Fui fã de Michael J. Fox durante toda a década de 80. O canadense, que nasceu em 1961 mas teve sempre cara de garoto não foi apenas o protagonista de uma trilogia maravilhosa que encantou toda uma geração, Back to the Future, mas também trabalhou ou namorou (em alguns casos, ambos) com todas as atrizes por quem tive paixões violentíssimas na época, como Justine Bateman, Nancy Mckeon, Elisabeth Shue, Helen Slater, Annabella Sciorra, Phoebe Cates, Julie Warner... Na telona Fox viveu todas as minhas fantasias adolescentes. Na telinha encarnava o perfeito alter ego para um nerd como eu: o braniac Alex Keaton, no sitcom Family Ties. O seriado era a quintessência da pieguice e caía em todas as armadilhas do sentimentalismo barato. Fox, porém, foi sempre tão carismático que nem mesmo os múltiplos defeitos de seu preconceituoso e reacionário Alex conseguiram afastá-lo da bem-querença do público. O personagem era de um garoto culto e de QI acima da média, e que era ao mesmo tempo um cretino arrogante e atrapalhado, mas Fox o interpretava de maneira tão suave, tão cool, tão charmosa na simplicidade com que destratava e fazia pouco das pessoas, que era impossível não gostar dele. No âmbito pessoal se portava discretamente e jamais teve sua vida exposta em cores sensacionalistas na imprensa. Era tão normal que chegava a ser raro.
Fox em Bright Lights Big City, 1988 |
Como ator me impressionou uma única vez: em Bright Lights Big City, último filme do diretor James Bridges. Arrebentando a pauladas todo e qualquer estereótipo de bom moço, Fox interpreta um publicitário mauricinho viciado em cocaína, nos estertores da dor de corno provocada pelo abandono de sua ex-mulher. Uma performance digna, pelo menos, de uma indicação ao Oscar. Mas com toda sua fama e toda sorte na carreira, Fox carregava um estigma duplo: ser o herói de uma trilogia adolescente e protagonista de um seriado bobinho que ficou no ar durante sete anos. Na panelinha de Hollywood ele teria que envelhecer, engordar, emagrecer, fazer papel de aidético, deficiente mental ou participar de mais uns três ou quatro filmes do mesmo teor dramático e performático para que os membros da academia começassem a considerá-lo. Ele preferiu o caminho mais simples: voltou à TV em 1996 com o seriado Spin City, no qual interpretava o assessor do prefeito de Nova York. É a essa altura que entro no tema deste artigo.
Fox e Barry Bostwick em Spin City |
Vezes houve, quando assisti aquele seriado (que não me cativou, e até hoje não o assisti inteiro), que me irritei com o jeito estranhamente tenso com que Fox atuava. Ele vivia fidgety, não parava quieto. Achava isso um maneirismo tosco e equivocado do ator, e não compreendia como ninguém lhe dizia nada. Em 1998, eu e o resto do mundo compreendemos, finalmente: ele sofria do Mal de Parkinson e sua incapacidade de parar quieto nada mais era do que um dos efeitos mais insidiosos da doença. Nunca esqueço seu colega de elenco Richard Kind, se penitenciando publicamente por ter criticado Fox e suas numerosas licenças durante as gravações de Spin City, que ele inicialmente achou que eram fruto do estrelismo do ator, e que só naquele momento verificava ser uma moléstia grave. No ano 2000, completado o centésimo episódio, ele deixou a série e no mesmo ano fundou The Michael J. Fox Foundation for Parkinson’s Research. Também não o esqueço em entrevista dada na mesma época, comentando o quanto tinha sido difícil gravar os últimos episódios do seriado, com a saúde tão debilitada.
