quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Charlie Chaplin, Um Rei nos Estados Unidos - Parte 2/2


Uma torneira aberta de idéias, Chaplin passou o ano de 53 acostumando-se ao idioma francês – com o qual tinha grande dificuldade, embora parecesse dominá-lo em Monsieur Verdoux – e à nova vida, na Suíça. Pensou brevemente em ressuscitar o Vagabundo, agora como um homem mais velho, mas abandonou rapidamente o plano, considerando que as acrobacias utilizadas pelo Vagabundo para fugir de seus percalços eram essenciais, e já impossíveis de realizar, embora a forma física do cineasta, aos 64 anos, fosse absolutamente impressionante. Depois pensou em um personagem mais sombrio, na linha de Verdoux. Desta vez quem obstou a iniciativa foi a própria Oona. Quase acidentalmente, em ocasiões sociais, Chaplin acabou roçando ombros com alguns monarcas depostos, que escolhiam a bucólica e tranqüila Suíça para morar. O personagem se materializou em sua mente: um rei. Imaginou imediatamente toda a seqüência inicial, em que o povo invade o palácio atrás do monarca, apenas para descobrir que ele já fugiu, e levou todo o dinheiro do tesouro. Só que ao invés de um país onde pudesse viver discretamente seu exílio, o monarca escolhe os Estados Unidos. Inteligente como sempre foi, Chaplin privou-se de declarações, artigos ou entrevistas desancando os norte-americanos e resolveu desaguar suas mágoas e ressentimentos com o país através de uma comédia.

Bob Hope

Na busca constante por idéias originais, ele encontrou em sua própria experiência norte-americana os subsídios para encher um roteiro de duas horas. Elementos para ridicularizar, dentro do cotidiano norte-americano, em todas as áreas, não faltavam. Faria troça com a imprensa e com o poder alienador da televisão, veículo ainda relativamente novo; brincaria com os incômodos causados pela imensa tela do Cinemascope, o barulho intolerável nas ruas e nos restaurantes, a febre do rock and roll e a mercantilização do indivíduo. Jerry Epstein, um dos assessores de Chaplin, observa em suas Memórias que a cada novo trejeito, gag ou cena que inventava para o rei, Chaplin comentava: “Bob Hope seria perfeito neste papel!”, uma pequena janela para o cérebro de Chaplin, por onde vemos um comediante que ele admirava, embora fossem totalmente diferentes.

Chaplin e o filho Michael
Certo dia seu filho Michael imitou um professor da escola, em Corsier, que costumava iniciar suas broncas calma e pausadamente, e seguia num crescendo até ralhar com as crianças aos berros. A família toda desatou a rir com a imitação e Chaplin viu ali não apenas uma criança com talento para atuar, mas o embrião do personagem Rupert, o menino anarquista, falastrão e sangüíneo, filho de dois comunistas perseguidos pelo Comitê de Atividades Anti-Americanas (CAA). Estava delineada a trama política e dramática do filme. A cereja do bolo veio com a “Escola Progressiva” onde Rupert estuda. A Pedagogia Progressiva, surgida no século XIX, pretendia ensinar as crianças a pensar por si próprias, e não absorver como esponjas qualquer coisa que se lhes dissesse na escola. A filha de Chaplin, Geraldine, estudou durante um tempo em uma dessas escolas, em Los Angeles, e Chaplin considerou o resultado menos do que satisfatório. A escola e o método progressivo, portanto, também seriam ironizadas no filme. Restava agora inventar uma história que encadeasse cenas e personagens, e o cineasta passou os anos de 54 e 55 nessa tarefa. Em 1956 começou a produção de seu novo filme, já com o título de Um Rei em Nova York. O estúdio escolhido foi Shepperton, em Londres.

Vista aérea dos estúdios Shepperton

Foi uma filmagem difícil. Era o primeiro filme que o cineasta realizava em um estúdio que não fosse seu, com o seu próprio staff em 40 anos. Os ingleses não tinham a mesma eficiência que os norte-americanos e não estavam acostumados ao ritmo ou às manias de Chaplin. Ele mudava seus roteiros constantemente e sempre tinha idéias de última hora, o que obrigava os funcionários a trazer cenários e objetos de cena com extrema rapidez nos horários mais inoportunos. Já na Inglaterra, tudo era mais lento e burocrático. Jerry Epstein conta a história de quando Chaplin, na hora de filmar, mudou a posição de uma cadeira e quase provocou uma greve dos encarregados pelo cenário. As regras sindicais beiravam o ridículo, de tão severas, e Chaplin teria que ter pedido para alguém fazer aquilo, ou estaria invadindo a atribuição profissional de outros. O trabalho se arrastou, tudo era moroso, demoradíssimo, e Chaplin teve brigas terríveis com o câmera, por conta de sua lerdeza. Para piorar, Shepperton era um lugar frio e pouco acolhedor. A cantina do estúdio era uma pocilga com um cardápio pobre e sem graça. Aos domingos não havia quem servisse um café a Chaplin. E como se não bastasse, o hotel para onde ele ia, no fim do dia, era o Great Fosters Hotel, em Egham, que mais parecia uma casa mal-assombrada.

