terça-feira, 8 de novembro de 2016

Trump X Hillary


HILLARY X TRUMP


Não pretendia falar sobre a eleição norte-americana por aqui mas a quantidade de idiotices, e sua intensidade, ditas a esse respeito por páginas conservadoras ou reacionárias (e até por páginas coxinhas que eu imaginava terem algum estofo) são tão abismais que provocam uma reação mesmo no mais calmo dos leitores. Ver Hillary Clinton ser chamada de comunista e jogada no mesmo balaio de Dilma Rousseff é de uma imbecilidade somente comparável a "não vai ter golpe". Pior: é comparável ao mais cretino e soez dos expedientes petistas, ou seja, dizer que qualquer pessoa que não reza pela cartilha do PT é "de direita".

Como não falam inglês, nunca leram merda nenhuma na vida, não têm a menor idéia do que é a política brasileira e muito menos a de qualquer outro lugar do mundo, esses cretinos acham que o fla x flu americano é igual ao brasileiro: Trump é a direita do livre-mercado e Hillary é a comunista embolorada. Simples assim.

Seria necessário um texto gigante - e para escrevê-lo eu não tenho nem tempo e nem saco - para explicar a esse brasileiro burro e vitriólico ao menos os rudimentos da política norte-americana, o que é ser "republicano" ou "democrata", o que significa ser "socialista" nos Estados Unidos, e quem são Hillary e Trump.

Seria preciso explicar que o tão decantado e temido "socialismo" de Hillary se resume a medidas sociais que no Brasil já existem há décadas, como aumentar o salário mínimo ou dar Saúde e Universidade gratuitas para todos. Seria preciso explicar que ser "de esquerda" nos EUA não significa a mesma coisa que no Brasil; o "democrata" norte-americano, mutatis mutandi, é o tucano de boa cepa, e o "republicano" é um capitalista fanático religioso. Acabou. Não há comunistas nessa eleição. A única agenda progressista de Hillary não está no campo econômico, mas no social. Ela é favorável ao aborto, ao casamento gay e a uma série de reivindicações que o mundo todo vem adotando mas no Brasil ainda são tabu por culpa de nossa nefasta e arcaica formação pseudo-religiosa.

Em seguida seria preciso explicar que Hillary foi primeira-dama de 93 a 2001; foi senadora durante oito anos e chanceler do governo Obama durante quatro anos. É formada e pós-graduada em Direito. Tem defeitos como qualquer político, mas é uma mulher inteligente e preparada. Já Trump é um perfeito boçal que começou sua carreira de empresário com o dinheiro do pai, ganhou fortunas, perdeu fortunas, declarou falência, recuperou dinheiro, descobriu todas as gambiarras para poder se servir do Estado cada vez que se viu em apuros financeiros, e brilha em reality shows por ser uma figura excêntrica, barulhenta, imoral e fundamentalmente ridícula.

A campanha apenas amplificou o que quem o conhece de outros carnavais sempre soube: ele é racista, homofóbico, preconceituoso, xenófobo e misógino. Não tem um pingo de conhecimento sobre política interna ou externa. É um falastrão ignorante e grosseiro. Pesam contra ele inúmeras acusações de fraude financeira e de assédio sexual. Seu eleitorado é formado por uma espécie de entulho autoritário do século XX: o branco opressor que não se conforma com o fato de que seu país deu uma aula de civismo, elegendo um negro para dois mandatos, tendo como chanceler em um deles, uma mulher. Trump é o que de pior poderia haver na política.

Esse é, em poucas palavras, o painel da eleição norte-americana. US elections for dummies.

Não é direita contra esquerda. É José Serra contra Bolsonaro. Nenhum dos dois é perfeito, mas um deles é infinitamente mais imperfeito que o outro.

Para quem tem cérebro, é costuma usá-lo, a decisão é facílima.

Bernardo

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