No senado, 1999 |
Desde então ele vem se dedicando à fundação, a seu tratamento e a trabalhos esporádicos no cinema e na TV. Há momentos de humor, como a história que contou a David Letterman, anos atrás, sobre ter cogitado dar o nome de "PD Cure" à fundação, utilizando a abreviatura de "Parkinson's Disease", mas que lido em inglês também pode soar como "pedicure". Mas há momentos extremamente fortes, como a ocasião em que leu no senado norte-americano um manifesto solicitando maior investimento do governo nas pesquisas pela cura da doença, e o fez sem tomar qualquer remédio, tremendo convulsivamente enquanto lia o discurso. Fosse como fosse, Fox se desvestiu de sua fama hollywoodiana e virou porta-voz da necessidade de se encontrar uma cura para o Parkinson. O carinho pelo ator e os filmes inesquecíveis de nossa juventude se transformaram na mais profunda admiração pelo trabalho hercúleo, dolorido e corajoso que ele passou a encetar em nome de uma pesquisa que precisava de sólido subsídio governamental e privado.
Ele nunca parou de trabalhar, mesmo nos períodos agudos da doença. Fez participações em inúmeros seriados e em 2013 protagonizou seu terceiro sitcom, "The Michael J. Fox Show", sobre um âncora de telejornal que acaba de ser diagnosticado com Parkinson. O projeto teve vida curta mas serviu especificamente para que o público se conscientizasse cada vez mais sobre a doença. Considerado pelo New York Times the most credible voice on Parkinson’s research in the world, Michael entrou há poucos dias para o Hall of Fame dos "Heróis da Saúde" de uma organização norte-americana chamada WebMD. Ele agradeceu em entrevista à jornalista Robin Roberts e conquanto não pudesse estar presente ao evento que o homenageou, ele mandou uma mensagem ao público.
Fox foi meu ídolo de juventude. Por tudo que era como ator. E hoje, trinta anos depois, continua sendo meu ídolo. Por tudo que é como ser humano.
Eis o texto da WebMD sobre Fox, e os videos no qual fala sobre a doença:
Michael J. Fox
Hall of Fame Health Hero
When WebMD set out to present its very first Hall of Fame Health Hero award, the choice was not difficult. For the past 16 years, Michael J. Fox has been a tireless advocate for Parkinson's disease awareness and research. He launched one of the world's leading Parkinson's foundations, which has raised millions of dollars to help wipe out this devastating disease. We deeply admire Mr. Fox's significant contributions as an activist, philanthropist, and "honorary scientist" in raising awareness and supporting expanded research for Parkinson's disease. We wish to highlight the work he and the foundation have done to support patients and families living with the disease and to successfully develop and manage a groundbreaking approach to biomedical research.
Fox learned he had Parkinson's in 1991, when he was just 30 years old and at the height of his acting career. He'd recently finished a successful run as Alex P. Keaton in the popular sitcom Family Ties and had starred in three Back to the Future movies. In 1998, Fox revealed his condition to the public. Two years later, he stepped down from his role on the Fox network series Spin City to devote his time to Parkinson's advocacy.
Later that same year he launched the Michael J. Fox Foundation for Parkinson's Research, which the New York Times has since called "the most credible voice on Parkinson's research in the world." Thanks in large part to Fox's unwavering dedication to the cause, his organization has raised more than $450 million to fund Parkinson's research. The foundation has also supported the development of groundbreaking treatments, working with pharmaceutical companies to develop new drug compounds, and to speed these new therapies to market through clinical trials.
Over the years, Fox has provided hope -- and help -- to millions of Americans with Parkinson's disease and other neurological conditions. Despite living with a chronic illness, he has remained ever positive. As he wrote in his memoir, Always Looking Up: The Adventures of an Incurable Optimist: "For everything this disease has taken, something with greater value has been given -- sometimes just a marker that points me in a new direction that I might not otherwise have traveled."
For all of these reasons, Michael J. Fox is the true embodiment of a WebMD Health Hero and deserving of our inaugural Hall of Fame Health Heroes award.
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The Michael J. Fox Foundation for Parkinson’s Research:
https://www.michaeljfox.org/
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