segunda-feira, 7 de maio de 2018

Minestrone Cultural XII


TÔNIA

Colorização de Reinaldo Elias

O início da carreira de Tônia já é um exemplo do que aconteceria nas décadas seguintes: depois de cursos aqui e na Inglaterra, ela volta ao Brasil e tenta ingressar nas companhias em atividade na época. Não foi aceita. Sua beleza era tão extraordinária que ofuscava o julgamento de qualquer um em relação a seu talento. Não se amofinou. Criou sua própria companhia, escolheu Paulo Autran para ser seu leading man e meteu as caras no mundo teatral. Na primeira peça, levou o prêmio de Melhor Atriz.

A partir daí vieram Vera Cruz, a companhia Tônia-Celi-Autran, ela encenou todos os autores nacionais e internacionais que quis, teve sua rivalidade com Cacilda, fez novelas, criou o papel de Neusa Suely - em manobra que estarreceu e maravilhou seus críticos mais ferozes - fez publicidade, tornou-se musa inspiradora da intelectualidade e um exemplo de imperecível beleza.

Com Tônia, em 2001
Mas Tônia sabia que a beleza era a um tempo qualidade e obstáculo, e por essa razão cuidou de aculturar-se, de aprender, de conhecer teatro, cinema, literatura, idiomas, política, e tudo que a fizesse tão extraordinária por dentro quanto por fora. E conseguiu.

Tive muitos encontros com Tônia. Se o interlocutor não lhe apetecesse, tratava-o com polida indiferença. Se o sujeito lhe caísse nas graças, ela era irresistível. Era charmosíssima, coquete, divertida, brincalhona, palhaça. Era também irônica, sarcástica, sabia tirar sarro de uma pessoa fingindo agradá-la. Era uma conversadora brilhante, mordaz, esperta. Tinha histórias sobre tudo e sobre todos. Bebia como gente grande. Não era cantora mas se a ocasião pedisse e ela estivesse feliz e descontraída, cantava.

A verdadeira personificação da diva brasileira. Tônia era um pouco como uma atriz do cinema mudo. Era como Garbo. Nunca a considerei a melhor atriz, mas sua presença, seu conjunto eram tão magnéticos que assisti-la era uma experiência do mais intenso prazer.

Por trás de qualquer glamour, entretanto, ela era uma simplesmente uma das mulheres mais encantadoras que já conheci.

Descanse em paz. (04/3/2018)

THE LAST MOVIE STAR (2017)

Assisti sem a menor expectativa e me emocionei profundamente. Burt Reynolds, aos 82 anos, expõe honestamente e sem quaisquer reservas a fragilidade comovente e patética de sua velhice. O mesmo Burt que foi sempre o paradigma do bad boy bonito, forte, viril e perigoso. Ele é Vic, um velho ator às voltas com sua mortalidade e a necessidade premente de acertar as contas com a vida.

Ariel Winter é uma verdadeira visão de beleza e juventude. Eu não a conhecia, porque nunca acompanhei o seriado que a tornou famosa, "Modern Family", e foi uma surpresa das mais agradáveis. Ela realmente não é apenas linda; seu jogo com Burt é redondo, em pé de igualdade e ela tem um dos monólogos mais intrincados e divertidos que já vi, quando explica a assustadora lista de remédios que tomou para seus problemas emocionais. E de quebra, quem faz o amigo de Vic é o querido Chevy Chase.

Recomendo. (29/3/2018)

WBW - Abril de 2006


Ivone Lara, Dona Inah e Quinteto em Branco e Preto no SESC Ipiranga. Lembro-me da piada de Heron Coelho (diretor do show) no camarim, pouco antes do início: "Teremos hoje Dona Ivone Lara, Dona Inah e já está chegando a Donna Summer!" Dona Inah emendou, hilária: "Quem sabe até a Madonna aparece!"

Temos que prestigiar esse grandes artistas quando estão vivos e bem. E Ivone Lara era um tesouro do samba e da MPB. (18/4/2018)

3x MICHAEL CRICHTON

Michael Crichton, na década de 70
Formado em medicina por Harvard, mas com verdadeira tara por tecnologia e ficção científica, Michael Crichton foi um dos maiores best-sellers da segunda metade do século XX, com mais de 200 milhões de livros vendidos. Hoje ele é lembrado primordialmente por Jurassic Park mas são de sua autoria livros que se tornaram grandes filmes como "The Andromeda Strain", "Sphere", "Disclosure" e tantos outros. Seu sucesso na TV não foi menor: uma das séries de maior sucesso em todos os tempos, ER, é de sua lavra, como também vem de seu filme "Westworld" (1973) todo o conceito da prestigiosa série com Anthony Hopkins.

