CENTENÁRIO DE NELSON RODRIGUES
Nelson em 1949 |
Mais auspicioso ainda foi o fato de Pongetti ter convidado Bibi para dirigir o espetáculo, o que hoje pode ser visto de forma simbólica; Procópio, seu pai, representava, justa ou injustamente, o teatro de comédia que Nelson e seu teatro haviam sobreposto e jogado na obsolescência. Aceitando o convite, ela provava sua versatilidade, sua modernidade e fazia uma espécia de ponte entre a geração que se apagava e aquela que surgia, trazendo o melhor dos dois mundos. E o cenário ficava a cargo do celebérrimo paraibano Tomás Santa Rosa, cenógrafo da lendária primeira montagem de VESTIDO DE NOIVA e ilustrador de livros dos autores mais importantes do Brasil, pela José Olympio (Santa, aliás, morreu prematuramente, somente dois anos depois, em 1956, aos 47 anos).
Programa com o elenco de 1954 |
O BONDE DO CATETE
Que delícia de época, aquela em que o afamado revisteiro J. Maia (que está vivo até hoje, creio) podia fazer divertido trocadilho fonético com o bonde que ia ao Catete, e o bonde eleitoral que iria levar um daqueles candidatos ao Palácio do Catete. Era mesmo um Bonde do Cacete! No desenho vemos a propaganda da peça, que estreou em setembro de 1949, véspera do ano eleitoral, em que as candidaturas ainda se desenhavam.
Vargas é o guarda de trânsito, só observa de longe, dando coordenadas e movendo os peões do tabuleiro político, sempre ao lado de sua própria conveniência, sem assumir compromisso que não possa ser quebrado sumariamente minutos depois. Em cima do bonde, tal qual verdadeiro surfista pré-histórico dos trens, está o cacique catarinense e vice-presidente, Nereu Ramos, surfando entre trampolinagens e picaretagens, em busca de garantir o seu. Na frente de todos, o desastrado motorneiro Adhemar de Barros, então num verdadeiro espinheiro político; governador de São Paulo, mas brigado com seu vice (Novelli Jr., genro de Dutra), o que o impossibilitava de se desincompatibilizar e concorrer à presidência, por temer que Novelli decretasse uma devassa policial em sua administração no momento em que assumisse, jogando no ventilador da imprensa todas as suas contravenções e arruinando suas chances de chegar ao Catete.
Eros Volúsia, em 1941 |
No elenco de Bonde do Catete as maiores figuras do Teatro de Revista, como Armando Nascimento, Áurea Paiva, Eros Volusia, Floripes Rodrigues, Silvino Neto (pai do comediante Paulo Silvino), Tito Caldareli, Walter D´Avila e Zaira Cavalcanti.
No Teatro Santana, atrás do Teatro Municipal.
Na eleição do ano seguinte, o único que participaria, efetivamente, como candidato, seria Vargas. Seus adversários foram Eduardo Gomes e Cristiano Machado. Vargas venceu. E se matou quatro anos depois, em 24 de agosto de 1954. (23/8/2012)
SEM PENSAR, com Denise Fraga e Júlia Novaes
Com Júlia Novaes |
Denise e Júlia em "Sem Pensar! |
OS 90 ANOS DE PAULO AUTRAN
Concentrado em assistir Denise Fraga na peça “Sem Pensar”, no teatro do Memorial da América Latina, acabei esquecendo que naquele dia, sexta-feira, 7 de setembro, Paulo Autran completaria 90 anos. A comemoração se reveste de saudade, o mestre nos deixou em 2007, mas sua presença é sentida não só nos palcos, mas nas mais variadas manifestações artísticas.
Hoje não falarei dele, embora tempo suficiente tenha passado, desde sua partida, para que em breve eu redija algo interessante sobre o período em que acompanhei sua carreira. Prefiro celebrar esses 90 anos voltando ao início, mostrando um documento de sua primeira consagração: o prêmio de revelação como melhor ator por sua performance na peça de Guilherme Figueiredo, Um Deus dormiu lá em casa, em que dividiu o palco com Tônia, Vera Nunes e Armando Couto. A direção foi de Silveira Sampaio e o espetáculo estreou em 13 de dezembro de 1949. Já no dia 9 de janeiro de 1950 a Associação Brasileira de Críticos Teatrais se reuniu e decidiu os melhores do ano anterior.
