segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Documentário "Tardes com Seu Chico"


Meus caros,
Seu Chico, aos 98 anos, não era mais advogado, vereador ou executivo da prefeitura. Era um contador de histórias. Não foram poucas as vezes em que comecei nossa entrevista e ele me interrompeu: “Hoje não vamos falar da sua pesquisa [referia-se à minha pesquisa sobre Jânio, razão pela qual o procurei]. Vamos falar de outros assuntos”. Era São Paulo antigo, eram os velhos colegas de Chico, seus professores no Largo São Francisco, seus parentes célebres e aquilo que lhe viesse à mente fertilíssima a partir de uma única pergunta. Na terceira ou quarta visita que lhe fiz começou a delinear-se em minha mente a idéia de um filme sobre ele, um documentário que o mostrasse em sua intimidade, conversando, compartilhando de sua gigantesca experiência e vivendo serenamente a aproximação de seu centésimo aniversário. Pensei seriamente sobre o assunto, conversei com Mariana Costa, minha amiga cineasta, pedi-lhe conselhos, perguntei-lhe sobre lentes, câmeras, duração, obtemperei-lhe acerca de meus receios sobre aquilo que filmava, como minhas constantes gargalhadas no meio das histórias de Seu Chico, e assim por diante. Questões de trabalho e de saúde, entretanto, abortaram meu projeto, impedindo-me inclusive de estar próximo a Seu Chico por ocasião de seu centenário, em outubro passado.

Com a morte desse querido amigo, há pouco mais de um mês, voltei ao material filmado que possuo. Não é suficiente para um filme, mas seguramente o bastante para um despretensioso e devotado compêndio de melhores momentos. Quando comecei a edição das cenas tive a agradável surpresa de verificar que, longe de ser um amontoado desorganizado de conversas, meus encontros com Seu Chico foram uma bem amarrada seleção de depoimentos sobre assuntos que tiveram relevância em sua vida, como a faculdade, o trabalho na prefeitura, o mandato de vereador, a intensa vida social e a vida na lide jurídica. Valendo-me da estupenda e inigualável memória de Seu Chico, bem como da notável e involuntária organização mental que lhe permitia falar de dez assuntos ao mesmo tempo sem perder o fio da meada, dividi esse documentário em seis partes que totalizam pouco mais de duas horas. Não há mais o que dizer. As cenas falam por si. Só repito que esta é uma iniciativa despretensiosa, sentimental, que realizei em menos de uma semana, com o fito único de perpetuar a imagem de Francisco Assumpção Ladeira, deixando-a como saudosa lembrança àqueles que o conheceram, e como referência de uma época àqueles que estão chegando agora.

Os textos a seguir apresentam cada bloco e trarão aqui e ali algumas informações adicionais. Divirtam-se e deleitem-se com esse ser humano inigualável que foi Chico Ladeira.

Bernardo
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TARDES COM SEU CHICO


Parte 1 – Os professores do Largo

Janeiro de 1933 - Formado
Chico Ladeira nasceu em Campinas em 19 de outubro de 1910. Perdeu o pai – Atílio Barreto Ladeira – com três anos e ainda jovem veio para São Paulo com a mãe – Elisa Assumpção Ladeira – e a irmã. O primeiro e o segundo grau ele fez junto aos irmãos maristas no Ginásio Nossa Senhora do Carmo. Em 1928 começou o curso de Direito na célebre faculdade do Largo São Francisco. Época riquíssima em acontecimentos políticos e sociais. Aquele foi um ano conturbado, de eleições municipais na capital, das quais Pires do Rio saiu reeleito prefeito, derrotando Marrey Junior, em uma eleição eivada de corrupção perrepista. Chico era parente de Laerte Teixeira Assumpção, um dos membros-fundadores do Partido Democrático, de oposição ao PRP, e pertencia, como ele mesmo dizia, “veladamente ao PD”. Chico teve o inaudito privilégio de estar no Largo durante o golpe de 1930 e a Revolução de 32. Sobre seu envolvimento nesses episódios ele fala no quarto episódio. Aqui ele comenta alguns dos notáveis professores com quem teve aula. Nomes hoje lendários, como Spencer Vampré, Sampaio Dória, Cândido Mota Filho e Noé Azevedo foram todos professores de Chico. Sobre Mário Masagão ele fala com admiração e ainda explica o porquê da grande admiração que Jânio tinha por esse professor de Direito Administrativo. E anedotas absolutamente impagáveis não faltam quando ele se refere a Braz Arruda (filho do velho João Arruda, professor de Filosofia do Direito) e ao velho Francisco Antônio de Almeida Morato, hoje nome de rua e de município.