Ironicamente, foi sua faceta como diretor e roteirista que eu acabei conhecendo antes de qualquer outra. A razão hoje é constrangedora: ele escreveu e dirigiu Runaway (1984), um sci-fi policial mediano com Tom Selleck e Cinthia Rhodes que eu assisti no cinema porque o vilão era ninguém menos do que Gene Simmons (na época passando vergonha no que graças a Deus foi uma curtíssima carreira cinematográfica). Mas só fui juntar o nome ao filme anos depois. Michael Crichton era um grande escritor, um razoável roteirista, mas como diretor ele era menor.

THE ANDROMEDA STRAIN (1971) é sobre um meteorito interceptado por um satélite. Quando o satélite cai em uma pequena cidade norte-americana e é inadvertidamente aberto, o meteorito mostra-se letal e com potencial para exterminar a raça humana. Foi lançado em livro em 1969 e tornou-se o primeiro best-seller de Crichton. Levado ao cinema dois anos depois, agradou público e crítica. Por quê? Porque o roteiro não foi confiado ao próprio autor e sim ao veterano Nelson Gidding. Da mesma forma, a direção coube ao bom e velho Robert Wise, eclético e brilhante, e uma de suas decisões mais acertadas foi chamar um elenco que não fosse hollywoodiano (mesma coisa que Kubrick fez com 2001, pouco antes), sabendo que rostos demasiadamente famosos e familiares provavelmente comprometeriam a credibilidade de um sci-fi que se supõe real e que prende do primeiro ao último momento. Grande mérito, portanto, cabe a Arthur Hill, David Wayne, James Olson, Kate Reid e Paula Kelly. Direção, roteiro, elenco e direção de arte são espetaculares. É um excelente filme.

COMA (1978) é bem diferente. O livro é de Robin Cook (provavelmente colega de Crichton em Harvard) e fala sobre uma médica de Boston que começa a suspeitar do alto número de pacientes que entram em coma depois de procedimentos relativamente simples, no hospital onde faz residência. O roteiro e a direção são de Crichton. O elenco é sensacional: a protagonista é a maravilhosa Genevieve Bujold (infelizmente sumida), seu incrédulo namorado é Michael Douglas, o diretor do hospital é Richard Widmark e o chefe da anestesia é Rip Torn, em coadjuvância de luxo. Não fosse o suficiente, temos pequenas participações de Tom Selleck e Ed Harris em início de carreira. É um belíssimo thriller (em sua maior parte graças a Bujold) e merecia ser mais conhecido. É possível, entretanto, que nas mãos de um diretor mais experimentado o filme fosse ainda melhor.

Já LOOKER (1981), por diversas razões, simplesmente não funciona. Roteiro original e direção de Crichton. Ele criou uma história até interessante, algo clarividente, de um empresa que estuda o efeito da publicidade televisiva na mente das pessoas e secretamente desenvolve um aparelho capaz de hipnotizar os consumidores. Aquilo que poderia funcionar talvez num conto de sci-fi se transforma, cinematograficamente, num rocambole de clichês do cinema americano nos anos 80. As músicas, as imagens, as cores, as roupas, as falas, tudo é datado. O roteiro é bobo e superficial; as cenas de ação são de baixa qualidade, dignas de novelas do Gilberto Braga e desta vez nem o elenco salva o filme: o mestre Albert Finney está deslocado e cafona no papel do cirurgião plástico das modelos, James Coburn é desperdiçado e Leigh Taylor-Young espalha beleza e sensualidade num papel chato e sem graça. Quem melhor se sai, curiosamente, é Susan Dey, linda e divertida. Mas o filme não presta. (24/4/2018)

DON RICKLES E SHIRLEY MACLAINE (2012)



Na última cerimônia de entrega do AFI Life Achievement Award de que participou, em 2012, Don Rickles frita sua velha amiga Shirley MacLaine. Ainda sobram patadas sensacionais para Warren Beatty, Jack Nicholson e Julia Roberts.

Esse grande mestre nos deixou no ano passado, aos 90 anos. (26/4/2018)

ISAAC BARDAVID

Com Isaac Bardavid, 25/04/2018

São 87 anos de vida e 69 de carreira, entre teatro, cinema, televisão e dublagem. E poesia. A Cervejaria Artesanal, na Vila Madalena, estava apinhada de nerds mas o lançamento era de um livro de poesias da melhor qualidade. Isaac é referido no prefácio como um eminente intelectual, e é exatamente o que ele é. Seus sonetos emanam toda a comédia humana: otimismo, amargura, felicidade, arrependimentos, esperança e mais um vasto leque de emoções que se coaduna perfeitamente com cultura e o cuidado com forma e linguagem. São leitura prazerosa. Edificante - para os mais novos - e nostálgica - para os mais velhos.