Kay Kendall
Chaplin era o rei da Estróvia, Igor Shadov. A escolha do elenco teve um único problema: a linda atriz inglesa Kay Kendall, ex-namorada de Sidney, filho de Chaplin, estava cotada para interpretar a publicitária Ann Kay. Só que quando a viu no teatro, o cineasta a considerou “inglesa demais”. Kay acabou descartada e o papel foi para a também inglesa Dawn Addams, que não era tão talentosa quanto Kay mas de fato tinha uma brejeirice norte-americana mais adequada para a personagem. Idiossincrasias de Chaplin. Dawn era filha de um capitão da Força Aérea Britânica e tivera uma vida bastante rica, para seus curtos 26 anos. Passou a infância na Índia e já adolescente, quando anunciou para a família que desejava se tornar atriz, os pais a despacharam para o Rio de Janeiro. Conformados, a trouxeram de volta à Inglaterra e ela cursou a RADA, Royal Academy of Dramatic Arts. Em 1952, foi uma das jovens que participou dos testes para o papel de Terry, em Luzes da Ribalta. Perdeu o papel para Claire Bloom, mas ficou conhecendo Chaplin e Oona. Em 1954 Dawn se casou com o italiano Vittorio Emanuele Massimo, 19 anos mais velho do que ela, e príncipe do vilarejo de Roccasecca Del Volsci, no Lácio. Chaplin e Oona compareceram e dois anos depois, quando escalava o elenco de Um Rei em Nova York, o cineasta lembrou-se dela.

Dawn Addams em 1954, "starlet and bride"

Uma história deliciosa desse processo é contada por Jerry Epstein. O papel da rainha Irene é pequeno. Ela e Shadov se casaram por um acordo político entre a Estróvia e (aparentemente) a França, e quando o rei é deposto, não vê mais razão para que a rainha permaneça presa a ele pelos laços matrimoniais. Só que se os dois não se amavam quando se casaram, os anos de convivência fizeram surgir uma estima profunda, uma grande amizade, e quando chega o momento de terminar o casamento, a rainha se mostra triste. Quando volta a Paris, depois de um rápido encontro com Shadov em Nova York, a despedida dos dois no aeroporto deixa claro que o fim da necessidade diplomática do casamento deles pode ser, paradoxalmente, o início de um verdadeiro romance. Chaplin tinha a atriz australiana Margaret Johnston em mente para o papel, mas ela estava fazendo Lady Macbeth no teatro. Começaram os testes com inúmeras atrizes na faixa dos 35 a 40 anos. Depois de dias testando uma atriz atrás da outra, Chaplin mandou um aviso a Jerry Epstein pela recepção do hotel Savoy, em Londres: não queria mais ver rainhas. Em uma ironia do destino que poderia tranqüilamente figurar numa das comédias do cineasta, a rainha Elizabeth foi visitá-lo no Savoy e a mensagem, mal-interpretada pelos recepcionistas do hotel, fez com que a rainha desse meia-volta, desconsolada, e se dirigisse à saída. Por sorte algum executivo do hotel se deu conta que havia um engano e correu a tempo de trazer a rainha antes que ela fosse embora, ou seria o fim das boas relações de Chaplin com seu próprio país. No fim o papel foi para a apagada Maxine Audley.

Michael Chaplin
Outra curiosidade é que o pequeno papel de Johnson, o produtor de comerciais que contrata o rei para uma campanha publicitária de whisky, chegou a ser filmado com Sam Wanamaker, um dos muitos norte-americanos que se transferiu para Londres após ver sua carreira sucumbir nos Estados Unidos graças ao macartismo. A cena foi filmada, tudo parecia bem, mas quando assistiu o copião, Chaplin não gostou do resultado e dispensou Wanamaker, convocando o ator Sid James para refazê-la. O resto do elenco é de extrema competência. Jaume, embaixador e braço direito do rei Shadov, é o ótimo veterano Oliver Johnston. Jerry Desmonde, famoso straight man da comédia inglesa, faz o acanalhado Primeiro Ministro Voudel. Até mesmo a atriz Joan Ingram, a socialite Mona Cromwell, brilha intensamente nas poucas cenas em que aparece. Rupert foi um papel que veio a calhar para Michael Chaplin. O menino, que tinha apenas seis anos quando a família chegou à Suíça era quem estava sentindo de maneira mais cruel a saudade dos Estados Unidos. Nascera lá, falava como um norte-americano e não tinha idade suficiente para compreender por que haviam se mudado. Sua relação com o pai, que já não era das melhores, andava ainda mais tensa e interpretar Rupert foi uma boa oportunidade para os dois acertarem os ponteiros de pai e filho. Estava com 10 anos quando Um Rei em Nova York foi rodado.