Clique para ampliar: A turma do Largo que se formou em 32 e recebeu o diploma em 33. Chico está em pé com o chapéu na mão, na extrema esquerda. No meio, entre seus pupilos, o velho
 Francisco Morato

Houve um episódio que Seu Chico me contou rapidamente e que acabei não filmando, mas é indicativo de seu prestígio no Largo. No fim de 1931 o tradicional Partido Acadêmico, do qual Seu Chico era um dos diretores, e que, segundo ele, congregava o pessoal “mais pó-de-arroz” da faculdade (alunos da capital, geralmente de uma classe média razoavelmente abastada), o lançou candidato à presidência do Centro Acadêmico XI de Agosto. Ele não falou com maior interesse sobre o assunto, e o panfleto de campanha que encontrei também não é dos mais empolgantes. Disse Chico, no longínquo novembro de 1931, véspera da eleição:

Não fôra a benevolência de um grupo de amigos indicando o meu nome para, disputar a colegas – cujos méritos superam em muito a boa vontade que é a minha única credencial – a honra de representar o Partido Acadêmico nas próximas eleições do Centro XI de Agosto e se não fôra o dever, muito grato, aliás, que me cumpre de não esquivar-me ao gesto amigo desses colegas bons, eu não concorreria às eleições senão como um simples eleitor, animado apenas do desejo de cooperar com o pouco de que sou capaz para o engrandecimento do nosso Centro – do Centro XI de Agosto.

Assim, candidato, depositário da confiança do meu partido, sinto-me no dever de aqui expor aos colegas as linhas gerais do meu programa. Não é ele grande e estou certo de que o realizaria – contando com a colaboração dos colegas.

Segue-se uma pequena lista de promessas, das quais podemos ressaltar uma, referente à chamada “ação externa” do Centro, e que mostra a patente decepção dos estudantes – sobretudo aqueles, como Chico, que se colocaram a favor do golpe de 1930 – com os rumos ditatoriais que já então tomava o governo de Vargas, não apenas preterindo Francisco Morato na interventoria paulista (aboletando nos Campos Elíseos um desclassificado como João Alberto), mas procrastinando a convocação de uma Constituinte e o retorno à democracia plena: “E, finalmente, como ponto básico da nossa ação externa; pelo dever que cumpre a todos os brasileiros, e com especial responsabilidade a nós – os estudantes de Direito – intensa será a campanha para que o Brasil dentro do mais breve prazo possível, seja entregue à soberania do seu povo voltando ao regime constitucional”. Seu Chico acabou derrotado pelo colega Arnaldo Barbosa, da Reação Nacionalista, que então presidiu o XI durante o ano da Revolução Constitucionalista. Mas ele não se amofinou. Coisas bem melhores o aguardavam no futuro próximo, quando deixasse o Largo, em janeiro de 1933.



Parte 2 – Fábio, Laerte e Marcondes

1935 - Trabalhando com o prefeito Fábio Prado
O golpe de 1930 e a Revolução de 1932 provocaram um atrito indelével entre o ditador Getúlio Vargas e o Estado de São Paulo. Sem qualquer traquejo, experiência ou tato, o ditador escolheu, durante os primeiros cinco anos da década de 30, as figuras menos indicadas para o cargo de interventor, e cada escolha era um arranhão nos brios do povo bandeirante. Em agosto de 1933 ele acertou, escolhendo Armando de Salles Oliveira, “paulista e civil”, como todos há tempos vinham exigindo. Na prefeitura a situação era ainda pior. Desde o golpe, nada menos do que 12 pessoas já haviam ocupado a prefeitura, entre figuras pouco indicadas, pouco dispostas ou flagrantes nulidades. Salles deu fim a essa ridícula dança das cadeiras, nomeando para o cargo, em setembro de 1934, o competente Fábio da Silva Prado, filho de Antônio da Silva Prado, prefeito durante 12 anos, entre 1899 e 1911. Em março do ano seguinte Seu Chico foi trabalhar com Fábio, e é sobre isso que ele fala no começo desta segunda parte. A experiência seria inesquecível, não apenas por ser Fábio um político competente e realizador, mas porque na prefeitura Chico se tornaria amigo de Mário de Andrade, que trabalhava no Departamento de Cultura com Francisco Patti, e de Manequinho Lopes, amizade essa que mais tarde – quando Seu Chico se tornou vereador – redundaria num Requerimento seu para que fosse criado o Parque do Ibirapuera.
Laerte Teixeira Assumpção