Adorei poder abraçar e beijar a mão desse velho titã, tão multi-facetado. Sem falar que estávamos com a mesma roupa! E fico feliz que toda uma nova geração o conheça e o cultive, embora nem sempre sabendo que exploram somente a ponta do iceberg.

O encontro do Logan velho sem barba e o Wolverine sem suíças. Só faltou nossa "Diana", Yasmin. (26/4/2018)

BOMBSHELL: THE HEDY LAMARR STORY (2017)

Sensacional. Mais um caso emblemático de uma atriz que carregou até a morte o estigma da beleza física associada à burrice e à frivolidade. E neste caso não se trata apenas de uma mulher simplesmente inteligente, ou engajada. Trata-se de um prodígio. De uma mulher que não cursou uma faculdade mas foi responsável por invenções que influenciaram da aviação à computação, chegando até o nosso tão difundido wi-fi.

Não tinha o mais remoto conhecimento dessa faceta de cientista e inventora, em Hedy Lamarr. Lembro-me de sua Dalila, para o Sansão de Victor Mature, lembro que os dois morreram no mesmo ano e recordo-me de um requerimento histérico de Jânio, quando vereador, em abril de 1948 (há exatos e cabalísticos 70 anos), sobre o filme "Êxtase", tão tristemente célebre na vida de Lamarr: “Há meses foi exibida em cinemas desta capital a película Êxtase e ora se exibe na mesma tela Follies Bergère. Ambas, segundo a crítica unânime, são produções obscenas, que constrangem, envergonham e revoltam a assistência desprevenida do conteúdo dessas películas que deveria ser objeto de aviso obrigatório e explicativo, por parte da direção do cinema, aos freqüentadores”.


"Êxtase" foi o erro de uma menina de 16 anos. Lamarr era uma mulher espetacular. Mas a exemplo de tantas, teve o azar de nascer antes de seu tempo, e com uma beleza que agiu como a tradicional faca de dois gumes, em Hollywood: a catapultou para o sucesso sem precedentes, e acabou com qualquer possibilidade dela ser levada a sério como a mente brilhante e singular que era.

Recomendo muito. (28/4/2018)

ISAO TAKAHATA (1935/2018)


Isao Takahata se foi, no dia 6 de abril. Acabo de saber.

É estranho assistir os filmes de Takahata porque ele sempre representou (para mim) uma espécie de antípoda sentimental e anímico de Myiasaki. São o proverbial "retrato de luz e sombra"; enquanto Miyasaki descia ao sofrimento e voltava com torrentes de luminosa esperança, Takahata ia até o inferno e lá permanecia, como um estóico. Suas mensagens são mais de resignação do que de perseverança. O sofrimento não deve ser mitigado, e sim compreendido e aceito.

Seu célebre "Cemitério dos Vagalumes", que mais tarde soube ser parcialmente autobiográfico, é um mergulho na tristeza, de onde não se emerge. Talvez por isso mesmo sua parceria e cordial (mas nem tanto) competição com o sócio Miyasaki, no Ghibli, tenham dado tão certo. Suas diferenças eram realmente complementares. Seria algo como o embate entre filosofia e psicologia. Aquilo que é e aquilo que pode ser. São genialidades paralelas, mas raramente concêntricas.

O talento de Takahata fará muita falta. (01/05/2018)

GUARNIERI (2017)
Direção de Francisco Guarnieri 

Aguardei ansiosamente para assistir o documentário de Francisco Guarnieri sobre seu avô e a espera terminou dia 26 abril, no Cinesesc. Sendo seu primeiro filme, Francisco foi inteligente em não tentar a abordagem biográfica, que o jogaria em um torvelinho interminável de informações e depoimentos que demoraria anos para concluir. Em vez disso, ele preferiu explorar um aspecto interessante do amado e saudoso artista, que foi o conflito geracional que atravessou em sua vida, particularmente a pessoal.

O pai de Guarnieri era um maestro que saiu da Itália fugindo do ascendente fascismo de Mussolini. Não era um comunista de carteirinha mas esposava idéias do partido e tinha amplas ligações com muitos dos seus membros. Viveu o Estado Novo de cabo a rabo e soube lidar com o engajamento prematuro do filho. Já Guarnieri cresceu no pós-guerra, teve seu fastígio no fim dos anos 50, alguns de seus ídolos eram Brecht e Sartre, ele viveu a revolução sexual, o amor livre, sofreu com o golpe, resistiu à ditadura e viveu intensamente todos os movimentos políticos, sociais e humanos do período.


