sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Comentário rápido sobre ante-ontem



O que aconteceu ante-ontem em Washington foi uma página negra na história dos Estados Unidos e de todas as democracias ocidentais. Durante os últimos dois anos Bill Maher buzinou em seu programa que Trump não sairia da Casa Branca, ganhando ou perdendo. A profecia acabou caindo no vazio pelo excesso de sua repetição. Ontem, entretanto, vimos sua concretização. E vimos também do que é capaz essa tropa de depravados, inescrupulosos e imbecis que vota em Trump. Protagonizaram uma invasão que é um espelho de quem a idealizou e incitou: caótica, criminosa, e acima de tudo, ridícula. Perucas de touro, bandeiras confederadas, selfies com policiais, roubo de púlpitos e toda a burrice oceânica que caracteriza esse rebotalho da humanidade que Hillary Clinton tão inspiradamente denominou "basket of deplorables". Como cereja desse bolo humano macabro, uma trumpista de carteirinha, veterana das Forças Armadas, foi baleada e morreu. Outras três pessoas morreram na barafunda. Parabéns a Trump e seus deplorables.

Sempre tive a mais perfeita noção do cafajeste tapado, imoral e oportunista que é Trump. E do quanto seria perigoso elegê-lo simplesmente pela piada. Porque a piada pode ter sua graça quando é contada na televisão e o bobo da côrte não passa disso: um bobo da côrte. Mas quando o cetro do reino é entregue ao bobo, a graça termina. A ascensão de Trump à presidência norte-americana pôs a descoberto a fragilidade dessa democracia de duzentos anos, tão respeitada e tão emulada. Pôs a descoberto a fragilidade de instituições que o país por décadas não se atreveu jamais a questionar. E pôs a descoberto a confiança que os norte-americanos têm na segurança dessas instituições. Foi chocante ver o Capitólio, centro da vida legislativa de Washington, ruindo como um castelo de cartas diante da primeira investida dos idiotas pró-Trump. Imaginávamos que ao menor rebuliço, um tiro de tanque reduziria todo mundo a pó. Não foi bem assim. É tanta a confiança de que ninguém jamais se atreveria a invadir o Capitólio (incólume desde 1814) que a segurança parecia ser feita pelos Keystone Cops, ou por uma equipe de guardas de trânsito, completamente inermes diante da baderna.

Curioso, também, que o termo "república de bananas", tão comumente associado a nós pelos norte-americanos, tenha sido usado por eles para caracterizarem-se a si próprios. A presença de Trump e sua camarilha no mais alto escalão do governo é a prova de que - assim como no Brasil - quando o povo elege de maneira irracional, movido pelo ódio ou pelo radicalismo, incide-se no erro funesto de deixar o hospício nas mãos dos loucos, ou, pior ainda, de entregar a chave do cofre nas mãos dos bandidos. Vemos isso acontecer no Brasil há dezoito anos. Nos Estados Unidos, porém, a culpa não é do povo: W foi derrotado em seu primeiro mandato e Trump foi derrotado nas duas vezes em que concorreu. Só chegou ao Salão Oval por causa do Colégio Eleitoral.

Não é necessário ser pitonisa para saber que Bolso - sendo uma cópia piorada de Trump - vai tentar a mesma coisa, ou ainda pior, no Brasil, em 2022. E haverá embate entre dois exércitos de bucéfalos: bolsoafetivos e viúvas ensandecidas do lulopetismo. Espero que aqueles que não comungam com nenhum desses dois movimentos asquerosos se unam em busca de uma alternativa.

2 comentários:

  1. Ainda tem o livro do Janio para vender? Meu avô era primo do Janio.

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    1. No topo da página vc verá a capa do livro, escrito "CLIQUE NA FOTO E COMPRE AGORA!"

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