O velho comemoraria 100 anos hoje. Já pensei inúmeras vezes sobre qual seria sua reação a tudo que vem acontecendo politicamente, nos últimos tempos. É exercício de pura hipótese, e dos mais ingratos, pois Jânio não era exatamente uma pessoa previsível.
Meses depois de sua morte, no início de 1992, o presidente cuja eleição ele apoiou sofreu o impeachment; o Brasil passou a década seguinte sob FHC, a quem Jânio admirou no começo e deplorou em seguida, impingindo-lhe acachapante derrota.
Na aurora do novo século o PT ascendeu ao poder. O PT que Jânio elogiou e tratou com o maior carinho desde sua fundação, e que incluía em seus quadros alguns políticos janistas ou saídos de hostes janistas, como Plínio e Hélio Bicudo. O carinho não foi recíproco. Lula e José Dirceu rechaçaram qualquer aproximação e rejeitaram Jânio.
Acredito que Jânio teria ficado ao lado do povo. Acredito que teria transcendido suas opiniões pessoais e votado em FHC em 1994 e 1998; teria apoiado Lula em 2002, se rebelado contra o mensalão, apoiado Geraldo em 2006, Marina em 2010 e Aécio em 2014.
Apoiaria manifestações populares pacíficas como as que levaram ao impeachment de Dilma e condenaria com veemência aquelas onde há qualquer tipo de vandalismo. Assim como condenaria a falta de firmeza de governantes que permitiram invasões e ocupações que redundaram em ócio e depredação de faculdades e secretarias de Estado.
Não sei até onde teria se identificado com Clinton. Talvez em 1992, contra Bush pai, mas não estou certo quanto à reeleição contra Bob Dole. É possível que sim, pois creio que sua ideologia do momento seria a do neo-liberalismo preconizado pelos democratas norte-americanos.
Jânio acompanharia a guinada do mundo para a esquerda. Apoiaria Al Gore em 2000, John Kerry em 2004 e - com a autoridade e a benemerência de quem nomeou o primeiro embaixador negro de nossa história - soltaria fogos nas duas eleições de Obama. Com Trump seria cauteloso, como costumava ser com ditadores. Publicamente elogiaria a idéia de um empresário na presidência e acharia certa graça no moralismo falso de alguém tão fundamentalmente imoral em sua vida pessoal. E intimamente lamentaria a burrice dos eleitores norte-americanos.
Teria adorado os rasgos de autoritarismo de Joaquim Barbosa, teria ignorado a existência do PSOL como um todo, teria aceito a admiração de Bolsonaro sem, entretanto, retribuí-la de forma nenhuma, elogiaria copiosamente Sérgio Moro, apoiaria ferrenhamente a Lava-Jato estando seus colegas envolvidos ou não em trampolinagens e apoiaria João Dória para a prefeitura, irritado com a proliferação de ciclofaixas caras e inúteis e horrorizado com a degradação de seus amados arcos na 23 de maio.
Jânio estaria se divertindo horrores.
Saudades do velho. Ele faz muita falta em nossa política.
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Jânio - Vida e Morte do Homem da Renúncia
Vol I: "Um Moço Bem Velhinho"
Bernardo Schmidt
Editora O Patativa
350 pgs ilustradas
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Veja também:
Parabéns pelo livro, assisti sua entrevista com o Jô Soares. Minha monografia de pós graduação, foi sobre Jânio Quadros, fui orientado na época pela Professora Vera Chaia, que escreveu sua tese de doutorado sobre Jânio Quadros.
ResponderExcluirSou de Nova Odessa - SP, atualmente moro em Campinas - SP, tenho interesse junto com a cidade de Nova Odessa, fazer uma homenagem ao ex presidente, já que quando minha cidade natal virou município, ele era o governador que assinou o decreto emancipando Nova Odessa da cidade de Americana - SP.
http://www.novaodessa.sp.gov.br/Historia.aspx
Em trinta e um de dezembro de 1958, o Distrito de Nova Odessa foi elevado a Munícipio.
O Governador do Estado de Säo Paulo era Jânio Quadros.
A trinta e um de dezembro de 1958, pela Lei Estadual nº 5.121, Nova Odessa é elevada a Município.
Abraços, sucesso e parabéns !
Mateus Tognella