Como resultado, não participou tanto da formação de seus dois primeiros filhos. Chegamos à epígrafe do documentário sobre Guarnieri: "Arte, política e família são demais para um homem só?" Essa é a questão fundamental. É onde pessoa e obra se fundem. O Otávio de "Eles não usam Black-Tie" deveria ter posto o bem estar do filho em primeiro lugar? Agileu, de "A Semente", deveria ter dado prioridade à sua vida pessoal, e não às reivindicações da classe operária? É o questionamento de todo o marxista. Indivíduo e família, ou partido, em primeiro lugar?

Flávio e Paulo, 1977
Na primeira parte entramos em contato com a pessoa e a obra. E na segunda parte temos depoimentos de seus filhos Flávio e Paulo. O depoimento de Flávio se reveste de comovente importância, por ter sido o último, antes de sua inesperada morte, em abril de 2016. Existe aqui outra escolha acertada de Francisco, que foi limitar essa discussão aos dois primeiros filhos de Guarnieri, sem adentrar o segundo casamento do autor, e os três filhos que vieram depois. Assim como o documentário, a vida de Guarnieri também tem duas fases bastante distintas e que podem ser identificadas pelo fim de seu primeiro casamento e o início do segundo. E o pai de Flávio e Paulo certamente não é o pai de Cacau, Mariana e Fernando. Essa dinâmica merece um segundo documentário.

A julgar pelos depoimentos de Flávio e Paulo, a resposta para a epígrafe do site é "sim". Arte, política e família são demais para um homem só. Guarnieri ocupou-se mais do bem comum, do bem de todos, do que do bem de si mesmo e dos seus. Esse dilema é ilustrado com clareza pelo poema de Brecht, "Aos pósteros", que Guarnieri e Boal adaptaram na música "Tempo de Guerra", para o espetáculo Arena Conta Zumbi (e que serve como música de encerramento para o documentário): "Todo mundo diz que eu devo comer e beber. Mas como é que eu posso comer? Mas como é que eu posso beber? Se eu sei que eu tô tirando o que eu vou comer e beber de um um irmão que tá com fome, de um irmão que tá com sede. De um irmão". E Guarnieri foi pai mas nem sempre foi paternal. Foi influência decisiva mas não foi o pai, lato sensu. E nos depoimentos veremos como cada um compreendeu e aceitou essa contingência do destino.

Debate com Francisco Guarnieri e Reinaldo Cardenuto, mediado por Marina Person



Cacau e sua esposa Marta


Recomendo a todos. Eu sabia, pelo depoimento de Guarnieri a Simon Khoury, que ele queria interpretar Ricardo III, e foi com grande prazer que assisti as cenas de sua leitura do papel. Guarnieri é um manancial de cultura humana e teatral. Merece ser explorado e conhecido. Francisco abriu a picada.

As fotos de Alf Ribeiro são do debate que veio em seguida ao documentário, com Francisco e Reinaldo Cardenuto, mediado por Marina Person. (05/05/2018)

3x SADIE THOMPSON

Gloria, Joan e Rita

A Sadie de Gloria: perfeição
Pesquisando para um pequeno artigo sobre a filmografia de Rita Hayworth - cujo centenário comemora-se em 17 de outubro deste ano - trombei com seu "Miss Sadie Thompson" de 1953, dirigido pelo alemão Curtis Bernhardt e, sendo meu primeiro (e pra lá de tardio) contato com a celebérrima prostituta criada por Somerset Maughan em 1921, fui procurar suas antecessoras hollywoodianas.

A experiência não poderia ter sido melhor. A Sadie original é de 1928, interpretada pela inigualável Gloria Swanson, e o filme (mudo, dirigido por Raoul Walsh, que também interpreta o soldado O'Hara) é espetacular. Foi lançado em plena transição do cinema mudo para o sonoro e o sucesso alcançado foi tal que acabou ocasionando um remake falado apenas quatro anos depois, protagonizado por Joan Crawford, com direção de Lewis Milestone. Vale dizer que o "Sadie Thompson" de Gloria ganhou no Brasil título mais picante: "Sedução do Pecado".

Joan: revoltada
Na versão de Joan aboliu-se do título o nome da protagonista e adotou-se o inofensivo nome de "Rain". O Brasil, pra variar, continuou na contramão da sutileza e pespegou-lhe o bombástico nome de "O Pecado da Carne".