Com todos os problemas de Shepperton, Chaplin fez uma excelente comédia. E uma comédia como não fazia há muito tempo. Todos os filmes de Chaplin, desde O Garoto, tinham algum tipo de história de amor. Seja de Chaplin pelo garoto, pela bailarina em A Corrida do Ouro, a artista circense em O Circo, a florista cega em Luzes da Cidade, Paulette Goddard em Tempos Modernos e O Grande Ditador, Verdoux e sua esposa paralítica, chegando a Calvero e Terry. Um Rei em Nova York pode ser definido como uma comédia que trata única e exclusivamente das encrencas que o rei Shadov se mete nos Estados Unidos. Seu flerte com Ann Kay não é amor, e sim safadeza; seu romance outonal com a rainha está subentendido e não chega a ocorrer, e sua relação com Rupert é comovente, mas engloba também o elemento político do filme e ambos são assessórios, e não o principal. A sátira já está no momento em que começa o filme e ouvimos as primeiras notas da trilha sonora, que não é nada menos do que uma brincadeira primorosa com o Star Spangled Banner, hino nacional norte-americano. (A seqüência do artigo é um comentário em detalhes sobre o filme inteiro, do início ao fim, portanto há spoilers de todos os tipos. Quem não viu o filme e pretende vê-lo, deve parar aqui)

Chaplin (entre o advogado Jerry Giesler e o oficial de justiça George Rossini) sendo "fingerprinted" em fevereiro de 1944, no processo de paternidade, e o mesmo ocorrendo a Igor Shadov, em sua chegada aos Estados Unidos

Olivier Johnston, Chaplin e Jerry Desmonde
Passada a cena inicial em que o povo vai ao palácio de Shadov e descobre que ele fugiu o dinheiro público, o rei chega aos Estados Unidos em um avião da Pan-American e logo no aeroporto é vítima da agressividade da imprensa, que tanto maltratou Chaplin nos lançamentos de O Grande Ditador, Verdoux e Luzes da Ribalta. Os repórteres o acusam imediatamente de ter fugido com o dinheiro de seu país. Em seguida Shadov é obrigado a deixar suas impressões digitais como se fosse um criminoso comum, fato idêntico ao que lhe aconteceu durante o processo de Joan Barry, e ao qual a imprensa propositalmente teve acesso e fez questão de registrar em múltiplas fotos.

Caviar e sopa de tartaruga, para a compreensão do garçom, que não ouve nada com a barulheira

Chegando ao hotel, ele diz a Jaume que está ansioso para desfrutar da noite jovial e frenética de Nova York. Começam novamente as patadas. Na rua, Shadov e seu embaixador andam espremidos em uma rua movimentada e barulhenta, onde se escutam sirenes, automóveis e uma música hilária de fundo que diz “when I think of a million dollars, tears come to my eyes”, cantada pelo próprio Chaplin. A fim de sair do tumulto os dois entram num cinema onde uma banda de rock toca ao vivo antes do filme começar. É talvez o único momento realmente datado em todo filme, primeiro porque o costume da música ao vivo em cinemas caiu em desuso tempos depois, e segundo porque a intenção era mostrar uma banda de rock e o efeito deletério que o então novo estilo musical tinha sobre os jovens. Só que longe de ser uma banda de rock, o que se vê é uma orquestra, uma big band, e a pergunta de Shadov a Jaume, “do you think this sort of thing is healthy?”, hoje não tem mais qualquer sentido.

Terminada a apresentação da orquestra os dois se sentam e começam a assistir os trailers que precedem o filme. Vem uma divertida crítica à produção cinematográfica norte-americana: os filmes anunciados são todos cretinos ou violentos demais. Assistindo a um tiroteio na imensa tela do Cinemascope, acompanhando os tiros com a cabeça, de um lado para outro, Shadov acaba ficando com torcicolo e os dois saem antes do filme começar. No restaurante em que vão jantar as coisas parecem mais calmas até que o pianista se retira e uma big band começa a tocar ao lado da mesa de Shadov e Jaume. A barulheira da música impede que o velho garçom escute o pedido do rei e Chaplin dá um show de comédia mostrando ao garçom através de mímica que eles querem caviar e sopa de tartaruga. No dia seguinte, logo pela manhã, Jaume avisa ao rei que Voudel sacou o dinheiro deles e fugiu para a América do Sul. Ambos estão falidos, e só o que têm são projetos nucleares para a utilização doméstica de energia atômica, nos quais o rei vinha trabalhando antes de sua deposição. Shadov tem um rápido encontro com a rainha Irene, que vem da França só para vê-lo e volta para lá em seguida.

Chaplin e Dawn Addams

Enquanto isso o rei recebe diversos telefonemas da socialite Mona Cromwell, convidando-o para um jantar, convite sempre declinado por Shadov, que não tem qualquer interesse em entreter a esnobe e ignorante sociedade de Nova York (a qual, por sinal, Chaplin freqüentava). Nas palavras do próprio rei, “The answer is no. I’m not accessible to strangers for the price of a free dinner”. É o fim da primeira parte do filme.