Diário da Noite, 10/1/50 |
O que veio a seguir foram 58 anos de carreira que misturaram quatro peças de Shakespeare, quatro de Molière, e o repertório mais eclético de todos os tempos, incluindo Brecht, Ibsen, Sartre, Gorki, Beckett, Pirandello, Sófocles, Goldoni, Feydeau, Shaw, Pinter, Noel Coward, Arthur Miller, Tenessee Williams e dezenas de outros. Entre os brasileiros, Gonçalves Dias, o já citado Guilherme, Pongetti, Callado, João Cabral de Mello Neto, Flávio Rangel, até chegar a Mauro Rasi e Maria Adelaide Amaral. Comédias de costumes, boulevard, dramas, tragédias, musicais e até novelas, Paulo fez tudo. Saudade. (10/9/2012)
45 ANOS DE "LA MOSCHETTA", DE ANGELO BEOLCO, DIREÇÃO DE BOAL, NO TEATRO DE ARENA
"Fica-nos o espetáculo como teatro ou como "estilo" de representação. E quanto a isso, Augusto Boal deu à La Moschetta uma ótima direção, atualizando, em ritmo, em cor, em expressão cênica, um texto sem dúvida magnífico, admiravelmente traduzido por Mário da Silva e interpretado por Gianfrancesco Guarnieri.
Pode mesmo dizer-se que a comédia é toda de Guarnieri, o qual, sobretudo na primeira parte e, especialmente, no prólogo, nos dá um nível histriônico tão versátil, dentro de um mecanismo da expressão vocal e corporal síncrono, que surpreende pela riqueza de recursos e sutilezas. Certas cenas bufas e cômicas são exemplares como arte de representar". (João Apolinário, 27/11/67)
Na foto, Fagundes, Guarnica, Myriam Muniz e Sílvio Zilber. (17/09/2012)
HEBE
Hebe era considerada unanimemente a "Primeira Dama da TV". Por uma razão muito simples: é exatamente o que ela era. Era exagerada, era brega, falava bobagens, ria escandalosamente, mas, ao mesmo tempo, era doce, simpática, solidária, divertida e generosa. O tempo se encarregou de transformar tudo isso em um conjunto de qualidades que fazia de Hebe uma amiga, uma companheira, e uma apresentadora inigualável.
Nos últimos anos foi impossível não elevá-la ao padrão de divindade televisiva. Embora ela fosse extremamente simples (estive com ela em três ou quatro oportunidades), assisti-la era assistir a história da televisão. Ao contrário do que diz o obituário do UOL (sempre estupidamente errado), Hebe não estreou na TV em 1955. "no primeiro programa feminino da TV brasileira, "O Mundo é das Mulheres", da emissora de TV carioca, na qual chegou a apresentar cinco programas por semana". Mentira. Pesquisa mal-feita. Hebe era contratada das Emissoras Associadas de Chateaubriand desde 1949, e quando a TV estreou, em 1950, ela estava lá. Pode ter faltado à inauguração e sido substituída por Lolita Rodrigues - história conhecida - mas já nos dias seguintes estava lá como apresentadora, mesmo, da programação inicial da emissora, junto a pessoas como Ribeiro Filho, Rui Rezende, Paulo Salomão, Lia de Aguiar, Maurício Loureiro Gama e assim por diante.
Há muito pra se dizer sobre essa mulher, nossa maior apresentadora. No Face, basta dizer que ela será como Chacrinha: o espaço que ela deixa nas noites de segunda, ninguém preenche. Seu lugar é único. Sentiremos, todos, saudade de sua maneira extrovertida, espalhafatosa, bonachona de ser. Um beijo imenso, saudoso, eterno, de carinho para a querida Hebe.
* (A reportagem acima vem do Diário de São Paulo, de julho de 1949, quando Hebe começava a se notabilizar como cantora de sambas e marchas carnavalescas) (29/09/2012)
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O Adeus à querida Hebe. Hora de escarafunchar os "arquivos de papel", daquela época cada vez mais distante de negativos, filmes e álbuns fotográficos de 12, 24 ou 36 fotos.
Hebe tinha uma tal vivacidade, uma alegria de viver tão tangível, tão plausível, uma eletricidade, uma magnetismo, um carisma, que não se imaginaria que algum dia pudesse ser colhida pela morte.
Foi. Levou consigo toda essa energia maravilhosa, positiva, benéfica, que a nós fará tanta falta. Mas deixa, pelo menos, muitas, muitas lembranças, os programas gravados e essa foto, de agosto de 1993, tirada nos estúdios que Jô Soares ocupava, então, no Sumaré.
Estúdios, por sinal, ao lado daquele que a própria Hebe usou em setembro de 1950, quando estreou na TV, veículo que também estreava naquele mês. (02/10/2012)
SEBASTIÃO VASCONCELOS
Só hoje soube que perdemos o Sebastião em julho... ator maravilhoso, que conheci no Rio, em 94 (foto) e com quem tive o privilégio de conversar uma última vez, pelo telefone, há exatos dois anos, sobre o seu Othello - o primeiro desde João Caetano - graças à amiga Maria Cecilia.