Na seqüência Chico fala de duas personalidades marcantes, embora por razões inteiramente opostas. Seu tio-avô Laerte Teixeira Assumpção nasceu no município de Tietê, no interior paulista, em 1880. Também se formou nas Arcadas, no início do século XX e era um homem refinado e culto. Riquíssimo, pôde se dedicar desinteressadamente à política e aos negócios e em 1926 estava no grupo de bacharéis que fundou o Partido Democrático. Anos depois foi também um dos fundadores do Partido Constitucionalista, que chegou a presidir. Sobre Laerte, eis o que diz um livreto do PC publicado na época das eleições estaduais paulistas de 1934 (da qual ele saiu vitorioso, tornando-se presidente da Assembléia Constituinte Paulista de 1935): “Capitalista, sua atuação na vida do alto comércio foi sempre norteada por um sólido conhecimento dos altos e importantes problemas econômicos e financeiros do mundo, que o recomenda como um técnico dos mais abalizados no assunto. Figura de larga projeção política e social, com o fundação do Partido Constitucionalista, foi o Dr. Laerte Assumpção naturalmente indicado para a sua presidência, cargo que ainda hoje ocupa, com raro descortino e não pequeno senso de equilíbrio que o tem norteado de maneira impecável na direção dessa pujante agremiação partidária”.

Vicente Rao, ministro da Justiça, Armando de
Salles Oliveira e Laerte, na posse de Salles
Certa vez Seu Chico me contou uma história que descreve bem o temperamento de seu tio-avô (que não está filmada, infelizmente). Presidente da Constituinte Paulista, coube a Laerte dar posse ao então interventor e agora “governador constitucional” Armando de Salles Oliveira, e ele assim o fez, em 11 de abril de 1935. Um ano e meio depois Salles deixou o governo para se candidatar à presidência. Considerando que ele não tinha vice, a conseqüência lógica seria de que Laerte ascendesse ao posto de governador. A bancada do Partido Constitucionalista, entretanto, preteriu Laerte e elegeu Henrique Smith Bayma, que ficou no cargo por exatos oito dias, até que foi substituído por Joaquim Cardozo de Mello Netto. Laerte culpou o parlamentar Ernesto Leme pela preterição. Ao sobrinho-neto comentou, referindo-se a Leme: “Esse é um torpe”. Amargurado com a traição de que se julgava vítima, nunca mais voltou à Assembléia. “E quando o Laerte morreu”, conta Seu Chico, “imagine você que foi o Ernesto Leme quem fez o elogio fúnebre!”

Seu Chico conta causos de Laerte mas não se estende sobre o trágico fim desse seu parente, que se suicidou em 1950, premido por problemas familiares.

A morte de Laerte - Diário de S. Paulo, 9 de abril de 1950

Alexandre Marcondes Machado Filho foi ministro de duas pastas durante a ditadura de Vargas, além de deputado federal. Mas não é sobre nenhum dos méritos profissionais do velho jurista que Chico fala, no vídeo. Pelo contrário. Ele conta anedotas divertidíssimas sobre o consumo alcoólico exagerado do ministro, e seus desdobramentos tanto no Automóvel Clube quanto no meio da rua, em inesperado exercício de guarda de trânsito. Chico também aproveita a menção de Marcondes para comentar algumas de suas idas com o ex-prefeito Prestes Maia à Pensão Humaitá, de Yan de Almeida Prado, onde o interesse era bem mais etílico do que bibliográfico.



Parte 3 – Câmara Municipal e Jânio

Tentativa frustrada de se reeleger em 51. Seu Chico foi primeiro suplente
e assim que um de seus colegas saiu da Câmara para ocupar uma secretaria municipal,
ele retornou ao Palacete Prates, na Líbero Badaró, onde funcionava o Legislativo Paulista
Clique para ampliar: propaganda na
Folha de Perdizes
É assim que Seu Chico descrevia a gênese de sua candidatura a vereador: “Eu fui procurador da prefeitura; procurador judicial, procurador fiscal e procurador administrativo, e fui presidente da Comissão Civil, na época do Abraão Ribeiro. Então, exercendo esses cargos todos, eu conhecia muito bem a política municipal, e nessas condições, gostando muito da cidade onde eu vivo, e querendo o bem da cidade, porque o que me interessa é a política municipal - pra mim não interessa nada Marselha, Paris, Lisboa, porque eu não vou viver lá. Nem conheço, nunca estive lá - eu quero saber da terra onde vivo e vou morrer. Transporte, água, esgoto, iluminação, todas as coisas que uma cidade deve ter, e eu podendo contribuir para isso, resolvi me candidatar a vereador. E não gastei dinheiro para minha campanha. Eu era advogado de uma companhia de seguros, um dos diretores dessa companhia teve um problema meio sério, que eu resolvi, e além de se dar bem comigo ele ficou grato e mandou imprimir propaganda, tudo que eu precisava, cartazes, folhetos, ele mandou fazer, e eu não precisei gastar nada”.