Melancólico com a partida rainha, a quem deu a liberdade para pedir o divórcio, se assim desejasse, Shadov prepara-se para tomar banho. Pela porta que conecta seu banheiro ao do quarto ao lado, ele escuta uma moça cantarolando a ária de uma ópera e pede a Jaume que olhe pelo buraco da fechadura. O obediente Jaume assente e vê a bela Ann Kay. Shadov também olha e se encanta com a moça. Ela finge uma torção no tornozelo e grita por socorro. Chaplin abre a porta, que está destrancada e se oferece para massagear o tornozelo da moça. Ela se apresenta e quando o rei diz seu nome, ela comenta, coquete, que os dois se encontrarão naquela noite, na festa de Mona Cromwell. Shadov inicialmente diz que não pretendia comparecer, mas poderia mudar de idéia se a moça estiver presente. Ela vai se vestir e ele volta para seu banheiro, exultante, e dá um salto com pirueta para dentro de sua banheira (cena que - segundo Jerry Epstein - repetiu dezenas de vezes, sendo que em uma delas bateu a cabeça com força e quase teve que interromper as filmagens). Logo se descobre que Ann Kay se hospedou no quarto ao lado de Shadov com o intuito específico de atraí-lo para a festa da socialite. Kay é publicitária e apresentadora de um programa de televisão chamado “Real Life Surprise Party”, espécie de mistura entre o Big Brother e o programa de Amaury Jr., em que festas com celebridades são mostradas em tempo real e a inserção de comerciais é ao vivo.

Na festa, as referências à ignorância dos americanos são várias. Logo na entrada Shadov olha para um quadro e pergunta ao anfitrião, marido de Cromwell: “Is that an El Greco?”, ao que o outro responde, pensando que o rei se refere a alguém que estava por ali: “No, sir, he’s a filipino”. Shadov explica que está falando do quadro, e a tréplica é ainda pior: “Well, I’m not sure, my wife bought it in an auction sale”. A cena do jantar é maravilhosa. Chaplin senta-se com Cromwell à direita e Ann Kay à esquerda. Brinda polidamente à saúde da anfitriã e não pára mais de flertar com a publicitária. Ela, porém, é obrigada a seguir secretamente o script de seu programa de TV, então cada vez que escuta uma campainha, muda completamente de assunto e começa a fazer um comercial decorado, seja de desodorante ou de pasta de dentes, deixando o rei totalmente perdido. As reações de vergonha e basbaque de Shadov, cada vez que ela pula do flerte descarado entre os dois para o problema de “transpirar em salões abafados” ou a necessidade de conversar com as pessoas “sem o medo de ser repelente” são impagáveis. O clímax da cena está no momento em que ela comenta o propalado talento teatral de Shadov, que teria feito um Hamlet em sua juventude. Cheia de charme, ela convence o rei a recitar o monólogo de To be or not to be para os comensais, tendo, evidentemente, a câmera escondida rolando e preparada para transmitir a performance ao vivo.

"The mad bombastic prince..."

Aqui cabe um parêntese. Chaplin sempre falou de Shakespeare e da poesia shakespeariana com uma indiferença que tocava as raias do desdém. Em sua autobiografia se esmera em acrobacias argumentativas para explicar o porquê de se manter à distância de algo tão cultural, humana e sentimentalmente superlativo. “Eu não finjo que gosto de assistir a peças de Shakespeare no palco”, diz o cineasta, entre outras coisas. “Meu sentimento é eminentemente contemporâneo. Tais representações exigem um tipo especial de panache que não me agrada e pelo qual não tenho o menor interesse. Sinto-me como se estivesse ouvindo um discurso escolar”. Desdém puro. Chaplin poderia ter mudado a frase inicial de seu comentário para “eu finjo que não gosto”. Na minha concepção, Chaplin nada mais era do que um shakespeariano frustrado. Enfronhado com a comédia muda, seja no palco ou na telona, e associado umbilicalmente a ela desde os primeiros passos na vida artística, acabou fechando a porta para o teatro da palavra, o teatro dramático e outras de suas formas. Dramas como Casamento ou Luxo (mesmo não participando como ator) e idéias que não vingaram, como interpretar Napoleão, nos anos 20, me parecem o artista expiando sua vontade frustrada de atingir os píncaros de Herbert Beerbhom Tree (que Chaplin conheceu, admirava profundamente e chegou até a imitar em sketches cômicos na companhia de Fred Karno) e outros grandes atores shakespearianos do início do século XX. Na área da composição de texto também são muitas as vezes em que vemos o tal pathos e o sentimentalismo do bardo em Chaplin.