Penso na companhia Tônia-Celli-Autran. Um pavão como Paulo, um touro como Osvaldo Loureiro, um nefelibata como Cláudio Corrêa e Castro e um paraibano arretado mas tímido e bom, como Sebastião. Que extraordinária mistura... é famosa a inveja que Paulo sentiu do público aos pés de Sebastião na "Viúva Astuciosa" de Goldoni. Sebastião não passava recibo. Trabalhava. e melhorava cada vez mais.
Este ano perdemos Sebastião, perdemos Walmor... agora mesmo soube que Felipe Wagner também se foi em julho. Que pena, que artistas maravilhosos, incomparáveis, tão melhores do que as gerações que os sucedem... Descanse em paz, irmão! (3/11/2013)
TOM E VINÍCIUS, CHOPP DA BRAHMA
Queria ter postado isto no centenário de Vinícius. É um comercial da Brahma de 1991, que utilizou aquilo que era a tecnologia mais extraordinária da época, para antecipar um encontro que ocorreu três anos depois.
Quando assisti, chorei. Achei uma jóia de sentimento e de criatividade. Não parei de ver TV até gravar em video. A crítica, aquela patrulha babaca que nunca deixou o Tom em paz, desceu o pau; disse que era mórbido, que era exploração... ô gente infeliz.
Quem conhece, reveja. Quem não conhece, conheça e se emocione.
Quando assisti, chorei. Achei uma jóia de sentimento e de criatividade. Não parei de ver TV até gravar em video. A crítica, aquela patrulha babaca que nunca deixou o Tom em paz, desceu o pau; disse que era mórbido, que era exploração... ô gente infeliz.
Quem conhece, reveja. Quem não conhece, conheça e se emocione.
AYN RAND - DA PRODUTIVIDADE
estou maravilhado com Ayn Rand. Poderia passar o resto do dia postando seus irretocáveis pensamentos sobre tudo. Neste momento vou pinçar dois comentários sobre
produtividade, que endosso com o máximo prazer. Lembrei Bilac:
produtividade, que endosso com o máximo prazer. Lembrei Bilac:
Se um moço escritor viesse, nesse dia triste, pedir um conselho à minha tristeza e ao meu desconsolado outono, eu lhe diria apenas: ama a tua arte sobre todas as coisas e tem a coragem, que eu não tive, de morrer de fome para não prostituir o teu talento!
Ayn Rand |
.Productiveness is your acceptance of morality, your recognition of the fact that you choose to live:
—that productive work is the process by which man’s consciousness controls his existence, a constant process of acquiring knowledge and shaping matter to fit one’s purpose, of translating an idea into physical form, of remaking the earth in the image of one’s values;
—that all work is creative work if done by a thinking mind, and no work is creative if done by a blank who repeats in uncritical stupor a routine he has learned from others;
—that your work is yours to choose, and the choice is as wide as your mind, that nothing more is possible to you and nothing less is human;
—that to cheat your way into a job bigger than your mind can handle is to become a fear-corroded ape on borrowed motions and borrowed time, and to settle down into a job that requires less than your mind’s full capacity is to cut your motor and sentence yourself to another kind of motion: decay;
—that your work is the process of achieving your values, and to lose your ambition for values is to lose your ambition to live;
—that your body is a machine, but your mind is its driver, and you must drive as far as your mind will take you, with achievement as the goal of your road;
—that your body is a machine, but your mind is its driver, and you must drive as far as your mind will take you, with achievement as the goal of your road;
—that the man who has no purpose is a machine that coasts downhill at the mercy of any boulder to crash in the first chance ditch;
—that the man who stifles his mind is a stalled machine slowly going to rust;
—that the man who lets a leader prescribe his course is a wreck being towed to the scrap heap, and the man who makes another man his goal is a hitchhiker no driver should ever pick up;
—that the man who stifles his mind is a stalled machine slowly going to rust;
—that the man who lets a leader prescribe his course is a wreck being towed to the scrap heap, and the man who makes another man his goal is a hitchhiker no driver should ever pick up;
—that your work is the purpose of your life, and you must speed past any killer who assumes the right to stop you;
—that any value you might find outside your work, any other loyalty or love, can be only travelers you choose to share your journey and must be travelers going on their own power in the same direction.
—that any value you might find outside your work, any other loyalty or love, can be only travelers you choose to share your journey and must be travelers going on their own power in the same direction.
http://aynrandlexicon.com/ (03/01/2014)
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