segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Hora da Definição


Votei pela primeira vez na eleição presidencial de 1989. De lá para cá votei inúmeras vezes. Levo esse direito/dever a sério e procurei sempre votar no melhor, mesmo quando as opções não eram aquelas que eu desejaria. Posso afirmar que em quase trinta anos, esta é a eleição mais infeliz e mais desastrosa de que já participei. Nunca vi uma polarização como a que estamos vendo agora: uma extrema direita hidrófoba e ignorante contra uma extrema esquerda debochada e imunda. De um lado um defensor da tortura, do outro o garoto-propaganda do maior escândalo de corrupção da nossa história. O povo conseguiu se unir em torno dos dois piores candidatos. Um é exemplo de intolerância, o outro é laranja de um presidiário. Um tem Ustra como ídolo. O outro já pediu benção a Maluf e hoje pede a Renan. Um ficou trinta anos no Congresso e aprovou dois projetos. O outro é considerado um ex-ministro trapalhão e incompetente e o pior prefeito que São Paulo já teve. Ambos são símbolo de despreparo. E símbolo da intensa imaturidade do eleitor. Não teria tempo para enumerar argumentos contra cada um desses dois lados porque como se sabe, os extremos se tocam e na verdade o meu repúdio aos dois é equivalente. E não conseguiria viver com a minha consciência votando em qualquer um deles neste primeiro turno. Se o povo não acordar, o segundo infelizmente se configura como a batalha entre o diabo e o demônio, mas neste momento falemos do primeiro turno.

1 - Presidência

Ao contrário do que se imagina, à parte dos dois já mencionados as opções são simples. Temos quatro candidatos de centro e centro direita - Geraldo, Álvaro Dias, Meirelles e Amoêdo - e três candidatos (supostamente) de esquerda - Ciro, Marina e Boulos. Não esquecendo nunca que são políticos e vão mudar de opinião com facilidade, ao sabor da conveniência.

A ideologia, a rigor, é muito divertida, mas só durante a campanha. Quando a pessoa já está eleita, ou faz um governo que equilibra a agenda neoliberal com uma política social bem planejada e mantém a economia do país nos trilhos, ou repete a catástrofe do governo Dilma. Os governos do PT (e de alguns países da América Latina) são exemplos eloqüentes de que o socialismo é aquela utopia que só funciona quando outro país paga a conta, como foi o caso de Cuba nos tempos áureos da URSS. Fidel era aquela criança irresponsável com acesso ao cartão de crédito dos pais. Lula e Dilma tentaram a mesma coisa, se meteram a ricos, aparelharam o Estado, criaram dezenas de ministérios e estatais para aboletar seus apaniguados e corruptos, bancaram obras em vários países, inclusive na Venezuela - maior produtora de petróleo da América Latina e hoje em situação miserável e calamitosa por conta de vagabundos com os mesmos delírios de poder do PT - e pedalaram até a ruína de sua reputação e da nossa.

Tudo o que eu tinha a dizer sobre os candidatos, já o fiz nos textos que escrevi sobre dois dos debates realizados. Acrescento apenas que lamento por essa multiplicação de candidatos e a necessidade de criar partidos para acomodar novas candidaturas. É um expediente que não dá certo. Já liquidou duas candidaturas de Marina - e vai liquidar agora a terceira - e está relegando ao desconhecimento candidaturas que mereceriam uma análise mais profunda, como as de Álvaro Dias e João Amoêdo, duas pessoas corretas e competentes. E Ciro - com seu histórico de adesismo e seu namoro mal-sucedido com o PT - ficaria no máximo para um plano B, nesta eleição. Parece que nem a isso vai chegar.