Jaume assiste o Hamlet de Shadov na televisão
Mas ele não dava o braço a torcer. Teria sido um Hamlet excelente em sua juventude, um Ricardo III brilhante na maturidade e quiçá um Lear perfeito em sua velhice. Mas agora era tarde demais, sua imagem estava indelevelmente ligada à comédia sentimental e isso devia doer. Por isso, em Um Rei em Nova York, Shadov se levanta e diz: “There are many ways of playing the soliloquy of Hamlet. There’s the pale, thoughtful, anemic prince, and there’s the mad bombastic one”, patada clara em Olivier, a epítome do príncipe pálido e pensativo. Alguém na mesa responde “Anything, but anemic”. Shadov então recita o monólogo de maneira furiosa. Na cena, de poucos minutos, se observa o prazer do comediante e o empenho com que interpreta o monólogo. A razão da cena está no fato de que Jaume, que não fôra à festa, acaba assistindo, com absoluta estupefação, Shadov interpretando Hamlet pela televisão do hotel. O humor está todo lá, a cena é divertidíssima, mas também está lá o shakespeariano frustrado – o artista superior que não se contentava em ser um gênio exclusivamente da comédia – utilizando a sátira para dar vazão a seu desejo oculto de figurar no rol dos atores trágicos que encantam a Inglaterra desde o século XVII. Quando volta ao hotel, Jaume revela, indignado, que vira Shadov na televisão e ele se dá conta da tramóia de Ann Kay. Agitado, vai a uma casa noturna com o embaixador, é reconhecido por todos que acabavam de vê-lo na TV e dá dezenas de autógrafos, mostrando já naquela época o poder televisivo de criar celebridades instantâneas. Fim da segunda parte.




A fama conseguida involuntariamente no programa de Ann Kay faz com que Shadov seja perseguido durante uma semana por agentes de publicidade, interessados em contratá-lo para comerciais de TV. Ann Kay vai ao hotel e é tratada com frieza por Shadov. Não obstante ela lhe entrega um cheque de 25 mil dólares mandado por Mona Cromwell, por sua participação no jantar. Ele rasga o envelope, mas quando se dá conta de que o dinheiro dele e de Jaume acabou, pega os pedaços no cesto de lixo e ordena ao embaixador que telefone à Mona Cromwell e agradeça pelo cheque. A fim de melhorar um pouco sua imagem pública depois de aparecer na festa de Cromwell, Shadov faz uma visita de cortesia a uma Escola Progressiva. Ao invés de garotos exercitando sua sensibilidade e seus talentos, o rei vê um bando de moleques mal-criados e indisciplinados. O menino desenhista o presenteia com um desenho obsceno. O escultor tem maus-bofes e ignora o rei, e o cozinheiro faz doces e mete a mão na massa tranqüilamente, mesmo depois de ter enfiado o dedo no nariz. Shadov assiste a tudo isso horrorizado e por todo caminho é azucrinado pelas crianças, que lhe atiram bolinhas de papel com zarabatanas. É apresentado ao menino Rupert, que está sozinho lendo um livro de Karl Marx.

Pai e filho: o maravilhoso embate entre
 Shadov (Chaplin) e Rupert (seu filho Michael)
Shadov fica intrigado e pergunta se o menino é comunista. O garoto responde, seco: “Do I have to be a communist to read Karl Marx?” O rei a princípio gosta da irreverência do menino e os dois começam a conversar sobre formas de governo, só que o assunto empolga Rupert e ele despeja uma verdadeira cantilena anarquista sobre o rei, impedindo-o de falar. Era uma cena importante, porque Chaplin desejava transmitir a um tempo 1) o ridículo de toda esse debate entre capitalismo e comunismo, e 2) a premência de se permitir o debate sobre o assunto e a liberdade ideológica, justamente para que a juventude não se perdesse no radicalismo de Rupert. Michael Chaplin foi brilhante em seu papel e sua esgrima verbal com o pai é antológica. Infelizmente há um problema: Michael decorou os dois papéis, o dele e o de Shadov, para não se perder entre as deixas, já que o diálogo é muito rápido. Conseqüentemente, há takes em que vemos Rupert murmurar as réplicas de Shadov, defeito que não retira o brilho da cena, mas teria sido facilmente evitado na edição ou no enquadramento individual de ambos, em algumas partes do diálogo. Enquanto os dois discutem, os outros garotos roubam o chapéu de Shadov e o transformam em um bolo, no qual o rei se senta, quando desiste de tentar falar com Rupert. O rei vai embora com a pior das impressões tanto da escola quanto dos alunos.

"Thank you, Melrose, Royal Crown Whisky I always enjoy"...

Às voltas com a falta de dinheiro, o rei reata sua amizade com Ann Kay e seus métodos pouco sutis de publicidade. Ele acaba aceitando o contrato para fazer um comercial do “Royal Crown Whisky”. É outra das cenas memoráveis do filme. Durante o ensaio tudo corre às mil maravilhas, Shadov dá facilmente as falas idiotas de seu texto, mas quando a transmissão – ao vivo – começa, ele engasga com a bebida e começa a estrebuchar em frente às câmeras. Ao contrário do que se podia imaginar, o comercial se torna um sucesso absoluto, o público acredita que aquele havia sido um sketch cômico para vender whisky e Shadov se torna um disputado garoto-propaganda.