Padre Arnaldo
Com a morte de Nicolau Tuma em 2006, Seu Chico não se tornou apenas um dos últimos integrantes vivos da 1ª Legislatura da Câmara Municipal depois do Estado Novo, mas o único sobrevivente da bancada de sete vereadores da UDN. Nesta terceira parte ele dá um depoimento rico e esclarecedor a respeito de alguns dos notáveis vereadores daquela legislatura, e começa por seus próprios colegas udenistas. O humor, entretanto, está na lembrança de vereadores excêntricos e divertidos como o integralista João Carlos Fairbanks, advogado, engenheiro, geógrafo, matemático, astrônomo e mais uma penca de coisas, conhecido ao mesmo tempo como “o vereador dos sete instrumentos”, e como “inquieto corifeu do hitlerismo indígena”, dada sua ligação umbilical com Plínio Salgado. Também impagáveis são as recordações que Chico guarda do Padre Arnaldo de Moraes Arruda, que começou seu mandato rezando pela cartilha pessepista de Adhemar, mas com o tempo foi se decepcionando e se aproximando cada vez mais da oposição, e de vereadores como Seu Chico. Visitas ao sítio do Padre e idas esporádicas ao Jockey com direito a uma garrafa de whisky escondida sob a batina são algumas das histórias de Seu Chico sobre o velho Arnaldo Arruda.

Uma parte deste documentário não poderia deixar de ser dedicada a Jânio. Seu Chico era bissexto no que tange ao mato-grossense, foco primordial de minha pesquisa. Inicialmente sua abordagem foi bem-humorada – o episódio que conta sobre a visita deles a um quitandeiro logo antes da sessão na Câmara é divertido – mas com o tempo começou a ficar claro que as lembranças de Chico sobre Jânio não eram exatamente as melhores. Lembro-me que nossa conversa era tão ampla e diversificada que em dado momento ele se chocou ao ser informado que o trabalho era sobre Jânio, e não sobre a Câmara como um todo, naquela legislatura. Chico não negava as qualidades de Jânio, falava de algumas vezes em que saíram juntos, favores que fez ao jovem vereador, mas em geral, não havia entre eles intimidade ou amizade. Chico tinha uma vida social intensa e era assíduo freqüentador do Jockey; Jânio, por outro lado, encetou violenta batalha contra o Jockey durante seu mandato na Câmara Municipal. Seu Chico seguia a orientação da UDN para o bem ou para o mal; Jânio detestava partidos e não tinha qualquer afinidade com a confraria de bacharéis pequenos burgueses que formava a União Democrática Nacional. Por fim, a política não era pedra angular da existência de Chico, que colocava os amigos em primeiro lugar. Jânio era exatamente o contrário. E é curioso ouvir o que Chico tem a dizer sobre o ex-presidente, que ele conheceu logo no início de sua carreira política.



Parte 4 – 1930, 32 e assim por diante

1928 - Escola de Instrução Militar 52
Seu Chico não participou das grandes agitações no Largo São Francisco durante a eclosão do golpe de 30 porque, egresso do “Tiro” da faculdade – a Escola de Instrução Militar 52 – só foi convocado como reservista quando o golpe já se efetivara e Washington Luís não era mais presidente. Sua participação ocorreu antes e foi ainda mais importante: em 1929 trabalhava de vez em quando como speaker da Rádio Record quando esta ainda era uma modesta estação pertencente a Álvaro Liberato de Macedo, e pelos enormes microfones da rádio fez propaganda para Getúlio. Resultado: o delegado do DOPS fechou a rádio por três dias. Na Revolução de 32 sua participação também não foi no front de batalha: “Eu entrei num batalhão”, me disse Chico, “fizeram um batalhão de cavalaria, aqui, eu não quis seguir na frente com meus primos, mas entrei no batalhão de cavalaria, batalhão de polícia, etc., e tomei uma parte da revolução, uma parte a favor da revolução, defendendo a revolução, mas não de combatente”. Pode não ter ido para o front, mas estava no cruzamento do Viaduto do Chá com a Líbero Badaró na noite de 23 de maio, e viu quando um piano foi atirado da janela do Clube Português - empastelado naquela noite tenebrosa - espatifando-se no meio da rua.