Prefeito, 1977
Meu voto para presidente, neste primeiro turno, vai para Geraldo Alckmin - 45. Ele está na política há quarenta anos. Foi prefeito de sua cidade, Pindamonhangaba, deputado constituinte, vice-governador e governador de São Paulo por vários mandatos. Não tem um indiciamento. Não tem uma condenação. Não adianta que se queira pespegar sobre ele a pecha de corrupto. Geraldo foi citado em uma delação da Odebrecht como sendo o "santo", de que falam relatórios de propinas na construção de uma rodovia. Foi aventado também Caixa 2 através de seu cunhado nas eleições de 2010 e 2014. As acusações estão sendo investigadas. No caso da primeira, a propina seria pela duplicação da rodovia Mogi-Dutra, que não foi sequer realizada pela Odebrecht, que perdeu a licitação para a Queiroz Galvão. No caso da segunda, vale fazer uma pequena análise: Geraldo venceu ambas as eleições no primeiro turno. Na primeira venceu com 50,63% dos votos válidos. Em 2014 venceu com 57,31% dos votos válidos e de 645 municípios, Geraldo perdeu apenas em UM: Hortolândia. Venceu em todos os outros 644. Será que com esse tipo de prestígio em São Paulo ele precisaria de Caixa 2? Não falo de prepostos, porque sabemos que o candidato a um cargo majoritário nem sempre estará ciente de cada centavo que entrou e isso é terreno fértil para que prepostos façam seu pé de meia. Falo de Geraldo. Será que realmente sujaria seu nome e sua carreira por Caixa 2 em duas eleições nas quais ele não precisaria nem ter saído de casa para vencer?

Com a candidata a vice, Ana Amélia
O finado petista Luis Gushiken foi citado por Henrique Pizzolato no escândalo do mensalão. Um exame atento da acusação foi suficiente para inocentar Gushiken e verificar que se tratava de uma acusação feita de má-fé por Pizzolato. Por outro lado, temos tucanos sendo indiciados e presos em Minas e Paraná. Os petistas sabem disso e aplaudiram a absolvição de Gushiken, assim como hoje festejam indiciamentos e prisões de tucanos como Aécio, Azeredo e Richa. Mas como o PT é pródigo em demonizar todo mundo - ao mesmo tempo em que transforma em mérito a corrupção petista - querem porque querem que Geraldo seja da mesma laia de tucanos e petistas que estão sendo indiciados e presos. Eu não aceito isso. Critique-se Geraldo por incompetência, por lerdeza, por inércia, por ter parido Dória, pelo que for. Mas eu não condenarei uma pessoa sobre quem pesam duas ou três delações que não citam seu nome, não citam encontros, não indicam uma conta bancária, uma gravação, nada.

Se Geraldo tem culpa no cartório, que seja investigado, condenado e preso.

Se não, prove-se a culpa antes de condenar. O que resta, tirando a fumaça das acusações, é um governador com uma folha impecável de serviços prestados a São Paulo. Possui defeitos, certamente, como todos. Mas tem experiência, competência e serenidade para governar, escolheu uma mulher absolutamente excepcional para ser sua vice e eu não hesito nem por um minuto em dar a essa dupla o meu voto para presidente e vice.

2 - Governo

Dória
Vou direto ao assunto: Não votarei em João Dória sob nenhuma hipótese. Votei nele para prefeito, fui dos milhões que caíram em sua conversa de "gestor", "não sou político", blábláblá, e uma vez eleito ele não fez outra coisa senão "politicar". E da pior maneira. Em São Paulo notabilizou-se única e exclusivamente por marketing, jogadas publicitárias, midiáticas, muita propaganda, visitas-surpresa ensaiadas, inúmeras viagens internacionais onde mais valiam os videos publicados em redes sociais do que os acordos comerciais, existentes ou não, e pouquíssimas realizações concretas. Um castelo de areia. Lindíssimo na hora em que se faz, mas destruído com a primeira marola. Quando me perguntam sobre o que ele fez como prefeito lembro-me da surrealista "reforma dos banheiros do Ibirapuera", ou a "operação limpeza" em lugares como a Faria Lima. Perfumaria e vitrine. Nada concreto. Foi picado pela mosca azul e tornou-se pedra no sapato de Alckmin durante o período da convenção presidencial, e não conseguindo seu intento, resolveu jogar no lixo a confiança que lhe foi depositada pelos eleitores - além de um documento registrado em cartório onde jurou não sair da prefeitura antes do fim do mandato - embolou o meio de campo da convenção tucana e acabou conseguindo a candidatura. Não terá meu voto. Errei em votar nele, reconheço e não repetirei o erro.