Lágrimas de riso: Shadov e sua
tenebrosa plástica rejuvenescedora
Outro de seus contratos é para anunciar hormônios, o que dá ensejo para uma das melhores idéias do filme. Ann Kay se queixa de que Shadov não tem o rosto suficientemente jovem para anunciar hormônios, e sugere que ele faça uma plástica para eliminar papadas, bolsas debaixo dos olhos, e coisas assim. A idéia veio de uma situação enfrentada por Jerry Epstein. O assessor de Chaplin era horrendo, tinha um nariz enorme mas caiu na conversa de um ator que prometia colocá-lo em seu próximo filme se ele fizesse uma plástica no nariz. Jerry quase aceitou, mas quando o cirurgião começou a fazer o molde pré-operatório do nariz com gesso, ele teve um ataque de pânico e fugiu do consultório.

Chaplin levou sátira e mensagem à perfeição. No plano cômico, sua plástica é das coisas mais maravilhosamente ridículas e hilárias já vistas no cinema. Seu nariz é empinado e seu lábio posterior fica erguido, o que o faz parecer um rato. Ann Kay dá um berro e quase desmaia quando o vê pela primeira vez, assim como Jaume, que sai correndo, aterrado, com o braço cobrindo o rosto. Além disso, ele é proibido de rir pois a operação é recente e há o perigo dele soltar os pontos e desgrudar todo o tenebroso processo cirúrgico que escondeu suas imperfeições. Só que Shadov fica deprimidíssimo com sua aparência e Ann Kay tem a desastrada idéia de levá-lo a uma casa noturna onde há performances de cantores e comediantes, para animá-lo. O sketch cômico na casa noturna é Chaplin em seu elemento. Um operário apalermado e atrevido precisa colar alguns papéis de parede e acaba infernizando a vida de um casal que está por perto. A cena é muda, o operário é um Carlitos contemporâneo e todos se divertem. Shadov assiste sério, a princípio, mas aos poucos vai se rendendo ao humor. Só que não pode rir, então toma o máximo cuidado para não gargalhar, o que se torna impossível, com o desenrolar do sketch. Ele acaba perdendo o controle e gargalha, soltando todos os pontos da operação plástica. De volta ao cirurgião, readquire seu rosto antigo e enrugado, com o maior prazer. Fim da terceira parte.


A operação plástica de Shadov – até onde sei – foi a primeira vez em que um cineasta ridicularizou abertamente a necessidade de permanecer jovem e ter um rosto perfeito, no cinema. Correções de nariz e de dentes eram comuns já naquela época (estrelas como Marilyn Monroe só se tornaram verdadeiramente bancáveis depois de passar pelo bisturi) mas ninguém nunca se atrevera a apontar o holofote para isso. Chaplin, como sempre, foi o primeiro.

A quarta e última parte do filme mostra o reencontro de Shadov e Rupert. O rei vê o menino em frente a seu hotel, em meio a uma nevasca, ensopado e tremendo de frio. Ele diz, inicialmente, que “se formou”, mas Shadov percebe a mentira e leva o menino para seu quarto, no hotel. O menino então confessa que fugiu da escola porque queriam interrogá-lo sobre seus pais. Perguntado se é comunista, Rupert afirma que é. Shadov recorda que o menino dissera no encontro anterior de ambos que não gostava de nenhuma forma de governo, considerando-as “an official form of antagonizing the people”. O garoto então dá uma resposta lapidar, perfeitamente coerente com o espírito de caça às bruxas que contaminava o país: “I do, but I’m so sick and tired of people asking me if I’m this, if I’m that, so then if it pleases everybody, I’m a comunist!” Para não despertar suspeitas sobre sua presença no quarto de Shadov, o menino diz aos funcionários do hotel que é sobrinho do rei. E é nesse ínterim que a comissão atômica faz uma visita ao monarca, para conhecer seus planos de utilização da energia nuclear. Shadov e Jaume vão ao banco buscar os planos e os três velhos da comissão entram no quarto de hotel e ficam sozinhos com Rupert, exatamente o que o rei e seu embaixador queriam evitar, conhecendo o pavio curto do menino para discussões políticas.

Acontece o que se imagina. Um dos velhos pergunta inocentemente sobre a educação do menino, que ele acredita ser sobrinho do rei, e Rupert inventa uma história hilária sobre a briga do rei e de seu pai, e as circunstâncias que o levaram a ficar nos EUA, “the land of the free and the home of the brave”. Como sempre, se empolga em meio à sua retórica inflamada e faz um verdadeiro libelo contra o Comitê de Atividades Anti-americanas: “But today that freedom is threatened. Commitees are searching men’s minds, are controlling their thoughts, and those who have the courage to stand up for their rights are boicoted, lose their jobs and are left to starve!” Falas que poderiam ser de Chaplin, todas elas, e Michael dá um show de interpretação: “They’re condemned without trials! Such procedure debases the legality of our courts which says that no state may deprive any person of life, liberty, freedom of speech without due process of law!” Quando Shadov e Jaume finalmente voltam com os planos, Rupert está de pé, como um prisioneiro, entre os velhos, sendo sabatinado. Um deles joga-lhe a deixa perfeita, dizendo que o acusaria perante as autoridades, se ele não fosse um garoto. Chaplin lava sua alma e a alma de todos os perseguidos pelo macartismo e pelo CAA através de Michael, que se supera na réplica, sensacional: “All right, report me! Make me give names! Make a snivelling stool pigeon out of me! Brain wash me! But you can’t! They couldn’t brain wash the signers of the declaration of independence, and you can’t brain wash me!

