domingo, 15 de março de 2015

Jânio, Adhemar e Nássara

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Meus caros,
só mesmo um gênio como Antônio Gabriel Nássara, conhecido apenas como "Nássara" (1910/1996), de múltiplos talentos, para descrever em imagem e verso o que sentiu o paulista, afogado em propaganda eleitoral, naquela espetacular campanha de 1954 ao governo. Estas charges foram publicadas no início daquele ano, quando as candidaturas começavam a se anunciar, e vêm da longínqua e esquecida revista "FLAN".























Vai acontecer de tudo na campanha eleitoral de São Paulo. Enquanto Adhemar de Barros abandona a "Caixinha" pelo trevo de quatro folhas, Jânio Quadros despreza a vassoura pelo terço de trinta contas...

Acima Nássara brinca com a insegurança dos dois candidatos em início de campanha. Adhemar, sabidamente supersticioso, troca sua conhecida "caixinha" pelo trevo de quatro folhas, símbolo de sua carreira política já há muitos anos. E Jânio, cujo cacife para concorrer ao governo ainda era considerado pequeno, embora estivesse na prefeitura, troca a vassoura por um terço.


O Jânio usa a vassoura,
o trevo é do Adhemar,
se o paulista não estoura,
um dos dois vai estourar...


Legenda originalmente sob a charge de Adhemar: Coincidindo com as comemorações do seu IV Centenário, São Paulo oferecerá ao Brasil o maior espetáculo de todos os tempos: a eleição para Governador do Estado. E como não podia deixar de ser, Adhemar de Barros já é candidato, prometendo oferecer o maior "show" de todos os tempos. É o paulista de quatrocentos milhões prestando a sua homenagem a São Paulo de quatrocentão... Dá-lhe Adhemar!

Aqui a piada é lapidar; aproveitando que a eleição ocorreu no ano das comemorações do 4º centenário, Nássara faz uma analogia entre o termo "paulista de quatrocentos anos", cunhado tempos antes pelo velho Alcântara Machado, e os quatrocentos milhões que Adhemar provavelmente possuía em sua famigerada caixinha, e que pretendia utilizar à farta para voltar ao governo. Governo, aliás, que Adhemar pretendia exercer pela terceira vez. Exercera inicialmente a interventoria, durante o Estado Novo, e foi eleito democraticamente para o quatriênio que foi de 47 a 51. No desenho ele despeja dinheiro conspicuamente sobre a cidade, de seu aviãozinho.

Legenda originalmente sob a charge de Jânio: Outro "show" garantido deve ser dado pelo Sr. Jânio Quadros, que concorrerá ao grande pleito pela legenda do P. D. C. (Pede-se tudo a todos e não se dá nada a ninguém). E como nos contos de fadas, rasgará os céus de São Paulo montado em uma típica vassoura das velhas feiticeiras, arrancando aplausos daquele eleitor que não é bastante cético para desprezar a máxima: "Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem"...

Jânio por Nássara. A única charge deste artigo
elaborada anos depois da eleição de 1954

Mais uma tirada de mestre, que espicaça o partido ao qual Jânio pertencia, o P. D. C. ("pede-se"), e do qual sairia semanas depois, e zomba da demagogia, pecha que Jânio trazia desde a vereança, e que se cristalizou em faca de dois gumes com a mítica vassoura que ele prometia usar desde o pleito anterior, para exterminar a corrupção.

É destino do ser humano ter saudade dos políticos do passado, ainda que carregassem proporcionalmente os mesmos defeitos dos políticos de todos os tempos.


Mas esses dois são inigualáveis.

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Jânio - Vida e Morte do Homem da Renúncia
Vol I: "Um Moço Bem Velhinho"
Bernardo Schmidt
Editora O Patativa
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