Esta é a terceira vez que Paulo Skaff tenta chegar ao governo de São Paulo. Em 2010 se candidatou pelo PSB, o que, como já consignei anteriormente, é uma ironia, já que, presidente da FIESP desde 2004, Skaf é tudo menos socialista. Perdeu. Em 2011 aproveitou que o PMDB estava em alta, com a eleição de Dilma e Temer e, a convite do vice-presidente, foi para esse partido. Em 2014 tentou o governo pela segunda vez. Perdeu. Agora volta como candidato de Temer, na chapa de Meirelles. Não há nada a dizer. É empresário e nunca exerceu um único cargo público. Só voto em Skaf no segundo turno, se o adversário for Dória.

Meu voto para governador, neste primeiro turno, vai para Márcio França - 40. A biografia política de França é admirável e, em muitos aspectos, semelhante à de Geraldo. São políticos que levam a sério a coerência e o respeito às idéias e não a pessoas. França está filiado ao PSB há trinta anos. Nunca mudou de partido. Foi vereador de sua cidade - São Vicente - por duas legislaturas, depois foi prefeito de lá duas vezes, sendo que sua reeleição foi um recorde no Brasil inteiro, já que ele recebeu inacreditáveis 91% dos votos válidos. Depois se elegeu deputado federal duas vezes e quando iniciaria o segundo mandato foi para a Secretaria de Turismo de São Paulo, a convite de Alckmin. Com o rompimento de Geraldo e Afif Domingos, França foi candidato a vice do tucano em 2014 e uma vez eleito, assumiu a Secretaria Estadual de Desenvolvimento. É portanto, um político experiente e um campeão de votos. É também homem discreto e não pesa sobre ele uma única acusação de corrupção. E como a eleição é sempre um teste que reúne o combo caráter/ experiência/ competência, Márcio França me parece imbatível. É meu candidato.

3 - Congresso

Meus candidatos ao senado são Mara Gabrilli - 457 e Ricardo Tripoli - 450. A primeira dispensa comentários; creio que o sinônimo de Mara é "inclusão social". Mas é também sinônimo de coragem, equilíbrio, resiliência. A eleição de uma mulher tetraplégica, psicóloga e publicitária para o senado é avanço que só podemos almejar e aplaudir. Gostaria de ver as mulheres se mobilizarem a favor de Mara como estão mobilizadas contra este ou aquele.

Na eleição passada não votei em Suplicy e nesta também não votarei. Repito exatamente o que disse em 2014: "Eduardo Suplicy é um excelente figura. Gosto dele, conheço-o pessoalmente, é pessoa acessível e gentil. Mas há limite para tudo, e o fato de Suplicy teimar em permanecer no PT, mesmo sendo públicas, notórias e escancaradas as provas de que se trata de um partido corrupto, de cima a baixo e de baixo para cima, não mostra mais lealdade, e sim, cumplicidade, conivência. Como dizia Ulysses Guimarães, não basta não roubar; é preciso também NÃO DEIXAR ROUBAR. E ficando no PT, Suplicy pode até não corromper, mas está fazendo vista grossa para a corrupção de seus colegas. É uma pena". Meu segundo voto para o senado, portanto, vai para Ricardo Tripoli. É um político experiente, deputado estadual e federal por várias legislaturas e tem propostas na área ambiental e de proteção aos animais que o recomendam.

Meu candidato a Deputado Federal é Roberto Freire - 2323. É outro que dispensa comentários. Experiente, brilhante, tem uma vida limpa e uma carreira política pautada pela honestidade, pela generosidade e pela sensatez.

Para deputado estadual eu votaria em Janaína Paschoal se ela não tivesse se aproximado de Bolsonaro e se sua candidatura não fosse pelo partido dele. Ainda não tenho candidato.

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