Por essas últimas duas cenas – na casa noturna e no quarto de hotel de Shadov – Um Rei em Nova York já mereceria figurar não só entre as melhores comédias de todos os tempos, mas entre os grandes filmes políticos feitos até então. Assim como foi em O Grande Ditador, Chaplin teve a coragem de espicaçar o CAA enquanto ele ainda existia e continuava fazendo vítimas nos Estados Unidos.

Audiência da Comissão de
Atividades Anti-Americanas

Quando os velhos da comissão atômica vão embora (sem fechar qualquer negócio com Shadov, pois já tinham planos semelhantes), o rei e Rupert vêem pela televisão que os pais do garoto foram presos por não revelar nomes no CAA. Ao mesmo tempo um funcionário da escola localiza Rupert no hotel do rei e vai buscá-lo. Shadov promete ir visitar o menino no dia seguinte. No meio tempo, a mídia descobre que o filho do casal recentemente preso estava escondido no hotel do rei e, sem notícias interessantes para veicular, inventam que Shadov tem ligações com os comunistas. O rei é imediatamente intimado a comparecer à CAA.

Pequeno equívoco: nos jornais o nome do rei é
grafado com H depois do A, ao contrário dos
 créditos finais do filme, que trazem
 simplesmente o nome "Shadov"
É a última patada de Chaplin nos norte-americanos: a caminho do tribunal, Shadov prende o dedo sem querer em uma mangueira e é obrigado a levá-la consigo até lá, para não se atrasar. Os guardas na ante-sala vêem a mangueira solta e pensam que há um incêndio no tribunal. Conectam a mangueira a uma torneira e Shadov dá um banho nos inquiridores, transformando o CAA naquilo que de fato era: um circo.

O mal-entendido é desfeito e Shadov é inocentado. De qualquer forma, ele resolve ir embora do país antes que mais alguma maluquice aconteça. Em seu último encontro com Ann Kay, a publicitária pede que ele fique. Shadov responde: “It’s too crazy here”. Kay replica por todos os norte-americanos que não compactuavam com a nojeira do CAA: “Don’t judge by what’s going on today, it’s just a passing fase, very soon it will all be over”. Ele decide ir para Paris encontrar-se com a rainha, que não pediu o divórcio, no fim das contas. Mas antes cumpre sua promessa de visitar Rupert na escola progressiva. É a cena mais marcante e dolorosa do filme.

Um dos diretores conversa com Shadov antes do garoto entrar e comenta que Rupert está bem melhor, agora que os pais foram libertados, o que significa que o menino cooperou com as autoridades e deu os nomes que os pais se recusavam a dar. Rupert entra silencioso e abúlico. As autoridades não conseguiram fazer uma lavagem cerebral, mas quebraram seu espírito. Ele abraça Shadov aos prantos, e o rei promete que mandará buscar a ele e a seus pais assim que aquele clima horrendo de perseguição terminar. A cena final mostra Shadov e Jaume dentro do avião, indo embora. Chaplin pretendia fazer um take da Estátua da Liberdade, vista de dentro do avião, se distanciando cada vez mais, até desaparecer. Uma idéia boa, que Chaplin preferiu descartar. O filme inteiro era um grito pela liberdade ideológica e de expressão; não era necessário repisar a coisa, no fim.


Um Rei em Nova York foi lançado em setembro de 1957 na Inglaterra e mais um punhado de países na Europa. O sucesso foi relativo. Executivos da United Artists se recusaram sumariamente a distribuí-lo nos Estados Unidos. Na Inglaterra a crítica foi favorável, mas infelizmente o público inglês não tinha uma noção tão profunda do que era o CAA. Não queriam saber. Eram questiúnculas norte-americanas às quais os britânicos davam de ombros. À imprensa, Chaplin fez questão de declarar: “Meu filme não é político. É uma sátira. Um palhaço satiriza”. O renomadíssimo dramaturgo J. B. Priestley não regateou elogios ao cineasta: “Me parece que Chaplin conseguiu algo muito difícil, como já fizera em Tempos Modernos e O Grande Ditador. Ele transformou palhaçadas em sátira social e crítica, sem perder sua extraordinária habilidade de nos fazer rir”. O poeta C. Day Lewis foi outro a tecer belíssimos elogios ao filme. Um Rei em Nova York, porém, só gozou da fama que merecia, mesmo, quando foi relançado, já na década de 70, inclusive nos Estados Unidos. Jerry Epstein foi quem descreveu melhor a situação: “Os jovens [na época do relançamento] ficaram surpresos com a audácia do filme. Não o acharam controverso, só engraçado. Chaplin simplesmente estava 20 anos à frente de seu tempo”.