Esgotado o assunto por aquela década, ele só reapareceu vinte e um anos depois, em uma das muitas voltas de Rita Hayworth, que trabalhava por um tempo, parava para tentar uma vida normal, mas, assim como Michael Corleone, "they pulled her back in". O nome do filme, como já se viu, é "Miss Sadie Thompson" e sabe-se lá por que razão, foi mantido no Brasil.

O melhor filme, como um todo, é certamente o de Swanson. A melhor Sadie, porém, é um páreo duríssimo. A brejeira, engraçada e deliciosa Sadie de Swanson? A Sadie com cara de adolescente revoltada, blasé, quase gótica de Crawford? Ou a Sadie madura, amigável e baladeira de Rita? Sou parcial a Swanson, mas só assistindo para decidir.

Rita: uma Sadie baladeira

A curiosidade, neste caso, é que a Sadie de Swanson se perdeu anos depois do lançamento e durante décadas só restaram dele fragmentos. Morta a grande estrela, em 1984, foi descoberta uma cópia quase integral, faltando apenas os 5 minutos finais. Houve uma restauração parcial nos rolos existentes e o fim foi construído a partir do roteiro original (de Walsh e Swanson) e de fotos provenientes dos mais variados acervos, incluindo o de familiares do elenco.

O filme foi lançado em VHS, em 1987, e hoje pode ser visto no Youtube. Recomendo enfaticamente. (postado originalmente em 17/04/2017)

2x FAY WRAY (em Technicolor)


Quando ouvimos que um filme foi feito "em Technicolor" pensamos imediatamente em um filme a cores. Não é bem o caso. O Technicolor foi testado no fim da década década de 10 e aperfeiçoado na década seguinte. Só que o que se usava naquele alvorecer do cinema era um prisma com as cores vermelha e verde e suas combinações, o que não significava um filme colorido, e sim um filme com uma paleta limitada de cores. De qualquer forma, foi uma revolução cinematográfica.

Michael Curtiz
Michael Curtiz, o húngaro hoje lembrado por dirigir "Casablanca", foi o diretor dos dois primeiros filmes de terror em technicolor, "Dr. X" e "Mistery of the Wax Museum", em 1932. A Universal conseguira o primeiro blockbuster de terror no ano anterior, com o "Frankenstein" de Boris Karloff, dirigido por James Whale. Esta era a resposta da Warner/First National. Mas era era preciso inovar. Drácula e Frankenstein já tinham donos, então era preciso sair um pouco do sobrenatural e tentar assustar o público não com ficção, mas com a realidade. "Dr. X" tratava de um médico psicopata que mutilava suas vítimas e o segundo é uma trama de vingança que envolve assassinato, deformidades e embalsamamento. À primeira vista, imaginamos algo bizarro e apavorante. Quase "snuff", para a inocente platéia dos anos 30.

Só que Curtiz e o chefão do estúdio, Darryl Zannuck, tomaram todas as providências para que os filmes fossem assustadores, mas sem nunca resvalar para o mau gosto ou a apelação. Ao contrário, em ambos a balança 'terror x humor' é virada para o lado do humor, de forma a proporcionar ao público um alívio cômico em meio ao terror psicológico e por vezes visual. E a receita foi certeira. São filmes de altíssima qualidade e foram êxitos de bilheteria. Os efeitos especiais são notáveis considerando que são produções que beiram os 90 anos, e o suspense nos mantém atentos do início ao fim. São aulas magnas para os cineastas contemporâneos e os da geração seguinte.

Curtiz aproveitou que os filmes foram feitos praticamente em seqüência e utilizou o mesmo casal de protagonistas: o veterano Lionel Atwill e a deslumbrante Fay Wray, que vinha despontando como uma das mais lindas e talentosas atrizes de Hollywood. Uma das provas disso é que em "Wax Museum" seu papel é sensivelmente menor que o da coadjuvante Glenda Farrell, mas ela levou o top billing, pelo prestígio que sua presença trazia à produção.

Cartaz original do filme, com o aviso: "Better than Dr. X"

Infelizmente, foi justamente sua destreza e credibilidade em filmes de terror que acabaram levando-a ao papel de Ann Darrow, no "King Kong" de Merian Cooper, produzido no ano seguinte. E esse filme marcou-a a ferro e fogo. Embora seja uma das mais memoráveis atrizes dos anos 20 e 30, seu passaporte para a eternidade foi essa versão pioneira da história de Kong.

O Technicolor não ajuda e não atrapalha. Tudo é verde, laranja, bege e marrom. Até os magníficos olhso azuis de Fay são meio esverdeados. Mas os dois filmes (especialmente "Dr. X") são entretenimento de primeira. (06/05/2018)
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