompanhar o corpo até a Sicilia, onde a família quer que ele seja enterrado. Só que ele descobre que 500 mil dólares foram costurados dentro do corpo e é isso, na verdade, que a família deseja enviar para a Itália. Pete então vai até outro chefão, Polese, dono de uma destilaria — que acaba de matar Bruno (Richard Conte), para quem vendia bebida durante a época da proibição — e propõe que eles sequestrem o corpo durante o velório, matem o novo chefão da família e dividam o dinheiro assim que o trabalho estiver terminado.
Celi e Tony retalhando o corpo do chefão |
Lucretia Love e Celi |
Lucretia Love: ótima |
Além de ser um filme de segunda, ele tem provavelmente a pior dublagem de todos os tempos. Foi lançado em março de 1973 na Itália e teve um lançamento praticamente nulo nos Estados Unidos, no ano seguinte. Imagina-se que tenha sido feito dentro do hype de filmes de máfia iniciado com The Brotherhood, e que alcançou seu ápice com The Godfather, lançado meses antes (que aliás inclui Richard Conte em seu elenco, no papel de Barzini) mas está a anos-luz da obra-prima de Coppola. Deveria ir para a vala comum dos filmes ruins, mas permanece vivo pela presença linda e luminosa de Papas, Celi e até mesmo da ótima Lucretia Love, que infelizmente não vingou no cinema.
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Bibliografia
Agradecimento especial à Larissa Margano e Tom Anderson
Ver também:
Ειρήνη Παπά, Eiríni Papás, Irene Papas — 3/5
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Bibliografia
Agradecimento especial à Larissa Margano e Tom Anderson
- Entrevista com Costa Gavras em 2009 (DVD comemorativo da Criterion)
- Comentários de Peter Cowie (DVD comemorativo da Criterion)
- https://cultura.hu/szub-kultura/a-hyppolit-a-lakaj-rendezoje/
- https://el.metapedia.org/wiki/Γρηγόρης_Λαμπράκης
- https://el.wikipedia.org/wiki/Μίκης_Θεοδωράκης
- https://en.wikipedia.org/wiki/Grigoris_Lambrakis
- https://en.wikipedia.org/wiki/Mikis_Theodorakis
- https://index.hu/tudomany/tortenelem/2017/10/08/szegeny_szekelyt_meg_az_agai_is_huzza/
- http://theodorakism.blogspot.com/2013/09/blog-post_1820.html
- https://tvxs.gr/news/σαν-σήμερα/γρηγόρης-λαμπράκης-ο-μαραθωνοδρόμος-της-ειρήνης-και-της-δημοκρατίας
- https://www.mcf.gr/index.php/el/filmografia/156-glykeia-patrida
- http://www.mikistheodorakis.gr/el/multimedia/photos/bydate/?d=1970
- https://www.renownfilms.co.uk/about_us.html
- http://www.sartzetakis.gr/bio/cvgr.html
Ver também:
Ειρήνη Παπά, Eiríni Papás, Irene Papas — 1/5
Ειρήνη Παπά, Eiríni Papás, Irene Papas — 3/5
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