Dawn Addams, anos depois

Seja pela controvérsia, pela dificuldade de encontrar um outlet adequado para suas novas idéias, ou porque já estava com 68 anos e uma penca de filhos pequenos, Chaplin passou os anos seguintes relançando seus filmes mudos com uma nova trilha sonora composta por ele, e só voltaria a escrever e dirigir dez anos depois, em A Condessa de Hong Kong.

Dawn Adams se separou do príncipe Vittorio Massimo em 1958. Teve uma carreira apagada e morreu de câncer em 1985. Oliver Johnston, o embaixador Jaume, morreu em 1966 e um de seus últimos papéis foi na Condessa de Hong Kong. Jerry Desmonde se suicidou em 1967. Maxine Audley trabalhou até o fim da vida, em 1992.

Michael, hoje em dia
Michael Chaplin viveu, em Um Rei em Nova York, seu flerte com a fama cinematográfica. “O momento mais feliz de minha infância”, disse ele recentemente, “foi quando tive a chance de trabalhar com meu pai no filme Um Rei em Nova York nos estúdios Shepperton. Eu tinha apenas dez anos mas foi a primeira vez que senti ter compartilhado algo com meu pai. Ele trabalhou comigo, ensaiou minhas falas e me dirigiu. Fomos próximos, um do outro, por um breve momento”. As relações com o pai degringolaram poucos anos depois. É preciso manter em perspectiva que quando Michael estava com 15 anos, em plena adolescência, Chaplin tinha 72. Como o próprio Michael comentou, sobre uma pescaria dos dois, “era tarde demais para fingir que éramos melhores amigos”. Aos 16 anos ele fugiu de casa e se casou, sem a benção paterna. Em 1966, aos 20 anos, sem um puto no bolso, vivendo como um hippie, em meio a nuvens de maconha, o psicodelismo, uma carreira musical estéril e toda a maluquice da época, escreveu um livrinho chamado Não podia fumar maconha no gramado do meu pai, dando alguns detalhes sobre crescer na família Chaplin. O livro era um reles caça-níqueis e não marcou época. Hoje, aos 64 anos, casado pela segunda vez e pai de sete filhos, Michael cuida do espólio paterno e tem uma visão bem mais madura sobre Chaplin: “Todos os ressentimentos e arrependimentos que tive já passaram. Por muitos anos tive raiva dele mas hoje sei que realmente o amo. Não era fácil viver com ele mas ele era meu pai e é só o que importa. Eu deveria tê-lo amado mais”.

Um país pede desculpas: Chaplin recebe oscar honorário em 1972

No fim dos anos 50, Eisenhower chegou a sondar amigos e assessores de Chaplin sobre a possibilidade dele voltar aos EUA. Ciente do fato, o cineasta declinou quaisquer convites. Uma década mais tarde os convites reapareceram. O macartismo era página virada, uma vergonha para os norte-americanos e Chaplin, octogenário, começava a assumir foros de lenda viva. Seus filmes antigos, restaurados e relançados com as trilhas sonoras que ele compunha, vinham conquistando toda uma nova geração de admiradores. Era hora dos EUA darem o braço a torcer e pedir desculpas ao mestre pioneiro. Ele aceitou receber uma homenagem no Lincoln Center, em Nova York. Era a primeira vez que pisava em NY em 20 anos. Foi uma gritaria. Chaplin foi recebido como um semi-Deus. Aos gritos de “Charlie, we love you!!”, ele respondeu, hilário, “They loved Kennedy too...”. Na última hora aceitou o convite para receber um Oscar, na cerimônia daquele ano. Em abril de 1972, a academia lhe deu um prêmio honorário, “pelo efeito incalculável que ele tem alcançado em transformar os filmes na forma de arte deste século”. Em suas memórias, Claire Bloom conta ter ouvido de Oona O’Neill a história de que enquanto recebia o Oscar e a inaudita ovação de vários minutos, Chaplin dizia para si mesmo: “Fuck you, and fuck you, and fuck you”.

Curioso que os ingleses também foram, de certa forma, omissos em relação a Chaplin. Seu título de sir – pouquíssimo, considerando sua contribuição para a humanidade – só veio em 1975, quando ele já estava numa cadeira de rodas. Não veio antes porque a coroa britânica teve medo de premiar Chaplin nos anos 30 ou 40, quando ele esteve às voltas com escândalos de paternidade e envolvimento com mulheres menores de idade.

Chaplin morreu em 25 de dezembro de 1977, aos 88 anos. Oona morreu apenas 14 anos depois, em 27 de setembro de 1991, aos 66 anos.
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BIBLIOGRAFIA:

PARTE 1 deste artigo
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