Paulo Lauro

Na seqüência Seu Chico conta causos sobre Ernesto Nazareth e Paulo Setúbal, que conheceu pessoalmente, fala rapidamente sobre sua longa associação com o Jockey Clube (assunto de que infelizmente tratei pouquíssimo com Seu Chico) e volta à política, falando sobre o Parecer que redigiu na Comissão de Justiça da Câmara, rejeitando as contas do prefeito Paulo Lauro, em 48, ajudando a derrubar esse prefeito, que entrou para a história como um dos mais corruptos de todos os tempos. Há ensejo para que Chico rememore o elogio que recebeu de Oswaldo Chateaubriand – jornalista, irmão de Chatô e nem um pouco dado a elogiar políticos da esfera municipal – por esse Parecer. No fim Chico fala sobre a célebre campanha do “Tostão contra o Milhão”, a eleição para a prefeitura da capital em 1953, na qual Jânio aniquilou Francisco Antônio Cardoso, o candidato de Chico, da UDN, do governador Lucas Garcez e de uma coligação de 12 partidos que nada pôde fazer para deter a motoniveladora popular representada por Jânio naquela ocasião. Em 54 a UDN se rendeu a Jânio e o apoiou para o governo, na luta contra o inimigo comum, que era Adhemar de Barros. Seu Chico testemunhou em primeira mão a extraordinária popularidade de Jânio, inclusive no interior de São Paulo.



Parte 5 – Rádio Record e Grande Otelo

Seu Chico, retratado em 1950 pelo pintor
e amigo Gaetano de Gennaro
A história contada pelo Seu Chico nesta quinta parte, sobre a Rádio Record, era uma de suas preferidas. Falou-me desse caso em nossa primeira entrevista, em 99, e quando nos reencontramos em 2008 ele comentou, antes de eu ir embora: “Próxima vez te contarei minha história com a Record pormenorizadamente”, enfatizando o pormenoriza-damente. O relato se divide em três partes, sendo a primeira sobre o compositor Alberto Marino e o prefixo que compôs para a velha Rádio Educadora; a segunda é sobre a encrenca em que se meteu o fundador da Record, Álvaro Liberato de Macedo, incluindo aí o assassinato do afamado “desordeiro” Joaquim Jaguaribe Lacerda de Abreu, e a terceira, finalmente, é sobre a oferta que Seu Chico e o tio deixaram passar, de comprar a Record de Macedo, que acabou vendendo-a para Paulo Machado de Carvalho. A menção de Paulo dá a Seu Chico ensejo para falar de sua amizade com Marcelino de Carvalho, irmão de Paulo, e sobre algumas das notáveis atrações musicais que assistiu ao vivo na Record, no curto período em que lá trabalhou, no fim da década de 20.

Grande Otelo

Na segunda metade do vídeo, Seu Chico conta em detalhes outra das histórias que mais gostava: o encontro que teve em 1928, no grêmio estudantil que funcionava na residência de Flávio Torres, com o jovem Sebastião Bernardes de Sousa Prata, que na época tinha 13 anos e era apenas um mineirinho talentoso e precoce, agregado à família de Antônio Queirós Filho. Queirós, chamado então pelo apelido familiar de “baby”, mais tarde tornou-se político proeminente em São Paulo e Secretário Estadual de Justiça do governo de Jânio, em 54. Nada que se pudesse comparar, entretanto, ao que se tornou o mineirinho Sebastião: um dos atores e performers mais famosos do Brasil e do mundo, conhecido por todos pela alcunha de Grande Otelo. Seu Chico ressalta que o relato é um importante subsídio para a elaboração da biografia de Grande Otelo. O livro, por sinal, já existe, escrito por Sérgio Cabral. Ainda não li, para cotejar as informações impressas com os detalhes em primeira mão dados por Chico, mas assim que o fizer, voltarei a este post.



Parte 6 – Epílogo



A quinta e última parte mostra mais momentos inesquecíveis de Seu Chico, permeados por um pequeno comentário que fiz sobre nossas conversas, e os depoimentos de sua sobrinha, a consagrada professora e escritora Zélia de Almeida Cardoso, a quem Seu Chico tanto admirava, e sua fiel enfermeira Rose, a última pessoa com quem ele conversou, já no hospital, dias antes de falecer. Como disse no início, as palavras são desnecessárias. Cada imagem valerá por milhões delas.

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